«A aldeia vai fechar», dizia Rita Rato, deputada pelo PCP, no jornal «Diário das Beiras» do passado dia 12 de Junho.
Eu, ainda mais pessimista, deixo a minha pena amarrotada em folhas de papel pardo, pois pardas ficam muitas Aldeias sem o Sol das gargalhadas, sem o amanhecer dos sorrisos cristalinos das crianças.
A ALDEIA VAI FECHAR
Sim, a Aldeia vai fechar
Sem crianças a brincar
A Escola é fantasma
Escondeu-se entre a bruma
E muitos sem pena nenhuma
Pois não conhecem o silêncio
Da Aldeia sem crianças
A brincar nos intervalos
Ou crianças já não há?
Talvez pudesse haver mais
Se as mães fossem protegidas
E as grávidas bem recebidas
O que nem sempre acontece…
Mas quem tem pena a mais
Pois são de facto os Pais
Que só as vêem à noite
Estafadas do transporte
De Aldeia em Aldeia
Até à hora de chegar
Cansadas de tão grande dia
Em que tudo é correria
Não dá tempo para o abraço
Nem p´ra chapinhar no terraço
Quando a mão lava o alpendre.
Não têm tempo de correr
Nos pinhais à procura
Dos pinhões soltos das pinhas
Nem procurar lagartixas
Soltas nas cascalheiras
Ou apanhar libelinhas nas ribeiras…
A Aldeia vai fechar
Depois de tudo morrer
Já morreu o Posto Médico
Fechou a Casa de Saúde
A Farmácia já não fia
Morrem avós, fecham casas
Vão-se os Pais para a cidade
A viver em bairro pobre
Ou pagar renda que não pode…
Encaixotadas nos prédios
Onde as mães lavam escadas
Se é que para isso dá
E os Pais arrumam carros
Se os clientes permitirem…
Desertificar, continua
Não há crianças na rua
Da Aldeia adormecida
Já muito desfavorecida…
E as urzes das montanhas
Os verdes dos povoados
Os ribeiros e as levadas
Perderam as gargalhadas
Dos miúdos da Escola
A Aldeia ficou sozinha
Onde até a avezinha
Sente o frio da solidão…
Poema inédito
«O Cheiro das Palavras», opinião de Teresa Duarte Reis
netitas19@gmail.com