A fotografia da crónica de hoje refere-se a umas mulheres de Quadrazais e foi tirada na década de 1930. Como se pode ver aparece uma das mulheres a tocar adufe, pelo que devem estar a cantar alguma canção.
Quadrazais tem alguma tradição na música tradicional/popular, como já referi numa crónica publicada neste blogue, uma vez que a canção «Azeitona Cordovili», recolhida nesta freguesia faz parte da incontornável obra «Cancioneiro Popular Português», um livro de Michel Giacometti, sendo a única do concelho do Sabugal a ser aí referida. Não tendo sido recolhida pelo próprio Michel Giacometti, este não deixou de a publicar no seu livro.
Também o músico César Prata e o seu grupo Chuchurumel gravaram uma canção de Quadrazais no disco «No Castelo de Chuchurumel», lançado em 2005. Trata-se de «Se soenes crunhe penhar», um tema que é cantado na gíria quadrazenha.
O meu pai, que viveu em Quadrazais, na década de 1930, lembra-se bem das quadrazenhas a tocar e a cantar e dos seus trajes bastante parecidos com os das mulheres minhotas, o que não era muito comum por estas terras da Beira Alta. E refere, também, que o rancho de Quadrazais (também constituído por homens) foi o único representante do nosso concelho na «Exposição do Mundo Português», realizada pelo Estado Novo, em 1940, em Lisboa.
Por isso os quadrazenhos referiam, sempre, que Salazar aplaudiu os contrabandistas. Tratava-se, é claro, do desfile dos diversos representantes do país (na época no seu todo pluricontinental) a que Salazar presidiu e no qual participou o rancho de Quadrazais. Como Salazar estava na tribuna aplaudiu as representações todas. Tendo em consideração a perseguição e repressão que o regime do Estado Novo fazia aos contrabandistas, nomeadamente aos quadrazenhos, é natural que o facto de o máximo representante desse regime aplaudir os contrabandistas de Quadrazais era motivo de grande admiração.
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«Memória, Memórias…», crónica de João Aristides Duarte
(Membro da Assembleia Municipal do Sabugal)
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