Parabéns às gentes raianas, a Santinho Pacheco, à Câmara Municipal do Sabugal, à Junta de freguesia de Foios e a todos os que se empenharam no Governo Civil Aberto, esse encontro interfronteiriço, que leva a um remover da frase célebre «de Espanha nem bom vento nem bom casamento». Tenho visto com admiração o desenrolar de acções que aproximam as gentes raianas e as fronteiras, tenho podido apreciar com bom grado o esforço despendido pelo Governo Civil da Guarda e Câmaras raianas no sentido de «inverter» a crescente onda de desertificação que vai ameaçando o Interior, o coração de Portugal.
Ia, precisamente escrever um comentário ao artigo da Capeia, da autoria de Amélia Reis Dias, mas achei que seria mais útil deixar, a propósito, o meu palpitar, mostrando bem como a ideia da guerrilha, com nuestros hermanos, foi há muito banida do meu vocabulário e do meu pensamento mais profundo. São sempre os vizinhos aqueles com quem devemos lidar, não só por interesse de protecção mas num ideal sinergético que a todos enriquece.
Então, aqui deixo excertos de dois poemas: o primeiro de «Arco-Íris» e o segundo de «Ecos».
DE MÃOS DADAS
Se dois países «mui cerca»
Não deram as mãos
De verdade.
Ó História!
Ó Pátria!
Onde estava a liberdade?
Se o tempo tudo leva
Se o tempo tudo traz
Leva, ó tempo, o que passou
Traz-nos viveres em paz.
Leva, leva os maus ventos
Traz-nos estes bons momentos.
E de um «portunhol» rabiscado
Mal escrito mal falado
De um «espanholês» trauteado
Mal dito e mal amanhado
Passemos a dar las manos
A estes nuestros hermanos
VIZINHA ESPANHA
Castelhano me apetece hablar
Língua de poetas, de damas
De Cervantes
De muitos cavaleiros andantes
«La noche por la noche em mis ojos»
Me encantou poema de enamorados
De suspiros abafados
Como se a língua nos gritasse
Nos bailasse com as sevilhanas
«Mui guapas, nuestras hermanas»
E busco seu linguajar.
A língua é um poema
Em cada dialecto me prendo
Me apaixona seu cantar.
Sonhava-me poliglota
Para todas as línguas falar
Dizer cada poema que canto
E em cada língua o cantar.
E na Igreja de Valladolid
Em tempo de orar:
«Eres el pan de la vida»
«Yo te envio» a salvar
«Tiempo de renacer»
Tempo para rezar.
Me encantam termos tão doces
Como se o Céu se abrisse
Para me abençoar.
Há muita musicalidade
Em poemas dos hermanos
Me fico mui encantada
Me fico até pasmada
Presa em sus palabras
Que me abrem minha mente
E me levam a sonhar.
«O Cheiro das Palavras», poesia de Teresa Duarte Reis
netitas19@gmail.com
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