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Página Principal  /  Aldeia do Bispo • Na Raia da Memória  /  A Humanidade – Homens e Mulheres
08 Janeiro 2011

A Humanidade – Homens e Mulheres

Por Adérito Tavares
Adérito Tavares
Aldeia do Bispo, Na Raia da Memória adérito tavares, homem, mulher 4 Comentários

Na sequência da minha crónica anterior, sobre Ana de Castro Osório, talvez valha a pena reflectir mais um pouco sobre a condição feminina.

Igualdade entre homem e mulher
Igualdade entre homem e mulher

«Não pense a mulher que tem como nós homens entendimento…». Isto escreveu D. Francisco Manuel de Melo, na sua Carta de Guia de Casados, há quase 400 anos, traduzindo o pensamento dominante: a mulher era inferior ao homem e deveria ser submissa, discreta, reservada, caseira, fiel, boa filha, boa esposa, boa mãe. «Do homem a praça, da mulher a casa (…); se a mulher tem bons dentes, cova na face e riso fácil, que ria em casa para seu marido», diz também D. Francisco.

Deste modo, às mulheres eram geralmente negados os direitos cívicos, políticos e sociais. A mulher geria a casa, educava os filhos e cuidava do marido. Para isso, não lhe era necessária grande instrução, pelo que raras eram as mulheres cultas. Aliás, desconfiava-se das mulheres «que se metiam a letradas» (ainda palavras da Carta de Guia…).

Já se interrogaram os meus leitores sobre o facto de, até ao século XIX, com raras excepções, não se falar de pintoras, escultoras, arquitectas, escritoras, compositoras, filósofas? A primeira mulher a leccionar na Sorbonne, em Paris, foi Marie Curie, que seria galardoada com dois prémios Nobel: o da Física, em 1903, e o da Química, 1911. Mas, apesar disso, quando, neste mesmo ano, Madame Curie foi proposta para membro da Academie Française, o seu nome foi rejeitado. Em vez dela, entrou um homem cujo nome hoje ninguém conhece.
Direitos MulheresQuase 200 anos depois de se ter iniciado a luta pela igualdade civil e política dos cidadãos (com o iluminismo e o liberalismo), as mulheres continuavam a não ver reconhecidos os seus direitos. No começo do século XX, a mulher era ainda considerada como intelectualmente inferior, incapaz de assumir responsabilidades cívicas, permanecendo sujeita à tutela familiar do homem, fosse ele o pai, o marido ou o irmão (lembremos que, ainda nos anos 60 do século XX, em Portugal, uma mulher casada precisava de autorização do marido para se ausentar para o estrangeiro!). A mulher era a esposa, a mãe, a «fada do lar», mas não tinha poder de decisão sobre a educação dos filhos. Era a inspiradora de poetas e de artistas, mas raramente lhe permitiam desenvolver as suas capacidades criadoras. Trabalhava, quando era necessário recorrer ao sustento da família, mas apenas exercia tarefas e ofícios rotineiros, recebendo sempre salários inferiores aos do homem.

Desde o século XIX que se levantaram vozes de numerosas mulheres, conscientes da injustiça da condição feminina. Publicaram livros e artigos na imprensa, fundaram os seus próprios jornais, constituíram associações e movimentos, denunciando a hipocrisia social, que enaltecia o amor e a devoção das mulheres e as condenava a uma situação de inferioridade. Simultaneamente passaram a exigir a igualdade de direitos na família, no acesso à educação, no trabalho e, sobretudo, na vida política, reclamando para a mulher o direito de voto e a plena cidadania.

Tratava-se de uma luta difícil e penosa: na verdade, em França, só depois de 1945 as mulheres puderam votar em absoluta igualdade com os homens. Também na Inglaterra, sobretudo pela voz de mulheres inconformistas e ousadas como Emmeline Pankhurst, foi exigida a igualdade de direitos, particularmente a concessão do direito de voto à mulher.

A Nova Zelândia foi o primeiro país do mundo a conceder a plenitude de direitos cívicos e políticos à mulher, em 1893. Seguir-se-iam a Finlândia (1906), a Noruega (1910), a Dinamarca (1915), os EUA (1920) e a Inglaterra (1928).

