«O Quinto Elemento do Circuito 5» é uma pequena mas calorosa história, em que o leitor se sente inebriado com a perturbante aventura de alguém que terá passado a barreira da vida terrena e viajou pelo tempo ao encontro de povos e culturas da Antiguidade.
Ler MaisA Câmara Municipal de Lisboa integrou nas Festas da Cidade, que começam no final de Maio e se prolongam por todo o mês de Junho, as casas regionais sedeadas na capital, proporcionando-lhe a divulgação da gastronomia, artesanato e tradições das terras que representam.
A iniciativa «Casas Regionais em Lisboa» acontece na Praça do Rossio, entre os dias 28 e 30 de Maio. As associações aderentes ocuparão stands disponibilizados pela Câmara Municipal para ali divulgarem as suas regiões. Para além disso as Casas participantes garantirão a animação permanente do local através da actuação de ranchos folclóricos e grupos de danças e cantares.
Esta é a segunda edição de um evento, pela qual se recupera uma velha parceria existente entre as associações regionalistas e a Câmara Municipal de Lisboa por ocasião das festas da capital. Durante muitos anos realizaram-se jogos tradicionais e desfiles etnográficos, para além de outras actividades paralelas, que animaram a cidade, dando-lhe o colorido representativo das várias regiões de origem da sua população. Depois os jogos tradicionais deixaram de realizar-se e a participação das Casas nas festas tornou-se pouco expressiva. Porém agora, com o lançamento da iniciativa «Casas Regionais em Lisboa», a autarquia voltou a recuperar em pleno a sua ligação às associações regionalistas sedeadas na capital do país.
Participam na actividade 15 casas regionais, dentre as quais algumas das mais activas, como as de Ferreira do Zêzere, Arganil, Arcos de Valdevez, Ponte de Lima, Alvaiázere e Tomar.
A Casa do Concelho do Sabugal, que é considerada no meio do associativismo regionalista uma das mais dinâmicas, não está incluída na iniciativa, o que se deverá à realização da tradicional Capeia Arraiana no Campo Pequeno no dia 29 de Maio.
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Entende-se perfeitamente que a Capeia Arraiana de 29 de Maio impossibilite a participação da Casa do Concelho do Sabugal na iniciativa «Casas Regionais em Lisboa». O que porém não se compreende é que a Capeia Arraiana não tenha sido ela própria integrada nas Festas de Lisboa, ao contrário do que sucedeu noutros anos.
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Alguém ainda se lembra da Gripe das Aves? Claro, foi substituída pela gripe dos porcos, airosamente rebaptizada de Gripe A. Quem ainda se lembra dos planos de contingência e do previsto uso de máscaras? Eu lembro, vinha aí uma pandemia, uma tragédia das grandes! Ainda bem que passou ao lado. Livramo-nos de boa!

Fruto de vivências quotidianas e tendo por substância as lendas antigas, os contos que se narravam ao serão e a própria imaginação do autor, veio ao nascedoiro um conjunto de histórias de forte paladar popular que retratam a alma do povo do nordeste transmontano.
Cada texto inserto no volume «Contos do Nordeste» de Jorge Tuela, é uma representação das formas de vida de antigamente em terras que ficavam atrás do mundo.
Em linguagem popular, ou vernácula, em homenagem às formas de expressão do seu povo, Jorge Tuela leva o leitor ao âmago das aldeias recônditas de Trás-os-Montes. Cada conto é um retrato onde se vêm e ouvem pastores guardando rebanhos, contrabandistas e emigrantes percorrendo as serras, cavadores e lavradores fainando a terra. Pelo meio surgem os dramas da vida antiga, onde as dificuldades estavam sempre presentes. Mas há também as peripécias das personagens, dando um ar prazenteiro aos contos populares.
E a alimentação também está presente, pois esta gente forte e corajosa comia em abundância para ganhar forças para os trabalhos duros em que estava envolvida. Era porém uma alimentação em quantidade e de fraca variedade, tirante os dias nomeados, em que o rancho familiar surgia melhorado.
Revelador desta contenção alimentícia, pensando sempre em guardar o melhor para as festividades e para os dias dos grandes trabalhos colectivos, é o conto «O Meleiro», que retrata o problema que era alimentar um criado esquisito à mesa e que só comia uma bucha se fosse acompanhada de bom conduto.
«Certo homem tinha um criado muito biqueiro. Torcia o nariz a qualquer prato menos suculento e detestava batatas cozidas, se não fossem acompanhadas de qualquer pitéu. Caldo de abóbora, nem vê-lo. Desviava a malga para o lado com ares de vómito e esperava que aparecesse pela mesa algo melhor. Se, por acaso, topava nabos no prato, metia-os muitos disfarçadamente no bolso da jaqueta e, em pleno campo, arrebolava com eles o mais alto que podia, consolando-se todo de os ver esborrachar contra o chão. O amo andava preocupado com o caso, pois, pensava ele, quem não come em condições, não pode trabalhar em termos.»
Quem era assim primoroso no comer e se assoldadava para trabalhar, como era o caso deste rapaz transmontano, criava um problema sério, pois não se contentando com a alimentação frugal que era comum degustar, dava forte desbaste na economia doméstica.
E quem mais se lamentava era a patroa: «Como o rapaz não engolia côdea de pão sem untura ou doçaria, cada vez que era preciso mandá-lo todo o dia para o campo, ao dar-lhe a merenda, punha-se a olhar para o fumeiro, para a toucinheira ou para as malgas de marmelada e ficava muito triste ao ver que tudo desaparecia…»
Certo dia o amo decidiu dar-lhe uma lição e arrancou com ele para o campo levando apenas pão no bornal e prometendo ao rapaz que junto ao batatal que iriam sachar passava todos os dias um meleiro, a quem compraria mel para barrarem o pão. O moço foi feliz e contente e até trabalhou com gosto. Quando lhe deu a fome perguntou quando passaria o meleiro, dizendo-lhe o amo que não tardaria. Mas de facto tardava e, por mais que olhasse, não lobrigava o homem e o macho carregado com cântaros de mel, de que lhe falava o patrão.
A um ponto a fome apertou de tal maneira que o jovem disse para o amo que bem gostava de esperar pelo mel, mas já não podia aguentar mais.
«Procuraram a água fresca de uma fonte próxima, sentaram-se à sombra de um carvalho e atiraram-se ao centeio como Santiago aos mouros.
– Come-se bem o pão, mesmo sozinho, não? – inquiriu o amo.
– Se come, nunca me soube tão bem na vida.
– Já me dizia o meu avô que não havia melhor meleiro que a fome.»
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com