Os encerros e a capeia com forcão, são o motivo de regresso de muita gente às nossas aldeias. Se um dia vierem a desaparecer, por qualquer motivo que seja, algumas dessas aldeias e talvez uma grande parte do concelho acabam, simplesmente, por desaparecer.
Nos últimos tempos, várias vozes se têm manifestado em favor desta tradição raiana, o encerro e a capeia com forcão. Muito se têm falado para dar relevo e a importância devida à este evento, mas o tempo passa e na realidade pouco se vê. Saindo do ambiente da raia, dos descendentes da raia, pouco ou nada se sabe desta tradição. Muitos ouviram falar das capeias da raia, mas não sabem o que é nem como se passa.
Este ano, tive o prazer em conjunto com um amigo, organizar uma viagem a Santiago, para a qual levei um DVD das capeias das diferentes aldeias para ajudar a passar o tempo durante o trajecto. Fiquei surpreendido, com o acolhimento que teve esse DVD. A maioria das pessoas, portanto, originárias do concelho, de aldeias sem tradições capeeiras, desconheciam por completo esta tradição. Ficaram interessados, pedindo explicações, perguntando quando e onde se poderia assistir à tais espectáculos.
Aquando do meu regresso à Paris, numa estação de serviço já bem perto de Paris, deparei com um camião TIR, pintado com cores e referências ào festival dos Jardins de Ponte de Lima. Cores vivas que chamavam a atenção de qualquer um. Tomei, eu, conhecimento, através dessa «publicidade» que Ponte de Lima organiza um festival de jardins, um festival que atrai muitos turistas.
Lembro-me também de há alguns anos atrás, uma empresa de camionagem de Guimarães, ter os seus autocarros pintados com referência ao castelo de Guimarães e D. Afonso Henriques.
Há vários anos, apareceram junto do Sabugal, nas principais estradas que levam à cidade, paineis com fotografias, desta tradição, mas pouco a pouco foram desaparecendo e acho que neste momento, já nenhum desses paineis faz eferência às capeias.
Tudo isto, leva-me a pensar que é necessário encontrar ou remeter em andamento uma «publicidade» que fale do nosso concelho e tradições, que apresente aquilo de que tanto gostamos.
Porquê não fazer apelo às empresas do concelho? Existem várias empresas, algumas que viajam regularmente para o estrangeiro, outras que fazem inúmeras viagens em Portugal. Seja no transporte de passageiros ou de mercadorias, não seria possivel encontrar uma forma de colaboração, entre empresas e entidades governamentais, para que os autocarros ou camiões do concelho dêem a conhecer esta ou outras tradições do concelho? Através de pinturas ou DVD por exemplo?
Como todos os anos precedentes, o mês de Agosto, foi um mês eufórico, de adrenalina, de entusiasmo, de festa e alegria. As festas e capeias levaram, muitos filhos e amigos às aldeias raianas. As pessoas da Raia, mostraram mais uma vez aquele carinho, aquela amizade e aquele bem receber, que lhe é único.
Em qualquer aldeia, havia sinais de vida, de alegria, de festa e todos eram bem-vindos. Como a maioria dos arraianos, nesta altura do ano, encontramos sempre forma e forças para regressar à terra, matar saudades, ver os familiares e amigos que por lá fizeram a vida. De aldeia em aldeia, passamos o tempo, entre encerros e capeias, admiramos a proeza e valentia, a coragem e o medo, a força e a fraqueza, tudo num ambiente de festa e amizade.
Mas os turistas são raros e todos sabemos a mais valia que seria para as aldeias e para o concelho a presença de maior número de turistas.
Para nós, a quem a saudade começa já a apertar, restanos, esperar mais um ano.
Quem sabe, talvez com mais visitantes… a admirarem e apreciarem o nosso concelho.
De Paris, Paulo Adão.
:: ::
«Um lagarteiro em Paris», crónica de Paulo Adão
Caro Adão:
Aquilo que refere sobre os espanhóis não deve andar longe da verdade. O que eu sei é que eles vêm às capeias e , mal estas terminam, ala que se faz tarde, e já estão de abalada. Se ainda por cima, alguns , mem sequer bebem um copo, pior ainda.
Não percebo é como há pessoas que estão sempre a dizer que os espanhóis é que são (nas capeias).
Outra coisa que sempre estranhei: em algumas festas da raia sabugalense vão conjuntos espanhóis. Já estive nalgumas festas onde estão esses conjuntos espanhóis e (com excepção de um conjunto de Valladolid que vi no Soito e nos Forcalhos, onde o vocalista era de Navasfrias e vieram alguns familiares) nunca vislumbrei um único espanhol das terras fronteiriças nas tais festas (à noite).
