A Câmara Municipal do Sabugal teve a ideia de candidatar a «Capeia» a património da humanidade. Fazemos sinceros votos de sucesso, porque é uma excelente iniciativa, que só peca por tardia.
No entanto, ao mesmo tempo que candidata a «Capeia» permite o crime das eólicas contra o património em Sortelha…
São atitudes tão diametralmente opostas, e por isso caricatas, que me ocorreu adaptar à situação, de uma outra de Kalil Gibrán, intitulada «as três formigas», a seguinte fábula:
A formiga e a cigarra, encontraram-se no nariz de um homem que estava estendido, dormindo ao sol da tarde. Depois de se saudarem, cada um à maneira da sua espécie, detiveram-se ali a conversar.
– Estas colinas e estas planícies – disse a formiga, desanimada – são as mais áridas que já vi na minha vida; procurei todo o dia um grão, e não encontrei nada.
– Eu cá prefiro dormir à sombra todo o dia – comentou a cigarra, abotoando a casaca – e cantar à tardinha. Esta é, suponho, a que chama a minha gente a branda terra móvel donde não cresce nada – e limpando os sapatos de verniz – a vida é para se ir levando nas calmas… Vou a uma «vernissage»; acompanhas-me?
Ia a formiga responder, quando o homem se moveu, e no seu sonho levantou a mão para coçar o nariz, derrubando as duas.
E à cigarra, debaixo da casaca, viram-se então os rotos fundilhos das calças.
– Vestes casaca de cerimónia; calças sapatos de verniz – riu a formiga – contudo tens fundilhos rotos?!
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«Arroz com Todos», opinião de João Valente
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