A adaptação de Tim Burton do clássico da literatura infantil escrito por Lewis Carroll, «Alice no País das Maravilhas», é um filme diferente para os padrões do realizador, mais colorido do que é habitual.
Filmado em 3D, técnica que parece estar na moda, apesar de neste caso me parecer ter sido mal utilizada, a nova versão de «Alice no País das Maravilhas» é um típico filme da Disney, dirigido a um público mais familiar. Há até quem o considere uma encomenda que Tim Burton terá feito para os míticos estúdios criados por Walt Disney. Este factor poderá afastar os fãs de Burton, um dos realizadores contemporâneos que tem uma marca muito própria, com filmes ambientados em universos negros e a piscar o olho ao imaginário do gótico.
Mas desta vez o negro ficou de fora, apesar de a história não ser das mais alegres para os parâmetros da literatura infantil. Quem for à espera de ver algo semelhante ao anterior «Sweeney Todd» ou mesmo «Eduardo Mãos de Tesoura» sai defraudado. A Alice de Burton é muito colorida, chegando mesmo a ser um pouco exagerado.
Em comum com o universo de Burton apenas temos a banda sonora, uma vez mais a cargo de Danny Elfman, e os actores Johnny Depp e Helena Bonham Carter, ambos irreconhecíveis: Depp transfigura-se no Chapeleiro Louco e Carter, esposa de Burton, interpreta a vilã Rainha Vermelha, com uma enorme cabeça. Um dos pontos fortes desta Alice, que pouco tem a ver com a versão animada clássica, é a descoberta de Mia Wasikowska, uma jovem actriz que encarna a protagonista na perfeição e leva praticamente o filme às costas.
E não nos podemos esquecer que esta adaptação é demasiado livre face ao original. Em vez de uma Alice que adormece por estar entediada com a irmã, o filme conta a história de uma adolescente que foge de um casamento preparado e acabar por cair na célebre toca do coelho. Até uma batalha final para salvar o País das Maravilhas parece enfiada a martelo.
Sem querer Tim Burton acaba por realizar um filme que acabará por ser um clássico para devorar a um domingo à tarde. Aos fãs do cineasta gótico resta esperar pela sua próxima aventura.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
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A história de Alice, a que serviu de inspiração ao fime, tem que se lhe do ponto de vista de semiótica. Um dia trocamos impressões sobre o assunto, Pedro. Abraço
É bem verdade, caro João. Dentro do género fantástico da literatura infantil/juvenil talvez o Alice seja dos livros mais estimulantes e com mais sentidos ‘escondidos’ de sempre. Conto voltar a lê-lo em breve, pois é daquelas obras que não cansa ler. Um abraço