Não era suposto falar do festival IndieLisboa, mas acabei por não resistir. A «culpa» é de Heddy Honigmann, uma das realizadoras homenageadas no festival e que descobri em dois filmes, cada um representando uma reflexão diferente sobre a vida.

Nascida no Peru e filha de judeus que fugiram da Europa durante a II Grande Guerra, Heddy Honigmann é uma cineasta com obra feita na área do documentário, mas cujos filmes são pouco conhecidos por cá. O festival lisboeta resolveu este ano suprimir esta lacuna e está a mostrar uma retrospectiva integral da sua carreira, iniciada em 1979 um ano após ter imigrado para Amesterdão para estudar Cinema. Desde então assentou arraiais na Holanda, tornando-se mesmo cidadã do país alguns anos mais tarde.
Depois de algumas experiências na área da ficção, Heddy Honigmann resolveu apostar no documentário. E os seus documentários são obras bastante originais e algo diferentes do que é normal neste tipo de filmes. A começar pela falta de voz off e acabar nas reflexões sobre a vida feitas pelas pessoas que falam para a câmara da cineasta.
Dois dos filmes que tive a oportunidade são muito belos. O primeiro foi filmado em 2007 e chama-se «Forever» (Para Sempre, em português). Neste filme Heddy Honigmann aborda a forma como a arte influencia a vida das pessoas. Para tal foi ao cemitério de Père-Lachaise, em Paris, onde estão sepultados grandes nomes da cultura mundial, desde Chopin a Proust, passando por Jim Morrison, o vocalista dos Doors. Foi neste cenário que entrevistou não só fãs dos mortos mais célebres, como uma jovem pianista que visita a campa de Chopin e toca as suas músicas em homenagem ao pai falecido recentemente, mas também as pessoas que visitam os seus familiares. O truque de Heddy Honigmann é precisamente deixar os seus entrevistados falar sem interromper. O resultado são belas reflexões sobre a vida.
Um outro exemplo das obras de Heddy Honigmann é «Metal and Melancholy» (Metal e Melancolia), um regresso da cineasta em 1993 ao seu Peru natal para filmar os taxistas de Lima, a capital do país numa altura em que atravessava uma grave crise económica, que tinha deixado o país praticamente na miséria. A ideia de ter resolvido entrevistar os taxistas, que talvez sejam um dos grupos profissionais que melhor conseguem contar as histórias das cidades, deve-se ao simples facto de na altura muitos dos habitantes de Lima serem taxistas em part-time, como resultado das dificuldades que atravessavam. Desde polícias a actores, médicos e funcionários governamentais, todos utilizavam o seu automóvel pessoal para ajudar a aumentar o orçamento. É um filme que dá muito que pensar, sobretudo numa altura em que os problemas económicos estão na ordem do dia. Mesmo assim, no meio de algumas histórias mais complicadas, sempre aparecem pessoas que afirmam não ter medo de morrer, porque «já estiveram do outro lado», ou que se lembram de uma história de amor passada há muitos anos.
Dois exemplos de belos filmes, que são ao mesmo tempo simples e falam da vida como ela é vivida, pelos mais comuns de nós.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
É verdade caro Horácio, não ficou esquecido. O problema é que não gosto de falar de filmes sem os ter visto recentemente. E ultimamente não tenho tido tempo para voltar a rever alguns dos filmes de que falámos nesse dia. Mas fica prometido que quando tiver a oportunidade sai um artigo.
Abraço, Pedro M. Fernandes
Então Pedro, para quando uns artigos sobre aqueles filmes de culto de que falamos na casa do Concelho em Lisboa, “era uma vez na américa”, ” Laranja Mecanica ” , paris Texas, asas de desejo, aconteceu no oeste, bandas sonoras etc.
abraço Horácio pereira.