«A Estrada» é bem capaz de ser um dos filmes mais negros e sombrios deste ano, tal como já acontecia no livro em que se baseia. Não tive oportunidade de ler a obra original de Cormac McCarthy, mas pelo que já me contaram a história é realmente sombria.
Mas literatura à parte, «A Estrada» filmada pelo australiano John Hillcoat é um filme que não nos deixa confortáveis na cadeira do cinema. É a história de um homem e um rapaz, pai (Viggo Mortensen) e filho (Kodi Smit-McPhee), que atravessam os EUA em fuga não se sabe de quê.
Apenas vamos sabendo alguma coisa através das histórias que o pai conta ao rapaz, de algumas (das poucas) personagens com quem o par se cruza ou através dos sonhos do pai, que remetem para o passado da família, quando a mãe do miúdo (Charlize Theron) ainda é viva.
Pouco mais adianta saber para se entrar na estrada que os dois percorrem, sempre para sul, onde estará a suposta salvação.
Com uma história original muito forte, John Hillcoat só tinha de seguir o livro das regras e consegue-o pois tal como já referi, quem entra nesta estrada com o pai e o filho arrisca-se a entrar num mundo muito cinzento. E o rasto de destruição que desfez os EUA está bastante bem conseguido graças à maravilhosa fotografia de Javier Aguirresarobe, que tanto nos apresenta o presente da acção em tons mais escuros, como nos mostra o passado da família em tons mais iluminados, mesmo nos tempos mais difíceis.
Outro dos pontos fortes deste «A Estrada» é o desempenho dos dois actores que formam o pai e o filho. Kodi Smit-McPhee está à altura num papel bastante difícil, pois tem de representar uma relação muito forte num ambiente hostil. E Viggo Mortensen puxa dos galões e prova uma vez mais o excelente actor que é. É possível que consiga arrancar uma nomeação para os Óscares com esta interpretação.
O que também está muito bom é a banda sonora, a cargo de dois grandes nomes: Nick Cave, que já tinha escrito o argumento do filme anterior de Hillcoat, e Warren Ellis, um compincha de longa data do cantor australiano.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
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