Os ingleses chamam a esta época de Verão a «silly season», que os brasleiros traduziram pela «estação da bobagem»…
É a altura em que nada havendo para noticiar, chegam aos jornais e às televisões tudo o que vem à cabeça, desde os fenómenos do Entroncamento aos candidatos aos Livros de Recordes…
Parece que tal está a acontecer um pouco neste blogue onde já vieram a terreiro desde as questões do homossexualismo, ao magno problema dos «escarradores» e do «respeitinho pela autoridade», passando por aquele tristemente célebre homem «que ainda usava ceroulas», mais conhecido por Salazar…
Felizmente estamos perto de eleições e o blogue não tem descurado esta situação, e ainda bem…
Mas chegou também a minha altura de integrar o espírito da época e me afastar um pouco dos problemas reais do nosso Concelho. Mas, não conseguindo encontrar nada de verdadeiramente estival, decidi falar sobre isto…
O mundo que se vivia há quarenta anos não era, custe a quem custar, o que alguns tentam hoje fazer passar.
O capitalismo industrial mais retrógrado, associado a um capitalismo rural de terratenentes cujos lucros resultavam da exploração extensiva das planícies alentejanas e da sobreexploração das populações rurais, associado ainda à exploração desenfreada das colónias, este o cenário onde Salazar e os seus acólitos (incluindo o inenarrável Tomás), eram o garante da sobrevivência daquelas classes.
Ao cidadão comum (hoje podemos dizer assim pois naquele tempo este era um termo não muito bem visto…), pouco restava do bolo, e para mim chega o exemplo do meu pai que, gerente e guarda-livros do Grémio da Lavoura, tinha em 1974 um vencimento mensal de pouco mais de mil quinhentos escudos, obrigando-se a fazer escritas um pouco por todo o lado, para poder ter os filhos a estudar.
E éramos mesmo assim uma minoria os jovens que nos podíamos dar ao luxo de dizer que estudávamos…
O respeitinho era uma coisa para os pobres ou já esquecemos os colégios que havia pelo o País onde se metiam os filhos das famílias bem para serem controlados? Ou de outra forma, as jovens criadas engravidadas pelo filho do patrão? Ou já ninguém se lembra do célebre escândalo dos «ballet rose» que obrigou um certo ministro de Salazar a ser punido com o cargo de Governador-Geral de Moçambique.
Havia insegurança, mesmo que alguns queiram esconder isso, pois se não, para que eram as cadeias que havia em todos os Concelhos, incluindo o Sabugal?
E parte da insegurança que hoje se sente tem entre outras, origem nos bairros de lata que, curiosamente, têm a sua génese no regime derrubado em 1974… E só quem não viveu, como eu vivi, junto a um bairro da lata é que não sabe como na década de setenta a polícia não entrava nesses bairros que eram verdadeiras terras sem lei.
Claro que muita coisa mudou, a maior parte, penso, para melhor, alguma para pior. Para uns, a quem interessa louvar o «antigamente», tudo serve para denegrir a sociedade portuguesa actual.
Mas quando coloco o que está melhor num dos pratos da balança e o que está pior no outro, nem com todas as «águas-bentas», nem com a minha elevada miopia, consigo ver a balança a pender para o lado do pior.
Nem nesta época estival…
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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Pois não!
Nem com miopia, nem com a inteligência entorpecida ao calor do Verão…