Quando vim para Lisboa, no há muito ido ano de 1952, estavam afixados em muitos locais da cidade editais que proibiam cuspir, tanto no chão dos estabelecimentos públicos ou privados como também na via pública.
Quem tivesse a ousadia de cuspir ou lançar restos de tabaco no chão ser-lhe-ia levantado um auto e aplicada uma multa que podia chegar aos 500 escudos, caso o assunto seguisse para despacho judicial. Em contrapartida, nas escolas, cafés, casas de espectáculos, igrejas, e no geral dos locais frequentados pelo público, havia escarradores suficientes para serem usados pela população que os frequentava.
Era nessa época comummente aceite a ideia de que o ser humano necessitava de escarrar, hábito de resto enraizado na população portuguesa daquele tempo. Por isso cuspir não era considerado um acto repulsivo nem deselegante, antes sendo absolutamente vulgar e tolerado, desde que efectuado para o recipiente apropriado. Na falta de um escarrador as pessoas cuspiam para o chamado lenço das mãos, que andava sempre no bolso das calças ou do casaco.
Os tempos mudaram e os hábitos também. Hoje o acto de cuspir não é bem aceite, sendo até repugnante que alguém o faça em público. De facto é difícil de imaginar que alguém, perante outras pessoas, se ponha a arrancar ruidosamente a expectoração da garganta e depois a expeça para o solo ou para os lencinhos de papel que hoje se usam. Esse é um acto inaceitável.
Sucede porém que por vezes o ser humano, até por razões de saúde, tem mesmo de expelir cuspo, impondo-se que o faça em algum lado. Ora o inaceitável é que tenham retirado dos locais públicos os escarradores, impedindo assim as pessoas de fazerem o que para algumas é de facto uma precisão.
Em contrapartida sucede às vezes a rapaziada nova, hoje menos respeitadora do que antigamente, se dedicar a cuspir para o chão, para as paredes e para o ar, muitas vezes em ar de mofa e de escárnio, sem que porém as autoridades possam verdadeiramente interferir. Ai se fosse no outro tempo, que logo a autoridade lavrava auto e aplicava a respectiva coima.
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«Tornadoiro», crónica de Ventura Reis
“a defender a teoria e façanhas fascizantes de uns tais Mussolini e Hitler” , escreve o Diogo. Concordo com tudo o que escreve, só que , lá está, em Portugal nunca houve fascismo , é isso? Fascista já se sabe que só o foi Rolão Preto. Salazar, à frente de um Governo “autoritário” e não fascista ou fasciszante,nem sequer ditatorial como, agora, defendem alguns que escrevem em jornais do nosso concelho foi o melhor que poderia ter acontecido aos portugueses. É isso?
Se alguém quiser escrever a defender fascismo, ditaduras e repressão não acho que necessite de o fazer com “senhores governantes” ( esta expressão acho o máximo) de países como a Itália e a Alemanha.
Em Portugal sobejam exemplos do que foi o fascismo e nunca é demais relembrá-lo, para que alguns não continuem a branquear a história.
Tem razão o João Duarte. Dei dois exemplos mas, de facto, poderia dar mais. E bem podia ter começado por terras lusas. Nada de branquear nada! Concordo consigo.
Porque vem a propósito, transcrevo da coluna do Provedor do Tempo Livre Kalidás Barreto o seguinte comentário:
«dizia-me há dias um beneficiário que a arte de criticar, deve acompanhar a de saber ouvir.Ouço muitas dizer que necessitamos, nas nossas terras, de massa critica.Isto quer dizer que se torna necessário que as pessoas saibam encontrar formas de critica racional, logo consciente,isto é, com critério.Dizem os dicionários que critica é a arte de apreciar as obras, sejam literárias, cientificas, artisticas e tambem as obras sociais e as politicas.
Critica porem, tambem pode ser censura ou maledicência e aqui é que a porca torce o rabo, porque é neste campo que surgem os «sabedores de aldeia», que de tudo dão opinião , sem saberem às vezes do que falam!
È vê-los pelos cantos a cochichar, sem bem saberem o que dizem; apenas pelo exercicio de dizer mal, por inveja ou ódio pessoal.
Não sei se «aldeia»tem um âmbito restrito ou abrange situações análogas, seja onde for e que possam ser comparadas a outro tipo de aldeia; é que a lingua portuguesa é muito traiçoeira” Zé Morgado
Importa afirmar que não se fala de censura, incapacidade para ouvir ou mesmo ausência de poder de “encaixe”. Não, nada disso. Na minha opinião, a ausência de “escarradores” até pode dar origem a uma tese de doutoramento! A questão que coloco é bem simples: porquê no Capeia? Há falta de “escarradores” em terras arraianas? Claro que alguém dirá que o blog tem abertura a todos os temas. Ainda bem. Estava a pensar escrever regularmente uma coluna de opinião a defender a teoria e façanhas fascizantes de uns tais Mussolini e Hitler. Concedo, é outro patamar! Mas será que os sabugalenses e leitores do Capeia vão deixar? E os editores do Capeia, vão publicar? Não, abomino esses fascistas e nunca escreveria sobre eles. Mas, e se alguém o quiser fazer?
Caros Administradores do Capeia Arraiana,
Reconheço um enorme valor a este blogue arraiano, que nos dá notícias frescas do que se passa no concelho e artigos de opinião interessaantes e diferenciados. Neste sentido espero que façam orelhas mocas aos que reclamam censura aos polémicos artigos do Ti Ventura.
Não me revejo nas suas ideias, que aliás abomino, mas se a moda pega daqui a pouco aparecem outros a exigir também o saneamento do António Emídio, articulista com o qual me identifico ideologicamente, e depois teremos também que nos ver privados da sua límpida opinião.
