A Serra da Estrela é um manancial de riqueza e por isso não se esgotam os pensamentos, os dizeres e os poemas à sua volta. E, já que falei deste tema a semana passada, vou continuar, na medida em que o Verão nos chama a deambular pelo campo, pelos espaços verdes e frescos que nos convidam ao silêncio e à paz interior.

Nos tempos que correm, quem não precisará de momentos destes para um descanso do corpo, mas mais ainda do espírito? Num passeio feito há tempos atrás, em estudo sobre a natureza e a defesa do ambiente, muito aprendi. É numa linguagem mais erudita que apresento este poema, mas prometo traduzi-la, na semana a seguir, em linguagem popular, ou melhor, em linguagem do pastor…
À DESCOBERTA DA SERRA DA ESTRELA
Blocos erráticos salpicam
Os quatro degraus serranos
Do glaciar resultantes.
Pequeninos nos sentimos
Altas moreias esmagam
Escarpadas ondulantes.
E a Estrela bem sublime
Que aos estudantes anime
No seu majestoso trajar
Convida à descoberta
Pois a porta está aberta
E qualquer um pode entrar.
A Divina Providência
Facilita a escorrência
E das nascentes jorrar
Cursos de água brilhantes
Que deslizando, cantantes
Boas trutas vão criar.
A fário e arco-íris
Em Manteigas, seus viveiros
Têm como fim proteger.
Povoar outros ribeiros
Multiplicara espécie
Lagoas abastecer.
Xisto ou colmo em cobertura
É defesa da natura
Para as belas cortes telhar.
O granito, na sua rudeza
Aplica, com singeleza
Resultados do Glaciar.
Pseudotsuga, larício
Teixo, urze e giesta
São obra da natureza.
O cervum é protegido
Do montanheiro envolvido
Na protecção e defesa.
Vale do Zêzere encantado
Imponente e escarpado
No seu U a não esquecer
Mostra ao caminheiro atento
(de saber está sedento)
Que ainda mais deve aprender.
De pássaros a piar
E perdizes a saltitar
No seu modesto viver
Está a força da natureza
Paira a lagartixa presa
À cascalheira a trepar.
«Mens sana in corpore sano»
Rosto marcado pela vida
Traços de um povo serrano
De uma vida bem vivida
Em simplicidade e rudeza
No contacto com a natureza.
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«O Cheiro das Palavras», poesia de Teresa Duarte Reis
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