«É uma obra de que muito me orgulho», remata à nossa chegada Joaquim Ricardo. O candidato à presidência da Câmara Municipal do Sabugal esperava-nos junto ao portão da Liga dos Amigos de Aldeia de Santo António. Após uma visita guiada às instalações era tempo de seguir viagem até à sede de campanha instalada numa vivenda com vista para o rio Côa. Na entrevista, sem limitações nem temas tabu, aproveitámos para perceber melhor o que move este sabugalense numa corrida em que participa como independente nas listas do MPT-Partido da Terra.
– Em que momento considerou que devia avançar para a presidência da Câmara Municipal do Sabugal?
– Foi neste mandato. Foi a meio do mandato. Eu não hostilizo o actual presidente Manuel Rito que é um homem de decisão. Mas quando disse que não estava disponível para a recandidatura eu pensei – então para onde vamos? fica tudo na mesma? – apercebendo-me que os nomes que se perfilavam não eram alternativa para o concelho.
– Se Manuel Rito se recandidatasse então Joaquim Ricardo não estaria na corrida?
– Não. Decididamente não.
– Houve uma tentativa de aproximação ao Partido Socialista que não se concretizou…
– Não sei o que se passou. Mas há uma coisa que tem de ficar clara. Eu disponibilizei-me publicamente para o concelho fosse qual fosse o partido. Está escrito numa crónica que publiquei no Capeia Arraiana. Sei que houve jogos de bastidores tanto no PS como no PSD para que eu fosse o candidato. Mas não sei o que correu mal. Eu não sou político. Houve, inclusivamente, elementos ligados ao Partido Socialista do Sabugal que me pediram para aguardar. De um momento para outro aparece outra escolha. Elementos ligados aos dois partidos defenderam que eu era o candidato com melhor perfil, mais preparado, com melhores qualificações profissionais e que mais garantias dava aos sabugalenses.
– Mais bem preparado? Porquê?
– Pelo meu curriculum e pelas ideias que transmiti ao longo destes últimos anos. Sobre o que pensam os outros candidatos tudo é desconhecido. Quais são as ideias dos outros candidatos? As minhas são conhecidas. Será que os outros estão à espera que eu avance com ideias? Quer um exemplo? O nome do candidato socialista foi anunciada à pressa. Pergunte-se aos militantes do PSD e do PS Sabugal se foram ouvidos ou achados para a decisão da escolha dos respectivos candidatos. Terá sido uma decisão democrática? E onde está escrita. Apresentaram-se e disseram – o nome é este – e não houve mais nenhuma hipótese em cima da mesa. Na última assembleia municipal os deputados socialistas demitiram-se questionando se o PS não tinha militantes e era necessário escolher um candidato que sempre esteve identificado com o PSD.
– Como tem decorrido a elaboração de listas do MPT para as Juntas de Freguesia?
– Costumo dizer que partimos um quilómetro atrás dos outros candidatos. Assumimos desde o início a independência da nossa candidatura. Só não é despida de qualquer apoio partidário devido às dificuldades burocráticas. Recordo que são necessárias cerca de 2000 assinaturas para legitimar uma candidatura independente à Câmara, à Assembleia e às Juntas de Freguesia. O Partido da Terra, com valores ambientais com os quais me identifico, aparece para me ajudar a ultrapassar a burocracia eleitoral.
– A aposta é na juventude ou na experiência…
– Na juventude. Precisamos de renovação das ideias. A mudança só pode ser protagonizada por gente jovem e nunca por pessoas com vícios. A evolução do Sabugal passa pela mudança das mentalidades, das políticas e dos comportamentos. E isso não se faz com um candidato da continuidade. Há mais de 30 anos que o concelho do Sabugal tem sido governado, praticamente, por dois partidos. Estamos estagnados quando ao nosso redor todos os concelhos evoluiram.
– O que deveria ter sido feito de forma diferente?