Temos que nos habituar a aceitar a diferença, e por isso refaço a questão de Jorge Clemente: o que escreveremos nós quando chegarmos a velhos face às ideias que então serão dominantes?
A. Sousa
E mais alguns que agora o capeia resolveu censurar, tal como nesse tempo.
Sois sempre os mesmos a deitar o Sr. Ventura abaixo! escrevei também neste blogue a ver se fazeis melhor figura… dizer mal hà muita gente, agora dizer bem, é que não hà. Parai de pensar na negativa, pensai positivamente no que o Homem relata. Quero ver quando chegarem à idade dele o que escrevem… estou cà para vêr!
O que é certo é que ele consegue ter bastantes comentários com os seus “posts” polémicos. Pelo menos não é “low profile”. Valha-nos isso.
Os post’s do Senhor Ventura são humorísticos. Quem ainda não percebeu?
Pois…Já me tinha passado pela cabeça…Só pode mesmo!
“Ai se fosse no outro tempo, que logo a autoridade lavrava auto e aplicava a respectiva coima”
É por isso que há uma canção intitulada “Ó tempo volta p’ra trás”, a tal que se aplica, como uma luva, às crónicas do sr. Ventura.
Calma Vic, o senhor apenas está a cuspir para o ar.
Para isso é que há casas de banho. Para as pessoas aliviarem as “precisões” fisiológicas.
Espero com ansiedade o artigo em que o senhor fale dos benefícios dos duelos com pistolas ao amanhecer. Mas cuidado, conheço 4 ou 5 jovens rápidos de movimentos capazes de o desafiar…
Não conheço o autor do artigo, daí estar à vontade para opinar. Tudo o que relata é real, tanto no passado como no presente. Antigamente eram os adultos que tinham esse hábito enraizado e assim agiam. Hoje, na verdade há muitos jovens que cospem para o chão e nos transportes, etc. Lastimavelmente é assim. Não com todos mas com muitos.
Também se urina nas paredes, principalmente onde há praças de táxis…..
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Vou deixar de comentar estes posts porque acho que o grau de desinteresse e irrelevância está a tornar-se demasiado alto. O ar moralista com que o senhor faz os seus comentários também me irrita, não deixam de ser mais do mesmo e ir de encontro ao cliché do “antigamente é que era”, sem que possa daí advir nada construtivo. Este tipo de pessoas já deve ter nascido adulta e sempre se regeu pelos padrões mais rectilíneos em tudo. Ainda bem então.
Cumprimentos.
Aos editores do Capeia:
Obviamente não vou comentar este post!
No entanto, sem colocar em causa a liberdade que todos temos de dar a nossa opinião, escrever sobre o que queremos, mais ou menos conservadores, contemporâneos do nosso tempo ou fixados noutros séculos, importa questionar qual a mais valia destas prosas no Capeia. Só posso lamentar esta opção editorial. Não tenho que levar com este senhor regularmente. Não tenho que ler textos que seriam alvo de chacota dos meus tetravós, não tenho que ler textos que indignam pela pobreza de qualquer corrente de pensamento, não tenho que ler textos que nada acrescentam a nada…
Poderão dizer: então não leia!
É verdade. Mas, meus amigos, o Capeia Arraiana merece melhor.
E eu gostaria de continuar a ser leitor assíduo deste espaço.
Abraço sabugalense
Parabéns Sr. Ventura, por mais um relato do passado! É que nessa altura havia respeito pelos Agentes de Autoridade, professores, etc… hoje em dia é a “democracia” que temos…e se o Sr. reside em Lisboa de certeza que não se aventura a sair à noite para qualquer local que lhe apeteça, mas sim apenas para alguns locais por si selecionado por razões de segurança… e isto é a “democracia” que temos… em que os cidadãos não podem circular livremente à hora que quizerem e para onde quizerem. E se o Agente da Autoridade falar mais àspero para com o cidadão por estar a infringir algo, là vai ter uma carga de trabalhos, inquéritos, processos disciplinares,etc… é este o estado de direito em que vivemos. De quem é a culpa? para mim só hà 3 responsàveis: (PS e PSD), porque nos últimos 35 anos pós 25 de Abril em Portugal só estas duas forças partidàrias tomaram conta do Pais e o povo porque votou neles alternadamente…
“…Quem tivesse a ousadia de cuspir ou lançar restos de tabaco no chão ser-lhe-ia levantado um auto e aplicada uma multa que podia chegar aos 500 escudos…”
Por favor, vamos ser realistas ó senhor, parece que tudo funcionava às mil maravilhas…mas segundo as estísticas da época parece que havia um polícia para cada 10.000 habitantes, a fiscalização era extremamente medíocre, portanto deixe-se de falsas pretensões e MORALISMOS…
“Ora o inaceitável é que tenham retirado dos locais públicos os escarradores, impedindo assim as pessoas de fazerem o que para algumas é de facto uma precisão…”
O conteúdo desta frase é que é inaceitável (Sr. Paulo Leitão e Sr. Lages).
A última frase é tão desprezível que nem vou comentar…mas enfim, eu sempre pensei a velhice era sabedoria e não estupidez…mas pelos vistos não é, enganei-me, oopppss !
Sr. Paulo Leitão e Sr. Lages, Ventura Reis p’rá fogueira já!
E que tal um auto de fé junto ao Pelourinho, no Sabugal, agora que foi reconstruído.
Deixem o homem escrever! Vivemos em liberdade.
Claro que é inaceitável. Mas é só o que ele escreve que o é?