Nunca estudei economia. Eu sou de Letras ou Humanidades. Tive, isso sim, uma cadeira de Introdução à Política, no 2.º Ano do Curso Complementar dos Liceus, antigo 7.º Ano Liceal. Nada percebo, portanto, de economia ou finanças, nem de mercados. Não estou a brincar.
A primeira vez que ouvi falar de «mercado» ou «economia de mercado» foi há 21 anos, aquando da queda do Muro de Berlim e Mário Soares não falava noutra coisa, senão no «mercado». Até essa altura toda a gente conhecia isso pelo nome de capitalismo. Quem diria que o «mercado» seria capaz disto que faz hoje? Quem diria, há 21 anos, que os ordenados dos funcionários públicos (por enquanto só desses, que os patrões do privado já andam a ver se conseguem fazer o mesmo, com o pretexto da crise) seriam não só congelados, como lhes retirariam uma parte? Não acredito que alguém pensasse que poderia suceder uma coisa dessas.
Por isso pergunto a algum leitor desta crónica no blogue «Capeia Arraiana» se me pode elucidar sobre o significado das notícias que circulam, a toda a hora, pelas rádios, televisões e jornais.
São estas as perguntas a que gostaria que alguém respondesse (mas não em «economês», se possível em linguagem corrente):
– O que uma agência de «rating»? Já existem há muitos anos? Reconheço a minha ignorância, mas nunca tinha ouvido falar nisso, até ao ano passado.
O que é a dívida pública? E a dívida soberana? Quem compra a dívida? Novamente reconheço a minha ignorância, como leigo que sou na matéria, mas nunca tinha ouvido falar disso (sobretudo da «soberana») até este ano.
O que são «activos tóxicos»? Porque é que a Irlanda era apontada há dois ou três anos como o melhor modelo para Portugal e hoje é um «caso perdido»?
Porque é que não se podem criticar ou dizer mal dos mercados? Eles vingam-se?
Porque é que há um ano o PS e o PSD eram tão diferentes na campanha eleitoral, com diferenças abismais, com políticas distintas e alternativas e hoje são os próprios governantes do PS a pedir uma coligação com o PSD? Não me digam que era só por causa da «velha» (como lhe chamavam os do PS). Agora, só porque o chefe do PSD é novo (ou jovem), já podem estar coligados? E o Soares que não podia nem ver o Cavaco (a quem chamava o «gajo» – quem se lembra?) faz tudo o que pode para que o mesmo Cavaco seja reeleito Presidente da República. Bem, nada admira vindo de Soares. Basta ler o livro «Dicionário Político de Mário Soares» de Pedro Ramos de Almeida, para se perceber que o que ele diz não se escreve. Só a título de exemplo uma tirada de Mário Soares, inserido nesse precioso livro: «Em Democracia quem mente ao povo é réu de alta traição.»
A gente ouve falar todos os dias e a toda a hora nestas coisas, e nunca vi, li ou ouvi ninguém a fazer estas simples perguntas. Ou os portugueses (a maioria) estão formados em economia e finanças ou já nada percebo do país em que vivo.
Basta que algum comentador vá à televisão dizer que é preciso mais sacrifícios, que estes ainda não chegam, para as sondagens do dia seguinte indicarem que os portugueses concordam com as medidas de austeridade. Já agora, só mais uma pergunta muito indiscreta: Quanto ganham os comentadores económicos, que dizem o mesmo em todas as televisões (não há um único que não diga o mesmo – onde está o pluralismo?), ou seja que é preciso muita (e cada vez mais) austeridade?
Para quem trabalham esses comentadores de economia? Isso eles nunca referem. Referem, isso sim, que quem trabalha tem que «apertar o cinto» para que a economia e as finanças sejam saudáveis. Daqui a pouco só já lhes falta dizerem que se a escravatura voltasse é que era bom, porque, nesse caso, já a economia e finanças estariam muito bem.
O que mais admiro nos portugueses é esta capacidade de nada questionarem, se saberem tudo, de não terem humildade de fazer perguntas. Toda a gente fala na dívida soberana, no «rating», nos mercados, quando me parece (ou eu não conheço o país onde vivo) que o que eles querem mesmo é que a conversa mude para a «bola», que nisso já todos podem dar o seu «bitaite».
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«Política, Políticas…», opinião de João Aristides Duarte
(Deputado da Assembleia Municipal do Sabugal)
O grande problema é a mama.
Caro Adão: Se, por um lado, concordo consigo, quando diz que em França as manifestações não deram resultados e o Governo se portou como uma ditadura, por outro acho que grande parte da culpa é desse mesmo Povo que votou neles. É que eu estou à vontade para dizer que nunca (mas nunca) um único deputado da Assembleia da República foi eleito com o meu voto. E nunca votei em branco ou nulo e nunca me abstive. Portanto, esses que dizem mal deles, têm culpas porque os elegeram.
