Em Portugal, o dia da «raça» era a 10 de Junho, dia de Camões, enquanto em Espanha era a 12 de Outubro, dia em que Colombo descobriu a América. Isto resume a diferença de identidade entre os dois países. Têm histórias paralelas (reconquista e descobrimentos), mas nunca concordantes. Como escreveu Eugénio Pontes «Portugal e Espanha são noções paralelas e as paralelas só se encontram no infinito».

Uma coisa é a cooperação transfronteiriça, outra a integração cultural, ou política, que são impossíveis, quando a própria Espanha, maugrado o poder centrípeto de Castela, não conseguiu sequer extinguir o carácter das nacionalidades Galega, Catalã e Basca. A nação Espanhola nem sequer existe!
Como dizia Mendez Pelayo, «um povo novo pode improvisar tudo, até a cultura intelectual. Um povo velho não pode renunciar à sua sem extinguir a parte mais nobre da sua vida e cair numa segunda infância muito próxima da imbecilidade senil».
Neste sentido era mais fácil a Galiza integrar-se em Portugal com o qual tem afinidades culturais, históricas e linguísticas, do que Portugal unir-se com a Espanha.
É certo que o Iberismo de que agora se fala já não é o primário da «Castela Una» de Filipe II, do Conde Duque de Olivares, ou de Franco, mas ainda é o intelectual e romântico de Gasset, Unamuno, Pascoais, Junqueiro e Oliveira Martins, que embora sendo espiritual, ainda vê Castela como referência geográfica da alma da consciência ibérica (leia-se a este propósito, Espanha Invertebrada de Ortega Y Gasset).
É certo que personalidades portuguesas como Antero de Quental, Fernando Pessoa, Ana de Castro Osório, Latino Coelho, Sampaio Bruno, Teófilo Braga, e mais recentemente Miguel Torga, Fernando Lopes-Graça, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, José Saramago, manifestaram simpatia pela união ibérica. E em Espanha, o filósofo e poeta madrileno OrtegaY Gasset, o filósofo Basco Miguel de Unamuno, o poeta e filósofo catalão Joan Maragall, o lusófilo Ignasi Ribera i Rovira e Francesc Pi i Margall, presidente da Primeira República Espanhola, em 1873 defenderam a união ibérica.
Unamuno, Ribera i Rovira, Maragall e Antero viam essa união a três – Catalunha, Castela e Portugal, esquecendo o País basco e a Galiza.
Fernando Pessoa chegou a delinear uma confederação de nações ibéricas em que a Galiza embora autónoma de Castela se integraria em Portugal; Teófilo Braga planificou as bases de uma Federação Ibérica, dentro da qual a Espanha teria de aceitar ser uma República e dividir-se em estados autónomos aos quais Portugal se juntaria. Lisboa seria a capital dessa Federação Ibérica. Coisa que nem Felipe II, tendo oportunidade histórica, fez.
O sistema político geralmente aceite era o de uma Federação de estados autónomos, com centros de decisão comuns – a política externa, por exemplo.
Na década de sessenta do século passado, o escritor catalão Agustì Calvet i Pasqual, defendia que «poucas vezes a insensatez humana terá estabelecido uma divisão mais falsa» (do que a das fronteiras peninsulares) «nem a geografia, nem a etnografia nem a economia justificam esta brutal mutilação de um território único».
A língua, o saudosismo, a indolência, são características psicossomáticas próprias da alma portuguesa. Falsa seria a união; não a divisão que existe.
Mais recentemente ainda, o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte, defendeu a existência de uma Ibéria, um país único, porque, na sua opinião, é «um absurdo» que Portugal e Espanha vivam «tão desconhecidos um do outro», devendo a Espanha a absorver Portugal.
Em entrevista concedida ao Diário de Notícias em Julho de 2007, José Saramago defendia a união dos dois países numa Ibéria: «Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.»
O Iberismo Espanhol tem a mesma força centrípeta e castradora que Castela vem exercendo desde o século XIII, absorvendo e aniquilando paulatinamente as várias nacionalidades do território Espanhol. Continua expansionista, como no século XVI e XVII e é fruto do romanismo e das tentações de grandeza de vários intelectuais, quer de um lado, quer do outro da fronteira.
Os exemplos da Galiza, da Catalunha e do País Basco são reveladores, porque ainda são nações submetidas e aculturadas, lutando pela afirmação das respectivas autonomias face à hegemonia de Castela.
