Uma selecção de bravos sabugalenses levou a capeia arraiana ao concelho de Tábua no distrito de Coimbra. No sábado à noite, 18 de Setembro, mais de 2500 pessoas assistiram embasbacadas no campo de futebol às investidas de dois toiros no forcão e ao jogo de pernas e de bem rabejar da malta de Alfaiates, Aldeia da Ponte e Soito.
O campo de futebol do Tabuense transformou-se para receber a Capeia Arraiana. No centro do terreno, no enfiamento da linha divisória do meio-campo foi montado um redondel com grades onde encostaram alguns reboques de tractor e um camião com semi-trailer para a assistência. No entanto a maioria dos mais de 2500 espectadores «guardaram» lugar na bancada lateral (que acompanha toda a lateral do campo) desde a abertura da portas cerca das 19.30 horas até que, pelas nove e meia da noite, o locutor de serviço anunciou aos presentes que ia ter início um espectáculo inédito em Tábua: a Capeia Arraiana.
E o mote estava dado para que os cerca de 30 bravos raianos equipados com uma t-shirt branca do Tabuense saltassem a vedação do redondel e retirassem do centro da arena o forcão que tinha sido o centro das atenções das bancadas. Como aperitivo para os dois grandes momentos da noite saiu do interior do camião uma bezerra que permitiu algumas brincadeiras aos tabuenses mais afoitos.
E pelas 22 horas fez-se história em Tábua e escreveram-se mais umas linhas na história das capeias e do Sabugal. O «triângulo de madeira» voltou ao centro da arena e o grupo de pegadores de forcão do concelho do Sabugal esperou o toiro – virgem nestas andanças – que se mostrou bravíssimo e duro provocando algumas mazelas nos rapazes e muitos danos nas galhas. Momentos mágicos que calaram as bancadas, surpreendidas pelo invulgar espectáculo nunca visto em terras de Tábua. No final da actuação enquanto o forcão recolhia para ser encostado às grades do redondel a assistência explodiu numa enorme salva de palmas. À nossa volta as conversas surpreendiam-nos. «Viste como eles mexiam as pernas», «eu não tinha coragem para estar assim à frente do boi», «nunca tinha visto nada igual», «agora já percebo para que servem aqueles paus todos» ou «aquilo é um jogo de equipa» foram alguns dos comentários escutados numa assistência rendida à bravura dos «irredutíveis raianos pegadores de forcão».
Após a garraiada com mais uma bezerra e o arranjo do forcão muito danificado pelo primeiro toiro foi tempo de lidar o «segundo» da noite. Mais certinho a bater no forcão permitiu uma exibição com maior brilho à selecção raiana que incluia rapazes de Alfaiates, Aldeia da Ponte e Soito.
A terminar e numa altura em que se pretendia puxar o toiro com uma corda para dentro do camião um jovem tabuense mais atrevido (e menos previdente) foi colhido e teve que ser transportado ao hospital.
A iniciativa teve como base a recolha de fundos e um gesto de solidariedade para com o presidente do clube tabuense, Carlos Ferreira, que continua hospitalizado após um grave acidente de viação na África do Sul por alturas do Mundial de futebol.
A organização – a cargo do Grupo Desportivo Tabuense – agradeceu à Câmara Municipal e Junta de Freguesia de Tábua e à Câmara Municipal do Sabugal e Juntas de Freguesia de Alfaiates, Aldeia da Ponte e Soito pela disponibilidade e apoio na concretização do espectáculo taurino.
Os poderosos toiros (e os bezerros) pertenciam à Ganadaria Santos Silva de Isidro Ricardo de Montemor-o-Velho.
O Capeia Arraiana aproveitou estes momentos inéditos para trocar algumas palavras com Francisco Ivo Portela, presidente da Câmara Municipal de Tábua, com fortes ligações a Aldeia do Bispo, terra de onde a esposa é natural, e que se mostrou agradado pela presença raiana no seu município. «Estou muito satisfeito por termos assistido a uma capeia arraiana aqui em Tábua. Mas gostaria de destacar que a ideia é de António Vaz, director do departamento administrativo e financeiro da Câmara de Tábua, também natural do concelho do Sabugal. Depois, foi só contar com a pronta disponibilidade do presidente Robalo e a generosidade das gentes raianas e dos presidentes das juntas aqui presentes», esclareceu o presidente Portela que, visivelmente satisfeito, ainda nos deixou uma novidade: «Estou muito contente. Ofereceram-me este forcão. Vou guardá-lo e… no próximo ano… talvez seja novamente necessário.»
A Câmara Municipal do Sabugal esteve representada pela vice-presidente Delfina Leal e pelo chefe de gabinete do presidente, Vítor Proença, que teve uma tarde muito ocupada na preparação do forcão. Marcaram ainda presença os presidentes da Juntas de Freguesia de Alfaiates, Aldeia da Ponte e Soito.
