:: :: ESTATUTO PROFISSIONAL DOS RÉUS :: :: O estatuto profissional dos réus dos 143 processos da Inquisição referentes ao actual concelho do Sabugal não é conhecido para cerca de metade deles.

O jornalista Rui Isidro é director da Rádio Altitude e administrador do blogue «Jogo de Sombras». Hoje, 19 de Dezembro de 2009, quando se comemoram os dez anos da transferência de Macau para a soberania chinesa e na qual Rui Isidro teve intervenção directa é o momento ideal para destacar o seu espaço na blogosfera. A fotografia da cerimónia de arriar da bandeira portuguesa que reproduzimos é protagonizada, segundo nos confirma o Rui Isidro, por um cadete com origens no Sabugal. Que dê um passo em frente e se identifique…
«Dez anos depois da Cerimónia de Transferência de Poderes de Macau, decidi passar a público, neste caderno de bordo, pelo menos uma pequeníssima fracção de memórias documentais que guardo daquele tempo histórico. Que tive o privilégio de viver por dentro», escreve Rui Isidro na sua crónica intitulada «Há dez anos».
Macau foi a última jóia do Império. Portugal administrou o território «entalado» na grande China e vizinho da britânica Hong-Kong durante 442 anos. Mas… ao contrário do que aconteceu em todos os outros estados ultramarinos a passagem de testemunho em Macau decorreu após um longo processo diplomático entre as Repúblicas de Portugal e da China. Negociações que proporcionaram um futuro tranquilo e de grande pujança económica.
Parabéns, Rui Isidro, pelo excelente trabalho de guarda de memória colectiva. «Um jornalista deve, em primeiro lugar, relatar factos», ensinava-me um dia o professor Fernando Cascais. Os relatos escritos no presente do indicativo são, no futuro, testemunhos pessoais que preservam a memória dos povos. Dez anos depois é tempo de recordar a transferência de Macau no «Jogo de Sombras» onde a voz deu lugar à escrita e à imagem.
Um dos três cadetes presentes na cerimónia do arriar da bandeira portuguesa em Macau tem origens no Sabugal. Ficamos à espera que se identifique aqui no Capeia Arraiana.
Blogue «Jogo de Sombras» de Rui Isidro. Aqui.
jcl
jcl
jcl
Fui sempre um acérrimo defensor da descentralização, do poder local, e também da regionalização. Favorável dos sistemas político-administrativos que aproximem a decisão dos cidadãos, em minha opinião só dessa forma se atingirá um verdadeiro e participativo sistema democrático. Penso que a maioria dos portugueses também considera a regionalização essencial para resolver alguns problemas crónicos do país, sobretudo os que se relacionam com o desenvolvimento económico integrado do todo nacional. Infelizmente, por excessiva partidarização do seu processo, não tem sido esse o sentido da orientação política dos últimos tempos e corremos o risco, 11 anos depois do referendo, de a ver adiada outra vez, ou até eternamente.
jcl
O livro «Trabalhos e Paixões de Benito Prada» é um brilhante testemunho da ligação do seu autor, Fernando Assis Pacheco, à cultura galega. O poeta, ficcionista, jornalista e crítico, nasceu em Coimbra, sendo neto de um galego, facto que o terá feito interessar pela Galiza, de que se tornou profundo conhecedor.
O empolgante romance retrata a vida de um galego, Benito Prada, que aos treze anos, resolve seguir as pisadas do pai que caíra doente, indo para Portugal ganhar o sustento da família. Não foi porém como afiador, que era o ofício do progenitor, mas como simples pedinte, por conta de outro galego, que chefiava um bando de miseráveis que percorriam o norte de Portugal. Depois, passou a ajudante de um comerciante de panos e, ao fim de dois anos, estava, praticamente, dono do negócio. De vendedor ambulante, dono de um mulo e de uma carroça, passaria a pequeno lojista instalado em Coimbra, cidade que o acolheu e onde o negócio prosperou tornando-se um dos maiores comerciantes de fazenda ali fixados.
Em paralelo às aventuras de Benito, o livro é também uma crónica da vida difícil na Galiza e da aflição nas famílias durante a guerra civil de Espanha. É também uma acirrada crítica à política portuguesa, com especial ênfase no conturbado período da presidência de Sidónio Pais e, depois, no domínio de Salazar e de Cerejeira.
Como grande repórter Fernando Assis Pacheco evidenciou-se como homem de grandes revelações. Escreveu sobre variados temas, onde esteve sempre presente a referência à boa gastronomia, especialmente a que assenta no saber popular. Quem o conheceu e com ele conviveu recordará um homem bem disposto, amante das coisas boas da vida, de onde se contavam a degustação dos bons acepipes da cozinha tradicional. O seu fascinante romance ora evocado não deixa de mostrar esta faceta do autor, que a cada passo dá referência a boas e importantes ementas, pois a vida das pessoas passa também por pegar numa naifa e cortar uma fatiga de broa para emborcar acompanhada por uma rodela de chouriça ou sentar-se à mesa e servir-se da panela para comer de faca e garfo. Muitos escritores, na ânsia de descreverem a acção mais relevante quase esquecem que ao falarem de pessoas, as têm de ir sentando à mesa. Sem manjar não há sobrevivência possível, além de que a refeição tem um interesse social que não pode ser olvidado quando se relata a vida de pessoas.
Assis Pacheco descreve a parca e miserável alimentação que os galegos de antanho comiam de portas a dentro, fala-nos na fugaz merenda dos afiadores e dos comerciantes ambulantes, mas também da comida divinal servida em restaurantes e preparada por mãos experientes. Partindo do caldo de berças, temperado com toucinho, saído das mãos da mãe de Benito Prada em Casdemundo, o autor conduz-nos até às comidas de eleição degustadas nas casas de pasto: galinholas estufadas, paella à sevilhana, arroz de polvo, cozido à portuguesa, cabrito estufado.
Magistral é a descrição da alimentação do protagonista do romance quando se instalou em Coimbra numa pequena loja de panos:
«O galego almoçava a frio de um tacho que trazia do quarto em Santa Clara, fechando a porta do estabelecimento para não ser surpreendido. Como levasse a poupança ao exagero, as sobras serviam-lhe de ceia. De tempos a tempos, um domingo por outro, metia-se no eléctrico e subia até Santo Agostinho dos Olivais, onde ia enganar a solidão de emigrante no Agostinho, cuja especialidade era chanfana de cabra velha cozinhada em vinho carrascão. Fome e mau comer tinham-no perseguido desde a Galiza e fora da Galiza, e só no tempo de feirante ganhou o gosto pelas refeições a horas, bem regadas, não raro em companhia do Grego, que era sócio com o dr. António Santiago de uma marinha que estava a peixe e nunca se esqueceu de partilhar com ele as canastras de enguias, mandadas fritar em alho e pimentão à moda dos almocreves».
«Trabalhos e Paixões de Benito Parda», o romance que nos traça a epopeia de um galego errante que acabou por assentar arraiais, tornando-se em próspero comerciante, é também um bom roteiro gastronómico, que se lê com prazer e com água na boca.
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com