Esse supremo bem que é a verdade, cada vez se encontra mais só, mais abandonada, como se fosse um vírus maléfico. No tempo presente, o homem procura-a, mas onde? No êxito, no poder, no dinheiro, na fama, aí é que ela não pode estar, nesses sítios predomina a mentira a hipocrisia e o cinismo.
Se a verdade está ausente, quem veio ocupar o lugar que lhe pertence? Os espertos, os politicamente correctos, o poder político, o poder económico e o poder mediático, que fazem passar por verdade total e absoluta, os seus próprios interesses. Quem não sabe o que é a publicidade? Quem nunca assistiu a uma campanha eleitoral? O que nos mentem! Fazendo passar todas as mentiras por verdades supremas, e o mais interessante é que a maioria das pessoas acredita.
Mas se alguém se atrever a dizer ao poder económico, mediático e político, que a verdade é um valor universal, e não propriedade particular de ninguém, sujeita-se a ser ridicularizado pelos que identificam o seu poder com a verdade.
Liberdade? Na constituição e nos Decretos, quanta quisermos, mas só para aqueles que não ponham em causa a legitimidade do sistema, porque os que põem em causa essa tal legitimidade, espera-os o desterro interior, e essa lei do silêncio que é a censura. Esta nova censura, não tem nada a ver com a das ditaduras, é muito mais eficaz, e feita com uma subtileza fantástica: negar a palavra sem a proibir.
Fixemo-nos neste nosso rectângulo que é Portugal: os que nós elegemos, os que nos governam, fazem-no a favor do bem comum, da justiça social, da concórdia, da amizade, da confiança no futuro, da paz e da felicidade da maioria? A verdade é inseparável destes valores, por isso ela está ausente, e sem ela, há medo e ausência de felicidade.
Para finalizar o artigo, querido(a) leito(a), quero dizer-lhe o seguinte: afrontar o sistema estabelecido leva mais tarde ou mais cedo ao desterro interior, que não é mais nem menos do que uma solidão, é das coisas que mais dói.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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Sim.
Mono:
O que escreveste é um dogma?
A verdade não existe.
Ai não, que não existe…
Podemos por toda a nossa vida mergulhar num lamaçal de trocadilhos mentais, podemos faze-lo, ninguém se vai importar com isso. É mais fácil continuar na comodidade do ninho esperando o alimento que os pais trazem, mas um dia temos de nos confrontar com o abismo, confiando nas asas que abrimos ao vento, não numa luta mas sim numa entrega, e como dois amantes tornamo-nos num simultaneamente autónomos e dependentes, fluindo num mar líquido.
Ninguém disse que a verdade não existe, ela existe sim, mas encerra em si a dualidade da sua negação (mentira), e é sem essa dualidade ou complemento que a verdade tal como a concebemos (separando-a da mentira), não existe.
Meus Senhores:
Quando eu estudei filosofia no meu sétimo ano, havia uma pequena e valiosa brincadeira, que dizia o seguinte:
Se é verdade, que a verdade, não existe, logo é verdade, que a verdade existe.
Quem pensa pela sua própria cabeça, é sempre um desterrado das ideias.
De vez em quando numa esquina do pensamento, lá aparece alguém que acompanha um pouco da viagem, depois continua-se solitário.
🙂
E então?
É a sina dos que pensam.
Os estoicos, constatado o facto, suicidam-se. Espero que não seja esse o desfecho…
A solidão é um mecanismo sentido no qual alguns homens e mulheres mergulham e que se caracteriza numa primeira fase pela dor resultante do desejo não atingido. Numa segunda fase, para alguns raros caminhantes, essa solidão altera-se para dar lugar a um sentimento de plenitude ou de contacto com realidades sensoriais não perceptivas no meio do ruído que o desejo provoca. A verdade jamais pode existir sem a mentira, elas são a mesma coisa, servindo o mesmo propósito.
Não te marginalizes, não vale a pela. A mentira é que estará sempre à margem e afunda…