A SAGA BEIRÃ DOS HENRIQUES – Apesar da insuficiência dos dados de que dispomos neste momento percebe-se já que as famílias judaicas do concelho do Sabugal se cruzaram. Na verdade, a conhecida prática endogâmica das comunidades judaicas ajuda-nos a perceber melhor como se organizaram, movimentaram e resistiram os2 judeus às perseguições inquisitoriais. No Sabugal não terá sido diferente do resto do país.
Com efeito, as Beiras e Trás-os-Montes são autênticos laboratórios de investigação da história do criptojudaísmo. Aliás, é muito provável que as Beiras constituam a principal referência para os estudos judaicos durante o período de vigência dos tribunais do Santo Ofício (Lisboa, Coimbra, Évora), entre 1536 e 1821.
Atendendo às referidas insuficiências de dados, escolhemos as duas grandes famílias judaicas do Sabugal: os Henriques e os Rodrigues, como vimos anteriormente. Obviamente, há que ter em conta que estamos a falar apenas daqueles que caíram nas malhas da Inquisição, o que deixa de fora os que podem ter saído incólumes, ou os que tenham emigrado.
Começamos com os Henriques. Cruzando os locais de nascimento desta grande família judaica do Sabugal com os locais de residência quando foram presos, veremos melhor os seus percursos, quer por fuga à Inquisição, quer por alastramento da sua presença na região das Beiras, por razões familiares (casamentos) ou profissionais (actividades comerciais).


Ao observar o quadro, constatamos que podemos estabelecer dois grandes períodos para os Henriques. O primeiro, entre 1565 e 1725, em que os portadores daquele apelido nascidos no Sabugal acabaram presos pela Inquisição no próprio Sabugal (5), na Guarda (4), no Fundão (2), em Almeida (1), em Seia (1), em Santarém (1), nos Açores (1), na Galiza (1), no Brasil (1). Podemos concluir que os judeus, depois de algumas prisões de sabugalenses no próprio Sabugal, fugiram da sua terra natal para se fixarem noutros concelhos, principalmente na região das Beiras.
No período seguinte, entre 1725 e 1752, os Henriques nascidos noutros concelhos viriam a ser presos no Sabugal, naturais de Almeida (7), de Pinhel (6), de Penamacor (3), do Sabugal (2), Guarda (1), de Idanha-a-Nova (1), do Fundão (1), de Faro (1).
De facto, observa-se o percurso inverso, ou seja, um certo regresso ao Sabugal. Em todo o caso, foram menos os Henriques naturais do Sabugal a serem presos no seu próprio concelho (2) do que no período anterior (5).
CONCELHOS BEIRÕES DAS PRISÕES DOS HENRIQUES | |
MAPA 1 – ENTRE 1565 E 1725 | MAPA 2 – ENTRE 1725 E 1752 |
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Em suma, as deslocações dos Henriques – todos eles acusados de judaísmo – quase que se circunscreveram às Beiras ao longo de quase dois séculos de perseguições inquisitoriais (1565-1752), como se pode verificar nos mapas seguintes.
Quanto aos cruzamentos, por casamentos, dos Henriques com outras famílias judaicas, destacam-se os Rodrigues, com 13 ligações familiares, seguida dos Nunes, com 11 e de uma diversidade enorme de outras famílias, embora com diminuta representatividade, tais como: Almeida, Magalhães, Costa, Gonçalves, Mercado, Cunha, Solla. Com estas ligações, temos um alargamento da grande família judaica das Beiras em geral e do Sabugal em particular.
Para investigação futura, aqui fica uma genealogia provisória, muito incompleta certamente, de um dos ramos da família Henriques, com os anos de prisão dos réus identificados.
«Na Rota dos Judeus do Sabugal», opinião de Jorge Martins
martinscjorge@gmail.com
Entretanto já consegui dados mais concretos da minha família Campos+Henriques
Já sei bastante sobre o meu ramo Campos (Almeida Campos), que está inclusive muito bem estudado e colocado na Geneall. Sei também que os antepassados desta grande família têm vários processos na inquisição.
O meu ramo Henriques ainda ando a averiguar, mas também já sei que se cruza a certa altura com o ramo Campos, vou ter que investigar exactamente esse cruzamento e os antepassados.
Vou estar atenta ao seu livro sobre o Sabugal. Muito obrigada pela resposta.
Olá Dulce,
Mandei um email pra você pelo Geni perguntando mais a respeito da familia Henriques, acho que a minha trisavó Maria Emilia henriques pode ser prima do seu trisavô.
Se puder responder ficarei grata
Boa noite.
“Encalhei” com o seu nome ao receber uma dica do MyHeritage, que me levou ao Geni e daí ao FamilySearch. Pelo seu lado dos Campos Henriques, somos definitivamente familiares, o seu trisavô, penso, Luís era irmão do meu trisavô Francisco.
Se lhe interessar, gostaria de trocar informações consigo. Deixo os contactos aqui, foi a única forma que descobri de a contactar, até agora.
Olá, eu não sei se sou descendente ou não desta grande família Henriques, o certo é que o meu trisavô paterno se chamava Felizardo Henriques, a minha avó paterna (sua filha) se chamava Judith de Campos Henriques, e muitos outros familiares todos deste ramo da família se chamavam Campos Henriques. Eu tenho Campos Ladeiro. O apelido Campos terá vindo da minha trisavó (ninguém dos vivos, infelizmente, se lembra do nome dela, para já). Eram todos da região da Guarda, ou de Belmonte… O que sei é que os meus trisavós após terem vindo do Brasil foram viver para o Azevo, freguesia de Pinhel. Depois de ter lido este artigo fiquei com curiosidade de saber mais sobre este assunto. Será que indo a Belmonte consigo mais informação sobre os meus familiares?
Obrigada pelo artigo, foi muito esclarecedor….mas agora fiquei cheia de curiosidade.
Cara Dulce, eu também estudei a família Campos na Inquisição, porque houve uma Rua Campos no Sabugal, devido à importância que teve por lá. Peço-lhe que esteja atenta, porque vou publicar num livro sobre o Sabugal.
A propósito de laboratórios de investigação histórica do criptojudaísmo, foi recentemente apresentada como tese de doutoramento, penso que na faculdade de ciências, um trabalho de analise do ADN de varias comunidades de Bragança que se reclamavam de ascendância judaica. A conclusão foi de que apresentavam 10% mais de traços orientais que as restantes comunidades. A tese, porque causou polémica (ignoro o motivo), parece que foi retirada.