Continua a luta dos anti-políticos. Agora circula pela Internet um e-mail convocando as pessoas para uma manifestação que querem que reúna um milhão de pessoas em Lisboa, pela demissão da classe política portuguesa.
Já recebi várias vezes e não passei nem passarei a nenhum dos meus contactos. Tenho a certeza que quem anda a enviar estes e-mails são aqueles que se sentem arrependidos pelo seu voto nas eleições. Não é o meu caso. Nunca me arrependi de nenhuma das escolhas que fiz em eleições, logo não tenho que querer a demissão da classe política. Se essa classe política é incompetente será por culpa dos que votaram neles e não por culpa minha.
Sei, também, que estes hipotéticos protestos têm bastante eco junto dos nostálgicos do antigo regime, que gostam muito destas coisas. Ao dizer-se mal da classe política (como eles lhe chamam) está, indirectamente, a dizer-se bem do regime salazarista onde ninguém era político (segundo eles dizem). Mas aqui é bom que se diga aos nostálgicos que Salazar foi eleito deputado, no tempo da I República, pelo círculo eleitoral de Guimarães, integrado numa lista de católicos, quando ele era natural de Santa Comba Dão e estudou em Coimbra, nada tendo a ver com a cidade-berço. Disto, no entanto, eles não falam.
Aliás, eu próprio me considero um político (e faço gala de o ser), pelo que não seria lógico eu contribuir para esse «peditório». Bem sei que os que enviam estes e-mails são aqueles que se dizem não políticos e andam nos cafés a discutir a «bola». Não é, também, o meu caso. Discussões de «bola» passam-me ao lado.
Claro que aparecem logo, também, aqueles que acham que não se sentem representados pelo deputado x ou y e queriam ser eles a escolher o deputado. Não me interessa isso, interessam-me as políticas que os deputados defendem. Para mim escolher entre o deputado x ou y do PSD ou o deputado x ou y do PS era igual ao litro. Ainda esta semana os deputados do PS e os do PSD dançaram o tango na Assembleia da República, votando contra um projecto-lei do CDS sobre os vencimentos dos gestores públicos visando limitar as suas remunerações, ou seja obrigando-os a, também eles, pagarem a crise. Ou só os outros é que têm que pagar a crise? A favor só votaram o BE e o PCP, por entre acusações do «Bloco Central» de demagogia e populismo (claro!!!).
Frank Zappa, um músico norte-americano de Pop/Rock, falecido em 1993, que chegou a ter intenções de se candidatar a Presidente dos Estados Unidos, nunca negou que era um político. Chegou a incentivar os seus fãs a registarem-se para votar e, inclusivamente, colocou cabines para registo de eleitor nos seus concertos. Não deixa de ser irónico ler o que dizia ele em 1973:
«É urgente usufruir o máximo desta sociedade, baseada num governo democrático, interessado, realmente, na vontade popular. Na minha opinião, falar-se, hoje em dia, em democracia é arriscar uma resposta irónica. Porque as pessoas que afirmam governar democraticamente perderam todo o sentido com o Povo que representam.
Por outro lado, aparecem várias pessoas que não compõem o Governo, que apostam na defesa de determinadas coisas vistas sob um prisma pessoal e que significam proveito próprio. Esses intrusos deviam ser afastados da [órbita] do Governo, já que o que elas pretendem nada significa para o Povo. Porém a influência dessas pessoas é notória e pesam muito nas decisões governamentais. É uma situação lamentável.»
Estas afirmações proferidas em 1973 descrevem, quanto a mim, a situação vivida em Portugal, actualmente. O que, realmente, está a mais são as pessoas que andam na órbita dos Governos, que não foram eleitas nem mandatadas por ninguém (como muito bem escreve nas suas crónicas o António Emídio) e que conseguem influenciar, sempre, em proveito próprio, as decisões governamentais.
Note-se, também, que estas afirmações de Frank Zappa foram produzidas antes da Revolução do 25 de Abril de 1974, quando o Povo português teve hipóteses de fazer História. Foi, aliás, a única vez que teve essa hipótese no século XX. Não aproveitou a oportunidade porque a primeira coisa que fez foi escolher o regime político que, agora, temos, onde os tais da órbita do Governo (digamos o poder económico) influenciam para que as políticas sejam a seu favor.
Do que se queixam, afinal, esses portugueses? Não têm o que queriam?
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«Política, Políticas…», opinião de João Aristides Duarte
João Duarte: a extrema direita avança inexoravelmente por esta Europa, Portugal não vai ser uma excepção.