Ao ler o livro «Portugal e os Judeus» cedido por uma amiga, lembrei-me do Sabugal e do facto cada vez mais evidente, de estarmos a desperdiçar uma parte importantíssima da nossa História. Os judeus já por cá andavam antes da fundação da nacionalidade, formavam comunidades importantíssimas e a do Sabugal era uma delas.
«…a questão judaica em Portugal tem permanecido numa acentuada penumbra, sem que se consiga explicar cabalmente como é possível fazer-se a História de Portugal, obliterando os judeus e o judaísmo da nossa memória colectiva.»
(Jorge Martins, Portugal e os Judeus, vol. 1, p. 19)
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Ao percorrer as ruas da «Vila» – nome ainda hoje dado pelos locais à zona histórica do Sabugal – são inúmeros os sinais da presença dos judeus.
Se tivermos em consideração que os judeus foram perseguidos, os seus objectos destruídos e a sua cultura condenada durante mais de 300 anos, poderíamos pensar que nada iria restar como testemunho dessa importante comunidade.
Contudo não é assim.
São muitos os sinais que ainda hoje se podem sentir naquela que poderá ter sido uma das mais importantes comunidades judaicas desta região da Ibéria.
O valor da Judiaria do Sabugal tem sido menosprezado por quem devia ter mais atenção relativamente a este assunto, atendendo aos sinais observáveis no exterior das edificações ainda hoje (cruzes e outros), mas também a muitos sinais existentes no interior destas (como exemplo o imponente aron ha codesh da «Casa do Castelo»), poderemos admitir que não são apenas restos de uma cultura que foi reprimida e destruída ao longo de séculos, o que hoje nos é dado observar são vestígios que apesar de toda a destruição nos chegaram, representando a ponta de um enorme Iceberg que foi a importante Judiaria do Sabugal.
Para alguns isto poderá parecer um absurdo, contudo os documentos que se vão descobrindo vêm-nos obrigar a reconhecer que a «Vila do Sabugal» foi em determinado momento uma das mais importantes judiarias da Ibéria.
Para nós Sabugalenses, esta certeza reveste-se da maior importância, pois este facto permite um enriquecimento em termos históricos e culturais capaz de gerar conteúdos que atrairão à Judiaria do Sabugal milhões de turistas, turistas que aqui poderão aprender a enorme importância que a comunidade judaica teve na história desta cidade e na da Ibéria.
Recusar esta realidade é desvalorizar o diamante em bruto que temos nas mãos.
É tempo de olhar para a Judiaria do Sabugal como um factor histórico e Cultural capaz de gerar um enorme valor acrescentado em termos de turismo cultural, ou corremos o risco de deitar fora um diamante valiosíssimo apenas porque a ignorância ou o preconceito impedem de reconhecer o seu valor.
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«O Bardo», opinião de Kim Tomé
Caro Kim Tomé.
Para além de ter publicado um belo texto, tem uma visão muito importante sobre a “questão judaica”, designadamente ao sugerir um roteiro judaico do Sabugal. Vá em frente e apresente um projecto à sua Câmara Municipal, pois as autarquias já perceberam as vantagens culturais e turísticas desses roteiros. Conte comigo para ajudar a divulgar esse trabalho.
http://portugaleosjudeus.blogspot.com
Abraço,
Jorge Martins
🙂
Muito me honra estar em discurso directo com o autor do livro.
Tenho para mim que o problema reside no facto de os preconceitos e a ignorância impedirem muitas pessoas de ver o que é demasiadamente obvio até para um leigo como eu.
Como é sabido a maior dificuldade é mudar as mentalidades e, neste nosso Portugal temos ainda muita gente de mentalidade fechada, incapaz de olhar sem ser à luz dos seus preconceitos.
O meu texto tem em vista alertar para este diamante por lapidar que é a Judiaria do Sabugal, tentando chamar à atenção para a urgente necessidade de valorizar com conteúdos esta jóia.
Todos somos poucos a lutar contra a ignorância e neste caso penso estarmos de braço dado 🙂
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Caro Kim Tomé.
Juntemos, então, os nossos esforços para tornar uma realidade o roteiro judaico do Sabugal. Em breve, talvez nos encontremos na Casa do castelo para esse efeito.
Abraço,
Jorge Martins
Muito me agrada saber que se disponibiliza para ajudar a qualificar esta importante “Joia”.
É uma importantíssima contribuição, pois alguém entendido pode sempre dar uma perspectiva mais correta dos factos, o que sem duvida será sempre uma mais valia para o enriquecimento do conhecimento histórico do Sabugal.
Será com ansiedade que o espero, e egoisticamente me declaro ansioso por aprender consigo 🙂
Um sincero agradecimento pela atenção que tem dado a esta questão da Judiaria do Sabugal.
A questão do judaísmo é pertinente e essencial à compreensão da história de Portugal e, claro do concelho do Sabugal. É que a presença e, portanto, vestígios da presença de judeus não é só no Sabugal – cidade!´Ha aldeia com imensos vestígios da sua presença!
Fale-se da presença e importância dos judeus mas em todo o concelho!!! E não só na sede do concelho!
Por acaso estou de acordo 🙂
Eu falei na “Vila” do Sabugal talvez por ser onde estou mais em contacto com as coisas, contudo penso que se fossem estudados e trabalhadas as fontes poderia existir no concelho do Sabugal uma significativa rota dedicada a estes temas.
Em cada português corre 20% de sangue judeu e 10% de sangue árabe… Negar isso é preconceito contra a nossa própria identidade. Post oportuno.