O Verão vai quase a meio, quente impiedoso, a pedir sombra e locais frescos com água por perto. Logo, logo, virá o mês de Agosto, o mês dos emigrantes e mês de todas as festas. Por aqui não há terra que a não tenha, com mais ou menos pompa, com mais ou menos desassossego.

Longe de ser apenas um desperdício ou um acontecimento sem significado, a festa comporta um forte elemento de subversão dos códigos estabelecidos, constituindo simultaneamente, um fenómeno social, cultural, económico e político.
Interrompendo a rotina do quotidiano, ela é uma espécie de válvula de descompressão que nos proporciona a explosão de uma série de sentimentos contidos durante os restantes dias do ano.
Acontecimento quase sempre associado ao sagrado e ao ritual, a festa é vivida nas nossas aldeias com grande intensidade, em ruptura com a vida banal de todos os dias, tornando-se ainda no principal espaço de reencontro de familiares e amigos.
As ruas e largos tornam-se cenário de uma realidade virtual, de imagens, de enfeites coloridos, de muita luz. Geralmente associada à festa religiosa, o mundo dos santos convive com as pessoas que os veneram, que os vestem, que os transportam em procissão. É uma aproximação entre o Céu e a Terra!
Põem-se as colchas nas janelas, alcatifa-se o chão de flores e verdura, o homem veste o fato novo, a mulher põe as arrecadas de ouro e faz uma «permanente», mata-se uma rês e partilha-se a comida e a bebida. É um momento de exaltação e de transcendência, sem lugar para a menoridade.
Aparentando tratar-se de um rol de comportamentos fúteis e superficiais, a festa têm, no entanto, uma abrangência que ultrapassa esta realidade, constituindo um investimento de carácter social, um meio de comunicação entre a comunidade, uma forma de afirmação e demonstração e faz parte de um complexo conjunto de estratégias de ajustamentos sociais.
Caracterizando-se pelo divertimento e pela mudança do ritmo normal da vida em comunidade, a festa é mobilizadora, de vontades, de novos projectos, de novos negócios e quantas vezes de novos amores!
Mas a festa tem também uma outra face. A sua coerência programática e o seu sucesso só se atingem mercê do muito trabalho das comissões de festas.
Para que tudo funcione bem, nada pode ser deixado ao acaso, sendo necessárias muitas horas de trabalho. Para os mordomos é quase sempre um exame muito exigente em que não se pode falhar. O júri é o próprio povo da aldeia e a bitola mínima é a festa do ano anterior. Obrigam-se, a trabalhar arduamente, colocando na organização todo o seu empenho e dos seus familiares. Merecem, por isso, todo o nosso respeito e admiração, o nosso apreço e incentivo.
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«Terras do Lince», opinião de António Cabanas
(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor.)
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