Tudo aquilo que nós, os Portugueses que amam o seu país, não queremos que nos aconteça.
Este Iberismo é por isso contrário à ideia de Portugal.
Gosto de Espanha. Gosto mais ainda das espanholas; mas nunca me passaria pela cabeça ser espanhol!
Confraternizemos, sejamos bons vizinhos, cooperemos sem preconceito em tudo o que for do interesse comum; mas que cada um com a sua casa.
Arriba Espanha! Portugal sempre!
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«Arroz com Todos», opinião de João Valente
Desaparecer, sendo absorvidos por Espanha, como solucao para sobreviver parece-me no minino contraditorio. Ja fomos grandes sozinhos, e so voltaremos a ser aquilo que ja fomos quando crescermos outra vez.
VIVA PORTUGAL
Como português de gema, com quilha e cavername construída em terras da raia, embora navegando por mares e marés açorianas, não me posso esquecer que somos fruto de uma prenda de casamento e dos caprichos e vontade de poder do tal D. Afonso, pela graça de Deus Rei de Portugal- dizia ele- e mais tarde das artimanhas alcanicences do D. Dinis.
Bem ou mal o país aconteceu.
Mais importante que a discussão da união política e administrativa será a constatação da existência duma sã vivência em comum como bons irmãos que realmente são, de onde ambos os países sairão fortalecidos. Sim, é a Espanha que é nossa irmã e não o Brasil. Alguém tem dúvidas?
Viva Portugal e Viva Espanha!
Abraços raianos deste lado do canal, que é o mar que nos une e separa.
António André
Precisamente para a tornarem mais fraca!
Dividir para reinar…
O iberismo já existe!Simplesmente de forma disfarçada. E esses arrufos, não sei se patrióticos se nacionalistas,não passam de hipocrisia. Económicamente está patente, no tgv, vê-se, na politica, nota-se… e por aí adiante!
E nós, os arraianos, há muito tempo que o praticamos!E a única razão é simples: sobrevivência!
Eu sou a favor de uma Europa das regiões.
E o que fazemos aos países?
O Poder Corrompe. E o Poder Absoluto Corrompe Absolutamente.
(Lord Acton, em carta ao Bispo M.Creighton, 1887)
O problema é que distancia a que está o poder é tão grande que o torna insensível e absolutamente inatingível.
Se a união faz a força, porque foi que a Alemanha e mais países europeus apoiaram tão vivamente a implosão da Jugoslávia?
Talvez pela mesma razão com que Bismarck apoiou a implantação da primeira república francesa… Para ter um vizinho fraco.
Até gostava que na diversidade pudéssemos encontrar uma união Ibérica.
As espanholas são fixes, aí estamos de acordo 🙂
my gustan las muchachas guapas!
a uniao faz a força
Força para quê? Para invadirmos a Inglaterra com outra invencível armada?
Joao Valente:
A coisa para mim mais detestável, e que me aborreceria solenemente, era ter como Chefe de Estado, alguém não eleito pelo povo, mas sim posto a governar por um ditador, refiro-me a D. Juan Carlos I de Borbón, que deve o trono a Franco.
Do Iberismo são que eu gostava, era o de uma Confederação Ibérica de Nacionalidades, mas Repúblicanas. O que é isto? Portugueses, Galegos, Bascos, Catalâes etc, independentes, mas unidos nesta Peninsula que é o nosso berço, sem um tutor expansionista e estranho a qualquer das nossas linguas e cultura.
O mais irónico é que o iberismo surgiu em Espanha como movimento reivindicativo das várias autonomias, perante o centralismo de Castela. Unamuno defendia o nacionalismo do povo Basco (que ele caracterizou num magnífico ensaio, como de poucas falas e gesto largo) e o poeta e filósofo catalão Joan Maragall defendia o nacionalismo Catalão. O Iberismo Espanhol nasceu mais de uma reivindicação e igualdade de estatuto dos povos Basco Catalão e Galego em relação a Castela La Mancha, enquadrados numa federação ou confederação ibérica. Agora parece que assume um sentido diferente… que é o da completa independência desses povos. António Sardinha, penso que num artigo da revista Àguia, defendia antes um pan-iberismo, que englobava a pan-lusofonia e uma pan-hispanidade. Simpatizo mais com esta ideia.