O Impeachment português
Desde há uns anos que a política portuguesa se traduz numa espécie de novela à brasileira, de desfecho tão imprevisível quanto interminável. A instabilidade é a sua imagem de marca, uma espécie de fatalidade, de destino que nos está reservado enquanto povo. Não há governo que se aguente mais que um mandato e isso reflecte-se nas políticas públicas, as quais, mesmo quando ostentam algum virtuosismo, se vêm condenadas ao fracasso logo que o governo mude. Contra a fraqueza de quem governa, os lobbies corporativos foram, por sua vez, ganhando cada vez mais força, com claro prejuízo dos interesses colectivos de âmbito mais alargado.

Ninguém acredita que tal perturbação seja favorável ao progresso da nossa sociedade.
As fragilidades económicas e de desenvolvimento que nos afectam, têm as suas raízes mais profundas nesse estado de contínuo cozimento em lume brando.
A política portuguesa é uma espécie de zona sísmica, que vive em permanente sobressalto e onde não vale a pena erigir nada de substantivo, que logo cairá. O que conta é o imediato e o imediatismo. Somos avessos ao longo prazo!
O sucesso económico da nossa vizinha Espanha, que teve em 35 anos apenas 6 governantes (nós tivemos 4, nos últimos 10 anos!), também se poderá explicar pela sua maior estabilidade política.
Como se não bastasse a crise para gerar perplexidades e incertezas no futuro colectivo, a nossa classe política contribui decisivamente para acentuar a turbulência.
A telenovela diária em que se tornou a Comissão de Inquérito ao negócio PT/TVI, passada em directo pelas televisões, espectáculo deprimente e voyeurista que entretém um país afundado numa enorme crise de confiança, é disso o melhor exemplo.
Ninguém entende o que se quer apurar, quando todos, incluindo a opinião pública, já perceberam há muito o que se passou. Até adivinhamos as conclusões!
Se de um julgamento se trata, uma comissão parlamentar é o pior dos tribunais, onde o juiz é por natureza tendencioso. Nunca será um julgamento justo. Aprovados por votação, os resultados só poderão espelhar a própria composição da Comissão e do parlamento. É também certo e sabido que as partes sairão da comissão como entraram, sem alterar uma vírgula às conclusões previamente formuladas.
Ninguém duvida que o primeiro-ministro detestava o famigerado jornal de «estilo manuelino» da TVI. Nem sequer era o único. A mim também me causava asco. Aliás, Sócrates nem sequer foi cínico, apontou-o como travestido. Penso que o Primeiro-ministro fez mal em preocupar-se com ele, que de tão mau era inofensivo.
Um destacado ex-accionista da TVI assegura, que, de forma deliberada esta estação pretendia derrubar o Primeiro-ministro. Ficou-se também a saber que igual prática foi usada contra Santana Lopes. Só não sabemos o valor do contributo para a sua demissão. Ajudar a derrubar políticos e governos é uma prática comum em alguma comunicação social. Isso é feito de forma descarada.
Que o primeiro-ministro conhecia o tal negócio, parece óbvio, e que foi a barulheira da comunicação social que impediu a sua concretização, ainda é mais óbvio. Mas ainda ninguém percebeu que mal ele faria ao país. Que com tal negócio o governo controlaria a comunicação social, e que haveria um plano com esse objectivo, parece pura fantasia! O governo não controla coisa nenhuma no que respeita a grupos económicos e muito menos a comunicação social que é o mais poderoso! Seria até contraproducente, pois o governo que está hoje, não estará amanhã, virar-se-ia o feitiço contra o feiticeiro.
O cúmulo da futilidade é discutir-se um negócio que nem sequer existiu. Para que serve, então, todo este teatro? A resposta é clara, pretende-se destituir o primeiro-ministro e o governo: uma espécie de impeachment à portuguesa, porque ninguém tem coragem para uma moção de rejeição, pelo receio dos resultados eleitorais que poderiam vir a seguir.
Fica-se com a sensação de estarmos a caminhar para o abismo político, onde vingam os jogos de bastidores de curto prazo que apenas geram poder de curto prazo.
Que ganha o país com tudo isto? Nada. Pelo contrário, acentua-se a degradação da vida política, a desresponsabilização de quem governa, perdem-se reformas iniciadas anteriormente e agrava-se a crise económica e social. É tudo o que este país não precisava neste momento. Só um pacto de regime de amplo consenso, «a la longue», poderá tornar o país governável e permitirá a convergência com os parceiros da UE.
Exemplos não faltam na Europa.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas
(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt
Eu concordo que a estes politicos o que interessa é o imediatismo e por isso mesmo não se aguentam porque como diz não existe planeamento para nada.
Também é verdade que com a qualidade de politicos e deputados como aqueles que temos, também não se pode exigir mais e só como exemplo, veja-se os casos da Medeiros e o dos gravadores.
As comissões é a mesma coisa é só para receberem mais uns trocos, porque dali nunca sai nada.
O que se pede aos Governos é que respeitem quém os elegeu e que façam tudo, mas tudo para resolver os problemas do País e não os deles como infelizmente acontece todos os dias e sem que ninguém lhes peças responsabilidades e esse é que é o problema.
O Governo continua a falar que estamos em crise e que temos que apertar o cinto, mas nunca ninguém ouviu dizer que temos que reduzir a quantidade de deputados e outros afins, nem reduzir as mordomias de continuam muitos a usofruir.