A iniciativa privada criou, e continua a criar riqueza. Sem ela, a própria liberdade ficaria coarctada. Está fora de dúvida o papel preponderante, interventivo e inventivo que ela teve durante os últimos séculos, e que ainda continua a ter nos nossos dias. Também se deve a ela muito do progresso que o homem alcançou.
Mas infelizmente em que se está a tornar a iniciativa privada? Está a deformar-se, está a transformar-se em grandes corporações com influência cada vez maior, tornando-se em autênticos grupos de pressão (lobbys) que influenciam o poder político e, que muitas vezes o mantêm refém dos seus interesses. São fruto, ao fim e ao cabo, da liberdade e da livre iniciativa, formaram-se em governos liberais, o que é que cada vez mais as suas decisões se parecem às dos estados totalitários. O seu poder e a sua influência vão-se estendendo cada vez mais através da privatizações de serviços pertencentes ao Estado, e que aos poucos vão caindo nas mãos de grupos privados. Estão a converter a «Res Publica» numa propriedade sua, onde só interessam os lucros dos grandes accionistas, bancos, e multinacionais.
Há quem compare este tipo de iniciativa privada ao Feudalismo. Não estão longe da realidade. Há oligarcas cujo poder é maior do que o de alguns senhores feudais que a história nos mostra. Não manda a Igreja, não mandam os aristocratas, manda o dinheiro. Também já não há servos, os trabalhadores presentemente são livres, mas isso não significa que não sejam condenados ao desemprego, à pobreza, à exploração e à fome.
Estas grandes corporações, este tipo de iniciativa privada, não tem por fim satisfazer as necessidades do homem, criar postos de trabalho e melhorar a sua vida, tem por finalidade, benefícios e lucros, e consegue-os sempre, alguns bem escandalosos.
É este poder que conduziu e conduz ao desregulamento da economia, se hoje alguns povos europeus, e do resto dos continentes sofrem, a este poder se deve. Tudo isto conduz à desestabilização da vida pessoal, laboral e social, conduz ao medo e à insegurança perante o futuro.
O que acabo de escrever nada tem a ver com comunismo e bolchevismo, socialismo e anarquismo, tem a ver com a realidade. Mas se as minhas palavras são consideradas como as de um niilista, atentem nestas, de um homem integrado no sistema, mas que se revolta e critica:
«…permitirá a Europa da Ilustração e da Revolução Francesa, que acabou com o antigo regime, este novo despotismo financeiro-político, de força crescente, alheio a qualquer controlo democrático?»
Estas palavras são de um General de Brigada na reserva, José Henrique de Ayala, general do exército espanhol, e foram retiradas da revista Política Exterior, uma revista de cariz conservador, política, social e economicamente.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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João Valente:
A crise actual foi causada pelo sector privado ( grandes corporações, bancos etc.). O que terá de se fazer é controlá-lo para que isto não volte a acontecer.
António; tudo o que escreves é verdade. O problema é que todos assobiam para o lado. Isto, mais dia menos dia, vai ter que estoirar, porque a pele do capitalismo, já não suporta mais o inchaço da bolha especulativa.