Como arraiano e natural do Concelho do Sabugal queria, mui modestamente, deixar aqui apenas um pequeno contributo, como uma achega, ao que o artigo de Romeu Bispo referiu acerca das notas do empenho do Sr. Dr. Francisco Maria Manso.

O dr. Francisco Maria Manso era natural da minha terra, Aldeia do Bispo.
Foi contemporâneo do meu avô paterno, cujo nome herdei. Era o médico da família. Recordo, às segundas-feiras, por volta das 15 horas, era dado um sinal, através do sino. As pessoas doentes ou precisadas de cuidados médicos dirigiam-se ao seu consultório. Muitas famílias estavam avençadas, como acontecia com a minha, e o valor das consultas anuais eram pagas em géneros, principalmente centeio.
Como paciente não tenho recordações muito gratas. Com cerca de seis anos caí de um muro, na Rua Nova, e tive de ser suturado com três agrafes nos lábios e tive de extrair um ou dois dentes a sangue frio. Como homem e benemérito foi uma pessoa espectacular em favor dos outros, e, como médico e profissional, apesar dos fracos meios existentes, foi de uma conduta a todos os títulos meritória.
No Hospital do Sabugal, ignoro a data, foi submetida a uma intervenção cirúrgica ao apêndice a minha extremosa mãe, falecida há um ano, tendo feito parte da equipa o Dr. Manso. Outros episódios havidos, no hospital do Sabugal, existiram, mas de momento, não me recordo.
Mas o assunto principal prende-se, sobretudo com o Cortejo de Oferendas, então organizado, como forma de angariar fundos para custear as despesas da construção do hospital do Sabugal. Entre os principais impulsionadores esteve o Dr. Manso, entre muitos outros cujos nomes desconheço, embora saiba os de alguns.
Tive conhecimento que todas as aldeias se mobilizaram e participaram, dentro das suas parcas posses, porque os bens essenciais eram arrancados das terras, à custa de muito sangue suor e lágrimas. Lavradores de avultadas posses eram escassos, a população, na sua grande maioria, vivia da «jorna» ou da «jeira» ou do amanho das terras a «meias», «terças» ou «quartas».
Tive conhecimento, sobretudo através de relatos orais de pessoas mais idosas que Aldeia do Bispo se mobilizou e até, nessa altura, para assinalar a efeméride se criou um «Hino» da autoria do Sr. Dr. Francisco Manso, com a colaboração de outros conterrâneos e amigos que nos dias de hoje perdura, embora com ligeiras adaptações e alterações.
Como forma de ilustrar e justificar tal facto aqui deixo o…
Hino de Aldeia do Bispo
Aldeia do Bispo avante
A cantar e a trabalhar
Cada seara ondulante Refrão
É um poema a vibrar
Vimos de terra arraiana
À festa do hospital
Trazemos cravos d’Espanha
E a alma de Portugal
O sol das nossas touradas
E as tardes de maravilhas
Erguem-se hoje em pinceladas
Neste lençol de mantilhas
Hoje, existem várias adaptações, conforme as circunstâncias e o cantor. Entre as várias a mais usual é a seguinte (primeira quadra):
Somos de terra arraiana
Concelho do Sabugal
Trazemos cravos d’Espanha
E a alma de Portugal.
Manuel Nunes
Homenagem a 2 grandes médicos (Dr. Manso e o Dr. Adalberto Pereira).Eram os médicos dos meus pais e restante família