Contam-me , depois, que verdadeiras multidões de portugueses vão para as festas das localidades espanholas de fronteira divertir-se com os tais conjuntos espanhóis.
Quem entende isto?
A ignorância é um posto. Obrigado pela informação do lagarteiro.
Para o amigo JA, pequena parentese, lagarteiro mas não sportinguista. Lagarteiros, caso não saiba, (na raia) são os originários ou descendentes de Aldeia do Bispo. Eu não sou nem originário, nem descendente, fui criado nessa Aldeia, acabei por casar lá, e hoje faço o que me seja possivel para o bem dessa Aldeia que é a minha.
Fechando a parentese, acho que individualmente, muito se têm feito. Nunca se viram tantos videos ou fotos das capeias e da raia, como nestes últimos anos. Basta fazer ppesquizas na net e ver os resultados. Mas é preciso mais, e na minha optica, é preciso uma acção conjunta, das autoridades locais. Por isso defendo essa ideia de aproveitar através das empresas locais, uma publicidade ao concelho. Imaginam uma foto do castelo do Sabugal num TIR, ou num autocarro? Ou tantas outras paisagens que poderiam servir de motivo? A Raia é uma nação poderosa, imparável e internacional, mas tirando os raianos, quem conhece a Raia? E para que continue a ser poderosa e imparável, é preciso dar a conhecer as riquezas, humanas ou materiais que a Raia oferece.
Ao João Duarte, não podia estar mais de acordo. Precisam-se turistas, aqueles que visitam, ficam por lá alguns dias e quando regressam ainda vão falar do que viram e do que gostaram, porque foram bem recebidos, estão satisfeiros e contentes. Os visitantes, é também verdade que sempre vai havendo, quanto aos espanhóis, alguns que ainda nos visitam, (talvez me engane), mas deles pouco podemos esperar. Durante o festival do forcão, estive rodeado de um bom grupo de espanhóis numa das bancadas da praça do Soito. Eram bastantes, mas até cerveja trouxeram nas mochilas e nas “geladeiras”, para não terem que comprar na praça.
Como esperar turistas se exceptuando, Soito Aldeia da Ponte, Ozendo e Rebolosa onde há praças nos outros locais os lugares são das familias dos residentes e não deixam ir ninguem para os locais onde possam ver a capeia? Tenho exemplos de pessoas amigas que vieram de Coimbra e não voltam porque se viram a capeia foi por DVD por mim oferecido.Temos de ter condições e depois apostar forte nesta tradição.
Esta frase do cronista Paulo Adão (“Mas os turistas são raros e todos sabemos a mais valia que seria para as aldeias e para o concelho a presença de maior número de turistas” ) é bem verdadeira.
No dia 8 de Janeiro, deste ano, escrevi eu uma crónica no Capeia Arraiana (intitulada “Falta a Varinha de Condão) onde defendi a mesma ideia. Tive direito a 28 comentários.
O que eu escrevi na minha crónica foi:
“Considero, também, e poderei voltar a ser politicamente incorrecto que nas Capeias Arraianas não vejo turistas. Apesar de ver milhares e milhares de pessoas nos encerros e nas Capeias apercebo-me que são quase só pessoas da região. Como o concelho fica com o triplo da população no mês de Agosto é natural que se vejam muitas pessoas. Mas, se exceptuarmos alguns espanhóis das localidades fronteiriças (que vão logo embora, mal termina a tourada), não se vislumbram pessoas que venham de longe ver esta tradição. Talvez uma ou outra pessoa, mas sem qualquer significado.”
Atenção que estou a falar de turistas (daqueles que dormem e comem no concelho). Não de visitantes ocasionais, que os há sempre.
Lagarteiro (Sportinguista?):
Tem razão. Se as capeias acabassem, desapareceriam algumas aldeias e o concelho definharia.
Mas a Nação Arraiana é poderosa, imparável e internacional…
Se cada um de nós, individualmente, promover o mais que puder a região e a Capeia o resultado colectivo será enorme, como se viu este ano com festas maravilhosas por todo o Concelho.
Caro amigo JA:
A referência ao sportinguista, penso que me é dirigida, caso não seja continuamos amigos na mesma. Sou-o e com todo o gosto, mas sou, sobretudo, arraiano.
A RAIA é e continuará a ser sempre a minha “NAÇÃO”.
Sobre as capeias desaparecerem ou não, acho muito prematuro fazer suposições.
Um forte abraço arraiano!