Jornada memorável de divulgação do Sabugal e da tradição «Capeia Arraiana». Esta iniciativa prova que é tempo de pensar em constituir uma associação de pegadores de forcão do concelho do Sabugal que permita formar um plantel de 50 ou mais nomes disponíveis para pegar ao forcão sempre que solicitados. Mais coisa menos coisa poderá ter as características de um grupo de forcados amadores que possa actuar em todas as praças do país e estrangeiro cobrando o respectivo cachet. Com as dificuldades que estão a ser levantadas por alguns fundamentalistas aos espectáculos taurinos é tempo de sugerir aos organizadores das tradicionais touradas que incluam um toiro para forcão nos espectáculos. Assumo e defendo que a capeia arraiana pode e deve ir a todos os lugares do planeta desde que o forcão leve inscrita a palavra «Sabugal» e a equipa de pegadores seja maioritariamente constituída por naturais ou descendentes sabugalenses.
jcl
Caro João Valente:
Para desestabilizar um pouco isto e tendo em conta estas propostas (aliás aprovadas pelo Manuel Russo) que refere, tais como. ” Já agora:
– O Forcão deve ser feito com madeira da Raia.
– As pessoas devem exibir certidão de residência ou naturalidade na Raia.”
Pergunto:
Se a madeira for de Barrancos, serve?
Se a certidão de nascimento referir Elvas ou Vila Verde da Raia, serve?
Esta história do nome Raia tem muito que se lhe diga, não é?
Neste segundo comentàrio do SR Joao Valente jà concordo/ Madeira e Forcao do concelho do Sabugal,Aficionados(as) da arte e tradicao da Raia e touros com pura casta criados no nosso Concelho.(A relembrar que jà houve touros bravos no SOITO) E diria mais,alargar e inovar o nosso espectàculo, com cortadores,forcados, toureiros a pé e a cavalo.Para isso temos que criar assossiacao com escola para as lides acima mencionadas,da forma como fazem os Forcados (treinos e pràtica durante todo o ano)
Claro que não divulgar as vossas tradições seria um rematado disparate.
Nunca assisti, mas quando puder, não perco.
Muito bem jclages!
Desde que há registos (cerca de 150 anos), a lide de um toiro com forcão na Peninsula Ibérica verifica-se apenas e somente, na Raia do Sabugal.
Povoações como Navas Frias, Casillas del Fores, Albergaria ou mesmo Fuenteguinaldo, continuam a organizar as suas festas anuais, sem utilizar o forcão como instrumento de lide.
De igual modo, tal como os açoreanos não necessitam de um forcão para se divertirem, também os tabuenses nao pretendem sequer introduzir lides tauromáquicas nas suas festas anuais.
Mas uma coisa é certa. Os cerca de 3.000 tabuenses que assistiram interessados à demonstração de capeia arraiana, ficaram com certeza a gostar do espectáculo, podendo um dia mais tarde, explicar a quem nunca viu, que se trata de um acto cultural digno de se ver.
No entanto e para esse efeito, julgo que a realização de capeias arraianas fora do perímetro a que são características, devem obdercer a 3 regras fulcrais:
1- O forcão deve ser integralmente original e ser proveniente da Raia.
2- Os elementos do forcão devem ser oriundos de aldeias raianas.
3- As reses lidadas devem ser escolhidas de forma a proporcionar um espectáculo digno, ou seja, 400 kg no mínimo.
Ora, em Tábua, estes 3 requisitos foram assegurados.
O forcão foi transportado desde o Sabugal e os cerca de 40 elementos de Aldeia da Ponte, Alfaiates e Soito estiveram imponentes frente a 2 bravos novilhos de 470 e 440kg, respectivamente.
Se há motivos de preocupação no que diz respeito à defesa da Nossa Festa, julgo que se devia prestar mais atenção a dois temas:
a- Criação de uma patente para o espectáculo – Capeia arraiana, enquanto expressão cultural única no mundo de um povo.
(já está em marcha, segundo sei)
b- Criação de um regulamento único para todas as aldeias, que estipule normas básicas, mas necessárias à preservação da qualidade de um encerro e de uma capeia (ex.: proibição de veículos motorizados em encerros).
Só assim, num esforço colectivo, podemos assegurar que a Nossa festa é também para Todos.
Já agora:
– O Forcão deve ser feito com madeira da Raia.
– As pessoas devem exibir certidão de residência ou naturalidade na Raia.
– As reses devem ser criadas nos pastos da Raia.
Só assim a capeia garantirá o seu carácter genuino.
A capeia é uma manifestação genuinamente popular. Há que ter o bom senso de não impôr regras que desvirtuem esse carácter genuíno.
