Mais um Natal que passo em Hospitais…
Como muitos sabem, passei a consoada de 2009 no Hospital da Guarda, por ter partido um pé nessa noite.
Infelizmente, um ano depois, passo a consoada num hospital, neste caso o de Vila Franca de Xira, por doença grave da minha sogra.
Defendi desde sempre que a prestação pública de serviços de saúde, se dependia muito das políticas públicas, dependia, sobretudo, de quem, no local, dava a cara, isto é, os médicos, os enfermeiros e o pessoal auxiliar.
E devo dizer aqui que, quem encontrei no Hospital da Guarda há um ano, e quem agora encontrei em Vila Franca de Xira, são profissionais de grande qualidade e dedicação, que contribuem, sem dúvida, para um Serviço Nacional de Saúde de qualidade.
Se há um ano, o pessoal de enfermagem e os médicos de serviço tudo fizeram para que, no mais curto espaço de tempo, eu pudesse voltar a casa, devo aqui contar o que se tem passado no Hospital de Vila Franca de Xira.
A minha sogra entrou nas urgências e foi passada no dia seguinte para o SO (Serviço de Observações). Apesar das condições de grande dificuldade com que se depara aquele SO, sempre os médicos de serviço tiveram o tempo que cada família quis para, sem azedume, sem pressa ou falta de consideração, ser elucidada do estado de saúde do seu familiar.
Uma compreensão, uma atenção tão saliente que mais parecia estarmos num local com todas as condições, do que no espaço exíguo em que doentes e profissionais têm de permanecer e trabalhar.
Após alguns dias, a minha sogra é transportada para um dos Serviços de Medicina onde, infelizmente, ainda permanece no momento em que escrevo esta crónica.
E aqui, repete-se o cenário. Profissionais competentes e dedicados que pedem encarecidamente para que os familiares permaneçam junto dos seus doentes o maior tempo possível (entre a uma da tarde e as oito da noite), incentivando-os a participar no tratamento e no apoio ao doente, mesmo que com isso o seu trabalho se torne mais demorado (a minha sogra como através de uma sonda, e as suas refeições demoram dois, três minutos, se for a enfermeira, e meia hora se for a minha mulher…)
E quando no dia 24, em menos de 15 minutos, morre o segundo doente, são visíveis as lágrimas nos olhos dos enfermeiros e do pessoal auxiliar como se tivesse falecido um familiar seu.
Vila Franca de Xira espera um hospital novo há mais de vinte anos, pois o actual não tem capacidade para servir os mais de 250.000 utentes que serve. E a esperança de que o mesmo se construa parece ir morrer na praia, pois era um dos investimentos que iriam ser realizados no âmbito das célebres parcerias público-privadas, e não se sabe se o processo já concluído e adjudicado não será parado.
Mas, à semelhança do que me aconteceu há um ano no Hospital da Guarda, os profissionais que trabalham no Hospital de Vila Franca de Xira são o garante de que o Serviço Nacional de Saúde está vivo e se justifica cada vez mais.
E por isso, aqui deixo este meu testemunho…
«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Presidente da Assembleia Municipal do Sabugal)
rmlmatos@gmail.com
Infelizmente, como em todas as profissões, há bons e maus profissionais e bons e maus exemplos.
Normalmente dá-se mais relevo aos maus exemplos, e na saúde são muitos, mas também concordo que se devem realçar os bons.
Talvez isto também dê um pouco de razão a quém pretende que se possa penalizar os maus e premiar os bons, porque só assim é que uma sociedade pode ser mais justa.
As melhoras da sua familiar e um Bom Ano para todos.
O SNS, para além das políticas de saúde, depende muito dos profissionais que nele trabalham e que diariamente dão a cara e muitas vezes, sacrificando a vida familiar para que os utentes tenham o apoio dos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar. Estou-lhe grato pelo reconhecimento da importância que o pessoal auxiliar tem nos hospitais. Realmente, muitas vezes mal compreendidos e tratados como “criados” por muita gente, estes profissionais muitas vezes incompreendidos, são muitas vezes levados a trabalhar horas seguidas e a todos têm que atender. Ainda bem que os familiares dos doentes vão ficando mais tempo junto deles, pois a sua presença é quase sempre uma ajuda para a melhor e mais rápida recuperação da pessoa enferma. Bem haja por se ter referido ao pessoal auxiliar. E amanhã estarei ao lado daqueles homens que vão passar o último dia deste ano 2010 na cama do hospital, voltando logo na primeira tarde do primeiro dia de 2011. A vida humana, muitas vezes as pessoas esquecem-se, mas tem estas passagens e estes encontros inesperados. As melhoras para todos os que estão nos hospitais. Um 2011 com mais saúde.