Junto à capela de São Paulo o largo com o mesmo nome foi recuperado com supervisão paisagística qualificada. O descampado deu lugar a três «ilhas» ocupadas por barrocos e guardadas por tranquilas oliveiras. A Fonte Romana voltou a ficar à vista e os pilares do «tronco» onde eram ferrados ou curados os animais – à sombra da histórica amoreira – voltaram à sua posição original. O espaço público de Ruivós está a renascer com muito cuidado e bom-gosto. A visita guiada pelas «benfeitorias» foi feita pelo presidente Manuel Leitão.
Em Ruivós a eleição dos membros da Junta é feita em plenário cumprindo a regra das freguesias com menos de 150 eleitores. Em Outubro do ano passado «apareceu a votos» uma única lista encabeçada pelo actual presidente Manuel Leitão que não perdeu tempo e tem vindo a fazer uma notável obra de recuperação e qualificação dos espaços e caminhos públicos.
Em Novembro a Junta apelou à participação de toda a população e durante todo o mês os fins-de-semana foram ocupados com a recuperação e limpeza dos caminhos rurais.
«Tinha como grande objectivo iniciar o meu mandato com a recuperação do espaço histórico do Largo de São Paulo», começou por nos dizer Manuel Leitão, presidente da Junta de Freguesia de Ruivós. «Pedimos a colaboração da Câmara Municipal do Sabugal e os trabalhos de recuperação e arranjos paisagísticos do largo foram acompanhados pela eng.ª Cláudia. Plantámos por toda a freguesia cerca de três dezenas de oliveiras que fomos buscar a Longroivo. As que estão plantadas no Largo de São Paulo foram oferecidas pelo senhor Manuel Joaquim Rito do Soito. Os barrocos estavam em terrenos onde, em criança, guardava as vacas dos meus pais», esclarece-nos o empreendedor autarca.
A cerca de 500 metros da actual povoação de Ruivós no Largo de São Paulo e encostada ao cemitério ergue-se a Capela de São Paulo catalogada com grande antiguidade e que pode ter sido inicialmente uma mesquita. Está situada no vale de Valdeiras também conhecido como vale da ribeira da Nave reconhecido como um dos caminhos de Santiago certificado pela concha decalcada na pedra da janela da igreja matriz.
Na capela de São Paulo uma estela de granito embutida na parede virada a Norte tem uma inscrição romana, em latim, descodificada pelo arqueólogo Marcos Osório da Silva e que diz: «(A ???c) a Alfídia Ama, filhos de Lúcio Ânio Cipiano. Aos seus filhos, o pai mandou fazer esta memória».
Ainda de acordo com o estudo de Marcos Osório «Ruivós – Antiguidade de uma Freguesia» durante o domínio romano toda a região em torno de Ruivós «dada a sua referida riqueza agrícola, voltou a ser densamente povoada e no lugar onde se situa a capela de São Paulo, ter-se-á implantado uma unidade habitacional/agrícola, denominada nos tempos romanos de villae. (…) A sul da capela, existe uma nascente chamada de fonte romana que poderá corresponder a um local de tradição no abastecimento de água ao local».
«A fonte romana há muito que estava escondida pelas silvas e pelas giestas», recorda Manuel Leitão quando chegamos à portaleira de um lameiro onde se notam as paredes em pedra recolocadas, recentemente, no lugar. Ao fundo uma espécie de anta protege uma pequena presa de água arrimada a um cristalino ribeiro de geladas águas que corre com imponência nestes chuvosos tempos de Março. «Aqui está ela! Limpámos o lameiro e a fonte romana e queremos fazer aqui um parque de merendas», diz-nos com orgulho o presidente.
A visita guiada terminou nas traseiras da igreja matriz de Ruivós junto ao antigo «tronco» com seis pedras graníticas verticais onde os animais eram ferrados ou curados quando tinham pernas partidas ou estortegadas. Ao lado do «tronco» mantém-se imponente a velhinha amoreira testemunha silenciosa da brincadeira de gerações de crianças e que em todas deixou a sua marca colorida. Nas mãos, no corpo, na roupa. As amoras são daquelas que crescem até ficar enormes e vermelhas e depois amadurecem para preto. É a amoreira do povo. É a velhinha amoreira que merecia ser podada, tratada, revitalizada e condecorada com a ordem de monumento da freguesia de Ruivós. Aqui fica o desafio ao dinâmico presidente Manuel Leitão.
jcl
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