– As grandes decisões políticas deviam ter privilegiado a criação de empregos e incentivos às empresas com a eliminação de barreiras burocráticas, elaboração de projectos de investimento e a captação de investidores de fora para dentro. Nas freguesias do Sabugal há um bairrismo que não faz sentido. O Soito é um caso muito especial que nunca teve aquilo que merecia. O Soito sempre foi prejudicado por liderar a autarquia. O Soito tem o seu lugar de direito no concelho e merece ser tratado de outra forma. Não com esmolas nem como elefantes brancos que não criam empregos. O Soito já foi a aldeia mais industrializada do País e agora é a vila mais pobre.
– Mas o Soito tem o Centro de Negócios Transfronteiriço…
– Não. Está enganado. Aquilo é um centro comercial. Perderam-se grandes oportunidades com investidores que não encontraram nas autoridades locais o apoio que procuravam.
– Estamos muito longe de tudo ou estamos mais perto da Europa?
– Os camiões TIR têm muita dificuldade em chegar ao Sabugal. Defendo como prioridade as ligações à Guarda e à Covilhã por via rápida e a Vilar Formoso por uma estrada nacional que não passe pelo centro das localidades. A solução não passa por ligações à A23 onde somos obrigados a andar para trás.
– Como é que se combate a desertificação?
– Já escrevi – não mandei nem pedi a ninguém para o fazer por mim – que o problema da desertificação se combate criando condições para a fixação dos jovens e oferecendo qualidade de vida aos idosos. Nós temos 29 IPSS’s que significam 800 postos de trabalho directos. Num espaço de quatro anos podem ser alargados para cerca de mil se as instituições forem bem apoiadas. Eu proponho a criação no concelho de cursos em geriatria promovendo a fixação dos jovens.
– Defendeu recentemente a «importação» de idosos para os lares do Sabugal… Essas ideias vão de encontro ao projecto anunciado para a Malcata?
– Ainda bem que fala nisso. Na instituição que fundei e que tenho a honra de presidir estão idosos de vários pontos do País. Se a isso se chama importar idosos não me incomodo. Temos que alargar horizontes para cativar idosos de todo o País e dos países de acolhimento dos nossos emigrantes. A ideia do hospital da Malcata surgiu quando foram lançadas a minha candidatura e do candidato do PS para minimizar a sua importância. No entanto, desde o primeiro momento, a ideia do investimento de 40 milhões de euros para a criação de um hospital teve todo o meu apoio. Se, para a sua concretização, fosse necessário sacrificar a minha candidatura não pensaria duas vezes. Eu amo em primeiro lugar o meu concelho. Mas, infelizmente, ainda ninguém viu a cara do investidor. Gostaria que ficassse escrito que não acredito nesse projecto.
– O que quer dizer com «Um presidente a sério e igual para todos»?
– Considero que tenho capacidades para a concretização de projectos. Para mim sabugalenses são todos aqueles que estão ligados a este concelho independentemente de serem naturais ou descendentes e do lugar onde residam. Vou governar para que todos os que vivem foram coloquem a hipótese de regressar colocando os seus conhecimentos adquiridos ao serviço do concelho.
– Há quem diga que esteve ausente do concelho e só aparece agora…
– Nunca estive ausente. Fundei em 1998 a Liga dos Amigos da Aldeia de Santo António e criei 20 postos de trabalhos. É estar ausente e investir um milhão e oitenta e seis mil euros? Então quem está presente que diga o que fez. Os meus adversários que digam o que já fizeram.
– Como vai ser depois das eleições…
– Só coloco o cenário de vencer as eleições e ser um presidente disponível 24 horas para servir o concelho. Mas se não tiver o apoio dos sabugalenses levarei o cargo de vereador até ao final do mandato e não me voltarei a candidatar.
– O que gostaria que não acontecesse nesta campanha eleitoral?
– É uma questão muito importante. Infelizmente estou a sentir que os candidatos usam os cargos pelos quais estão a ser pagos e os dinheiros que estão à sua disposição colocando-os ao serviço dos seus interesses pessoais. Utilizam dinheiros e o cargo para pressionarem sabugalenses com compromissos já assumidos com outras candidaturas. As pessoas não querem dar a cara com medo. Eticamente é reprovável. Eu nunca faria isso estando no poder. Isso só prova que essas pessoas estão inseguras do reconhecimento que o povo tem pelo seu trabalho. Eu seria incapaz de prometer empregos que não tenho para oferecer.
jcl e plb