Nas últimas décadas, o movimento feminista mundial, ultrapassado um certo folclore pretensamente vanguardista que só contribuía para o desacreditar, tem continuado a exigir o reconhecimento da individualidade da mulher e a plena igualdade de direitos em relação ao homem. Não apenas através da letra da lei mas também na prática quotidiana. Todavia, cerca de um terço das mulheres do planeta nem sequer dispõe livremente do seu próprio corpo. E muitos anos terão ainda que passar até que triunfe esta verdade evidente: a mulher é um ser tão humano como o homem.

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«Na Raia da Memória», crónica de Adérito Tavares

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Adérito Tavares
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Origens: Aldeia do Bispo (Sabugal) :: :: Crónica: «Na Raia da Memória» :: ::

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4 Comments

  1. Avatar leitaobatista Responder
    Domingo, 9 Janeiro, 2011 às 12:06

    Foi de facto longa e difícil a luta pela emancipação da mulher. O escritor e jurista Trindade Coelho, que foi delegado do procurador régio no Sabugal, bem o notou no seu Manual Político do Cidadão Português, dizendo, em ar de condescendência, e na defesa de uma evolução na legistação vigente:
    «Na família deve haver um chefe, que é naturalmente o homem. Mas se o pai de família morre, ou está ausente, cabe à mãe fazer as suas vezes. A lei, n’este caso, deve conceder-lhe os mesmos direiros civis que concede ao homem: – o direito de comprar e vender; o direito de provêr à alimentação e educação dos filhos; etc.»

  2. Avatar Joaquim Responder
    Sábado, 8 Janeiro, 2011 às 23:06

    Caro Doutor Adérito Tavares:

    Foi uma pena não ter escrito todo o parágrafo do Dr. Francisco Manuel de Melo, pois as reticências prestam-se a todo o tipo de especulações, e não quereria dizer entendimento diminuído. mas já talvez quizesse dizer, não pense, embora tenha.
    Na minha opinião a mulher em geral sempre foi mais entendida que o homem, talvez por isso o homem tivesse necessidade de se proteger, e se a mulher dá actualmente importância a certas coisas talvez nesse tempo não desse, pois com facilidade levaria a água ao seu moínho. Parece que a discriminação da mulher, nas democracias, vem da fundação de Atenas, porque havendo mais mulheres que homens a votar, deram à cidade o nome da deusa Atena, em vez de um nome masculino, mas por isso foram castigadas, por Jupiter, a nunca mais poderem opinar nos negócios públicos, acho assim que era importante ir à raiz destas questões democráticas logo na antiga grécia e na mitologia que tinham e levavam mais ou menos a sério.
    Cumprimentos

  3. Avatar José M. Valente Responder
    Sábado, 8 Janeiro, 2011 às 18:48

    Caro Doutor Adérito Tavares

    É sempre com gosto e interesse que se lê quem sabe; pena é que nem sempre possas colaborar neste blog que venho seguindo de há uns tempos a esta parte.

    Nos temas regionais e descrições de usos e costumes dessa bela zona arraiana que, por opção, considero minha, falas, como convém, com a singeleza e vigor dessas gentes.

    Tratando-se de História, teu elemento natural, falas de cátedra e certamente muito mais poderias dizer-nos sobre cada tema. Estamos cá para aprender e esperamos mais colaborações.

    Um grande abraço, muita saúde e disposição para continuares a fazer aquilo que gostas e tão bem sabes fazer.

    Zé Valente

    • Adérito Tavares Adérito Tavarers Responder
      Domingo, 9 Janeiro, 2011 às 12:25

      Caríssimo Valente
      Muito obrigado pelas palavras de elogio. Levo-as à conta da amizade.
      Quanto à colaboração no blogue, na altura do amável convite do José Carlos Lages ficou combinado que eu enviaria uma sequência de crónicas e, depois, deixaria os leitores descansar. Esta é já a segunda “fornada”. Outras virão, “si el tiempo lo permite y las autoridades no lo impidan”, como dizem “nuestros vecinos” sobre a hora de começo das touradas.
      Um abraço.
      Adérito

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