As únicas regras devem ser o “encerro”, a “prova”, o “pedido da praça” , o “desencerro” e o respeito pela integridade física dos animais lidados.
Depois há que distinguir apenas entre capeia tradicionais (que seguem os usos antigos daquelas regras) e as populares (em que não há preocupação com esses usos).
Tudo o mais, é complicar desnecessariamente!
É um assunto onde nem entro… O provincianismo, pela falta de bom senso, limita, logo à partida, a discussão.
O intercâmbio é salutar!
Fiquei muito agradado e algumas fotos trouxeram-me à memória 1978, aquando do início da Capeia Arraiana , em Lisboa, no Campo Pequeno.
As tradições divulgam-se, as origens não se perdem!
Os Autarcas, continuam a criar “pontes” que apenas enobrecem o povo!
O “bichinho” vai actuando , embora demore tempo.
Caros raianos
Ainda bem que os ingleses não ficaram com o futebol só para eles.
Ainda bem que a Mariza continua a cantar o fado em Tóquio.
Ainda bem que podemos ver dançar o tango aos argentinos em Lisboa.
Ainda bem que alguns restaurantes por esse país fora têm leitão «tipo Bairrada».
Ainda bem que os franceses exportam champanhe.
Ainda bem que temos algo que nos diferencia de todos os outros concelhos portugueses que fazem fronteira com Espanha.
Ainda bem que temos algo que nos diferencia de todos os outros concelhos das Beiras.
Ainda bem que Tábua e outras localidades como Lisboa (no Campo Pequeno) podem assistir a uma capeia arraiana originária do concelho do Sabugal.
Ainda bem que os Forcados Amadores de Santarém levam o nome da sua região às praças de toiros de Portugal, Espanha, México, etc.
Ainda bem que o Grupo Etnográfico do Sabugal dança a belíssima «Princesinha da Raia» em todos os palcos para onde são convidados.
Ainda bem que…
Aquele abraço raiano,
José Carlos Lages (jcl)
Amigo Duarte,
Não venhas politizar ainda mais (AO FORCAO RAPAZES) A nossa tradição deve ser divulgada e demonstrada por toda a parte do mundo. (porque é unica ao mundo) Não compares Açores com Tábua, as condições aos Açores era destacar uma equipa do Concelho antes do evento para lhe ensinar aos Acorianos a pega ao Forcão e depois eles fazerem a Capeia.
O negócio está no segredo; não devemos ensinar mas sim divulgar e estar presentes nos ARRAIANOS.
O forcão tem e deve ir por todo o lado à condição que sejamos nos os Arraianos os artistas principais.
Como em França, no Alentejo, Tábua, etc., etc.
Estou de acordo com o SR JCL na criação de uma Associação de 5O Arraianos pegadores e com o seu final de artigo.
Pessoalmente arraiano e pegador já disse e comentei por várias vezes que é urgente constituir a nossa Associação do Forcão.
A minha candidatura está lançada há bastante tempo e faço parte dos 50 homens para a nossa Associação do Forcão e da RAIA.
com
concordo plenamente com o david se assim continuarmos um dia destes ja nao e preciso vir a raia sabugalense para ver uma garraiada com forcao ai esta o desevolvimento do concelho ajudando outro a progredir o eng portela ja viu muita garraiada em aldeia do bispo sua terra emprestada
Não concordo que tenha sido feita uma capeia em Tábua, apenas se está a vulgarizar uma tradição única que não deveria sair da área raiana do concelho do Sabugal (e parcialmente Almeida). Em breve teremos a capeia tão vulgarizada que já nem motivo de orgulho será para nós sabugalenses, pois será uma tradição nacional (talvez até internacional) e não típico das nossas gentes.
Desculpe, mas, que pensamento tão limitado,,, se as Culturas não se espalhacem pelas Regiões, Paises e Continentes, nunca teria-mos tido acesso a coisas como as danças típicas de alguns paises, as doçarias e pratos de certas regiões, alguns desportos teriam ficado nos paises de origem, etc….
Os arraianos devem ter sim a capacidade de dar a conhecer esta arte e tradição sem medo que a levem. A Raia deve ser o centro desta prática, formando por exemplo “escolas” onde se ensine a prática desta arte, desde as suas origem, passando pelo corte e fabrico do Forcão e sua utilização.
os arraianos por onde passao marcam presença nao aja e aproveitamento pulitico
Expliquem-me , por favor, a diferença entre isto e a tal Capeia nos Açores. É que para isto não li nenhum abaixo-assinado, nem petição a dizer que o Sabugal iria ficar sem o forcão e não mais conseguiríamos viver.
Ou sou eu que sou burro, ou não compreendo nada de nada.