Um dos concertos mais polémicos de todos os tempos, no concelho do Sabugal, teve lugar no dia 22 de Junho de 1990, no Castelo do Sabugal. Efectivamente, foi nesse local que se realizaram as Festas de São João de 1990.
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Carlos do Carmo é um nome incontornável do Fado e da canção ligeira (chamemos-lhe assim) de Portugal. Cantou em locais tão míticos como o Olympia, de Paris, as Óperas de Frankfurt e Wiesbaden, o Canecão, do Rio de Janeiro e noutras salas de espectáculos em Sampetersburgo, Helsínquia, Copenhaga, etc., etc.
Em Portugal conseguiu quase encher o Pavilhão Atlântico no seu concerto de tributo a Frank Sinatra, o que pode ser considerado um feito.
Actualmente o seu último CD (em dueto com Bernardo Sassetti) encontra-se em 18.º lugar no Top de vendas e é já Disco de Ouro.
Apesar das credenciais, que têm origem nos anos 60, do século XX, Carlos do Carmo não teve qualquer problema em actuar no palco do Sabugal, instalado no Castelo, numa organização da Comissão de Festas desse ano. Referiu, mesmo, durante o espectáculo do Sabugal que, para ele, era a mesma coisa cantar no Olympia, em Frankfurt ou no Sabugal.
Segundo informações que, posteriormente, recolhi, a equipa de Carlos do Carmo jantou no restaurante das Festas, tendo declinado o convite para se dirigir a um restaurante da (então) vila.
Lembro-me bem de ter ido assistir a esse concerto e de, quando o espectáculo estava prestes a iniciar-se, enquanto os guitarristas afinavam os instrumentos; uma parte do público começar logo a assobiar.
No fim do primeiro número, Carlos do Carmo referiu que era com grande honra que estava no Sabugal, onde nunca tinha actuado e fez um grande elogio à Comissão de Festas, extensivo a todas as outras do país, sem as quais não seria possível aos artistas portugueses sobreviver.
Acompanhado pelo trio habitual, de que se destacava José Maria Nóbrega que o acompanha quase desde o início da sua carreira, Carlos do Carmo cantou alguns dos fados mais conhecidos do seu reportório, como «Por Morrer uma Andorinha», «Canoas do Tejo», «Bairro Alto» e «O Homem das Castanhas», entre outros.
O seu concerto baseou-se mais, no entanto, em canções do álbum que tinha editado havia pouco tempo e que se intitulava «Mais do que Amor é Amar», com temas como «À Memória de Anarda», «Ao Gosto Popular» ou «Elegia do Amor». Também cantou «Pedra Filosofal», de Manuel Freire /António Gedeão e «Traz Outro Amigo Também» de José Afonso.
Pelo facto de se tratar de um espectáculo de Fado, onde o silêncio deve ter lugar, Carlos do Carmo teve uma atitude pedagógica dizendo aos presentes para não fazerem barulho, o que foi muito mal interpretado por uma parte do público, que não compreendeu o alcance das palavras do fadista, quando este referiu que «infelizmente a cultura que chega é a da televisão». O certo é que com estas suas palavras o público fez silêncio e o espectáculo continuou, sem sobressaltos. Já tinha acontecido o mesmo no Festival de Vilar de Mouros, em 1982, onde o fadista actuou perante uma plateia de jovens muito mais interessados em Rock e Carlos do Carmo conseguiu, aqui também, dar a volta à situação.
Ainda hoje há pessoas no Sabugal que se consideram ofendidas pelas palavras de Carlos do Carmo, baseadas afinal num mal-entendido, daí dizer-se que o concerto foi polémico.
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«Memória, Memórias…», crónica de João Aristides Duarte
(Membro da Assembleia Municipal do Sabugal)
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