O cinema português ficou mais pobre na semana passada com a morte de João Bénard da Costa, vítima de cancro aos 74 anos e uma vida inteira dedicada à Sétima Arte.

Uma das figuras de proa do cinema que se faz em Portugal, apesar de nunca ter realizado nenhum filme, João Bénard da Costa deixa saudades a todos os que gostam de cinema e aprenderam a ver filmes na Cinemateca com a ajuda das míticas folhas escritas por ele
Figura incontornável da cultura nacional e reconhecido internacionalmente, Bénard da Costa liderou a Cinemateca desde 1991 até ao início deste ano, quando abandonou o cargo por problemas de saúde. No seu lugar ficou Pedro Mexia, que agora deverá passar a comandar a instituição nos próximos tempos.
Não tive oportunidade de privar com esta autêntica lenda viva do cinema, como vários frequentadores mais habituais da Cinemateca Portuguesa, mas ainda consegui assistir a algumas apresentações de ciclos feitas por Bénard da Costa no final de 2008, quando comecei a ir com mais regularidade a esta sala. Recordo-me de um homem simpático que se notava ter um gosto extraordinário quando falava sobre os filmes que ia apresentar, mesmo os que já tinha visto inúmeras vezes.
Numa das últimas vezes que o vi, já no final do ano passado, foi durante o ciclo dedicado a Manoel de Oliveira, que contou com a presença dos dois gigantes e já se notava uma certa debilidade, tendo mesmo comentado com alguém que o realizador centenário estava com melhor aspecto que o director da Cinemateca. Desde essa altura, poucas vezes apareceu em qualquer uma das duas salas do edifício da Barata Salgueiro, onde tantas vezes assistia aos filmes com o público.
Para a história fica um homem que deu tudo ao cinema, trouxe a Lisboa vários nomes da Sétima Arte e grandes ciclos de cinema e chegou mesmo a aparecer como actor em alguns filmes de Manoel de Oliveira ou de João César Monteiro, com o nome de Duarte de Almeida.
Um legado que dificilmente será difícil de esquecer e que deve ser respeitado para sempre como uma das grandes figuras culturais da segunda metade do século XX e início do século XXI.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
Morreu um homem bom…
Conheci-o duplamente.
Como homem do cinema, na sua faceta de cineclubista em 71 e 72, ali para os lados da Almirante Reis.
Mas foi como católico que percebi a sua grandeza humana. Fui aluno do primeiro curso de teologia que se iniciou num colégio católico junto ao Técnico. Ele, o frei Bento Domingues, o Padre Serrazina, entre outros. Penso ter sido o prenúncio da Universidade Católica…
Demorou pouco a experiência, pois a PIDE/DGS não brincava em serviço e aqueles homens, sendo católicos, estavam marcados…
Algo do que sou lhes devo, o devo a Bénard… Obrigado…
Ramiro Matos