A Marreca e a Amarela são duas mediáticas vacas do Jarmelo, na Guarda. O processo de reconhecimento da raça jarmelista iniciou-se há dez anos tendo-se concretizado há apenas dois. Logo aí os criadores da raça mirandesa entraram com uma acção judicial. Para eles tudo se parece resumir aos euros dos subsídios. Para Agostinho da Silva tudo se resume à sua crença na raça jarmelista e no desenvolvimento apoiado na divulgação das suas terras.
É digna de admiração a capacidade de «invenção» e «argumentação-espectáculo» em defesa da causa jarmelista do presidente da Junta de Freguesia do Jarmelo.
No entanto, no ano passado, por altura das vindimas, o Agostinho da Silva surpreendeu tudo e todos quando declarou aqui no Capeia Arraiana que não ia recandidatar-se nas eleições autárquicas.
Depois do desaparecimento do Silva da Ima a causa pode ficar duplamente mais pobre. E subscrevemos o Américo Rodrigues quando este escreve no Café Mondego: «Contem comigo se precisarem de alguém para atirar bostas jarmelistas à cara de políticos que não percebem quanto o Agostinho é valioso.» Subscrevemos e acrescentamos: «Até porque os políticos adormecidos, incompetentes e de vistas curtas sempre tiveram muita necessidade de alcunhar e denegrir as atitudes proactivas (sem interesses adjacentes) de cidadãos empreendedores e descomprometidos».
Resta dizer que as jarmelistas Marreca e Amarela de Luís Pereira portaram-se muito bem em frente às câmaras de televisão durante o directo da jornalista Joana Latino para o programa «Nós por Cá» da SIC.
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Vacas jarmelistas em Ruivós
Nesta «guerra» não sou imparcial porque sou beirão, não sou imparcial porque sou amigo do Agostinho, mas, acima de tudo, não sou imparcial porque recordo da meninice as juntas de vacas jarmelistas que havia em Ruivós, a minha aldeia.
Nesses tempos a adrenalina subia até ao vermelho enquanto corríamos a pendurar-nos nos estadulhos do carro de vacas do Tio Germano quando este passava no Largo, em direcção ao caminho das «sortes» da Carvalheira.
E com quatro ou cinco calções empoleirados a esvoaçar ao vento a junta jarmelista puxava o pesado carro, todo construído em madeira, seguindo em ritmo cadenciado aquela figura altiva, de aguilhão ao ombro, resguardada do sol e da poeira pelo chapéu de abas.
Tenho dessas «vacas de trabalho» uma imagem perdida no tempo que ainda hoje recordo. Um dia assisti ao nascimento da bezerrinha de uma delas. Na loje escura, sempre com palha limpa, apresentava uma linda roupagem em tons claros de castanho e amarelo.
Cheia de força estava sempre à espera que lhe desatasse a corda, presa à manjedoura, para ir mamar.
Passados uns tempos acompanhei o meu tio ao «Mercado de Alfaiates» que se fazia, antes da subida, nos lameiros do vale junto à ribeira. Em cima do carro, guardada pelas sebes do estrume, ia a vitelinha que por lá ficou negociada por um dos muitos homens, sempre acompanhados de cajado, que a vieram examinar e regatear.
No regresso os urrus da mãe-vaca a despedir-se (ou a chamar) a filha trespassaram-me a alma. E eu… nunca mais quis ir às feiras de gado com o meu tio.
jcl
Já agora: agradeço ao amigo JCL, João valente e Kim Tomé, pelas palavras de apreço pela nossa causa.
Pois é.. ou foi.
Isto da questão económica é para mim uma preocupação recente, pois pensava que a preocupação da “raça mirandesa” era a eventual (alegada) usurpação de um legado genético.
Ora se a preocupação era o factor económico, relembro que sendo agora ( a ser) injusta a diferença entre as verbas recebidas por ser adiantado estado de extinção… convém relembrar que esses que agora beneficiam dos tais euros a mais, tiveram anos (muitos, ou mesmo demasiados) em que nada receberam por quererem sere considerados Jarmelistas e não ser “arrrebanhados” por outrea raça qualquer. O pior que se pode fazer a uma raça, foi o que muitos ministérios da agricultura fizeram: subsidiaram a tal que parece que é parecida, não finaciando a que parece ser diferente. OBJECTIVO (leia-se conclusão): acabar por obrigar os da jarmelista a inscrevê-la como mirandesa (para poderem receber esses euros a mais).
Par os de memória mais curta, direi que há cerca de dez anos quando entrei para esta luta e dela não percebia nada, eu próprio, Agostinho da Silva, convidei os criadores da Mirandesa para se deslocarem ao Jarmelo, com o objectivo (naquela altura sem mais saber do potencial regional, da “istória”) de que os criadores de vacas amarelas, podessem vir a receber o que na altura os “mirandeses recebiam.
Ao que parece, não se justificava que as “poucas vacas e os muitos criadores” fossem alvo da atenção do livro de registos da Mirandesa, trabalhoso seria, e disseram-no abertamente que por poucos efectivos as coisas não compensavam.
Foi assim há dez anos, tal como agora…
É por isto que Portugal não sai da mediocridade.
Em vez de se ter orgulho na diversidade e pluralidade, combate-se os irmãos.
Tudo por uma mesquinhez caracterizada por um forte e declarado sentimento de inveja.
São contra porque os jarmelistas recebem mais 90 euros por vaca.
Então mas esta gente não tem vergonha na cara?
Gente burra mesmo!!!
Ai que acabei de ofender os burros….
Vivam a marreca e a amarela!
A minha infância também tem estas recordações como as do Lages. Aprendi a andar no lameiro da Fonte das Hortas a correr atrás da vaca “vermelha”, que o meu avô comprara na vizinha Arrifana. E há coisas que a bruma do tempo nunca apaga: Nesse dia levei uma mansa cornada daquela vaca jarmelista, entre duas pedras de suporte de uma antiga latada que então dividia o lameiro. A primeira de muitas cornadas que viria a levar na vida!