Por outro lado aqui em Portugal o que não faltam são economistas e (até) salvadores da Pátria, a começar pelo nosso Presidente da República, e nunca deram conta de nada do que passava. Mas, andavam na Lua?
Um abraço desde as Terras do Demo
Caros amigos
estou como vocês … também não andei nessas escolas onde se aprendiam todos esses termos e essas “ciências” que levaram o país ao estado onde se encontra. Mas ao mesmo tempo estou satisfeito de não ter andado por essas escolas, porque aquelas onde andei, ensinaram-me a gastar apenas aquilo que tinha nos meus bolsos, ensinaram-me a respeitar os outros e a ouvir os outros.
Os nossos políticos, economistas e outros, mesmo tendo aprendido todas essas “ciências”, acabaram por gastar sempre mais do que aquilo que deviam e podiam e, hoje nos lugares de governantes, são ignorantes, arrogantes e incapazes de ouvirem ou perceberem aquilo que o povo lhes diz.
Eu não acho que o povo mostre estar satisfeito da situação e esteja imóvel e a prova, é que se vêm cada vez mais contestações. Cada vez mais, o povo reclama os seus direitos, participando em debates ou manifestando, seja através de blogs comunitários ou individuais, seja nas redes sociais onde se tenta cruzar ideias e discutir como ajudar um país ou uma região a ir para a frente.
O problema é que do outro lado, encontram-se pessoas, a quem o poder lhes tapou os ouvidos. Veja-se o exemplo da França, manifestções enormes durante algumas semanas, os sindicatos por uma vez unidos fizeram frente ao governo e qual foi o resultado? Nenhum, o governo foi em frente com as suas idéias, decidiu e aprovou a lei, como se ninguém tivesse estado contra ou tivesse manifestado.
Nos dias que corrrem, existe uma democracia do povo, que acredita que pode manifestar e dar uma opinião livre, e existe uma “democracia” dos poderes políticos, mais parecido aos regimes ditadores que nãodá ouvidos à ninguém que fazem e desfazem sem olhar a meios.
Portanto, caro Duarte, é melhor termos aprendido aquilo que nos levou aquilo que somos, sincéros e honestos, livres e honrados, que ter aprendido economias e finanças que apenas ensinaram a enganar os outros, a gastar aquilo que não se tinha, capazes das maiores vigarices em nome dos resultados e das finanças públicas.
Um abraço desde Paris.
Em seguimento ao meu último comentário, tenho uma coisa a dizer-te amigo Duarte, sem dúvida que o capeiaarraiana me deixa lutar contra todo este sistema, é uma tribuna Socrática como já lhe chamei e continuo a chamar, mas a vontade de alguns é sileciarem-me e desterrarem-me desta tribuna, e sabes porquê amigo Duarte? Sou incómodo! A minha luta aqui é a favor dos que mais sofrem com todo este estado de coisas, com esta ditadura económica, a partir daí, não sirvo para nada…mas a coisa mais fácil que existe presentemente é silenciar alguém coragem PORRA!!!
O imobilismo amigo Duarte, tem a ver com o doutrinamento da sociedade por meio da publicidade, do Marketing e, de outras formas de manipulação e alienação mental.
A grande vitória deste maldito sistema, Neoliberalismo, foi ter convencido o homem que o único objectivo da vida é acumular e consumir. O grande meio de que o sistema se serviu para toda esta manupilação foi a comunicação social ao seu serviço.
Amigo Duarte, temos o privilégio de ter no nosso Concelho o Blog Capeiaarraiana que nos permite lutar contra este desumano sistema político e económico, portanto lutemos com a palavra e com as ideias!
Caro António Emídio:
Mas tenho alguma dúvida em relação àquilo que referes?
Asolutamente nenhumas… Só que o Povo deve andar completamente adormecido que nem estas perguntas simples( às quais nem tu, nem eu, somos capazes de responder) é capaz de colocar. E acredita , piamente, em tudo o que lhe contam esses corifeus.
Isso, sim, admira-me. Porquê este imobilismo?
Amigo Duarte:
Não sei responder às tuas perguntas, só sei o seguinte: o capitalismo selvagem, Neoliberalismo, é presentemente o estado da sociedade portuguesa, a Democracia já não o é.
E quanto à questão dos corifeus da comunicação social que são pagos a peso de ouro pelo sistema, só tenho a dizer-te que o direito de informar está transformado num privilégio dos oligarcas, ou seja, privilégio empresarial, não num legitimo direito do cidadão. Portanto só falam eles.
E esses “mercados” são comandados também pelo eixo Franco-Alemão. O sarkozy não passa de micro-napoleão, a senhora Merkel é o Hitler de saias, ambos querem dominar a Europa, a diferença é que estes querem dominá-la económicamente.Admiras-te que muitos homens e mulheres do P.S. votem Cavaco? Quem já abandonou a Social Democracia e, se insurge contra o Estado – Social, qualquer dia também é capaz de abandonar a própria Democracia.