Este país é de doidos… A mais recente polémica tem a ver com uma canção Xutos & Pontapés, recentemente editada. Trata-se do tema «Sem Eira Nem Beira», cuja letra se reproduz.
O Zé Pedro, dos Xutos, já veio desmentir qualquer ligação entre esta canção e o Governo. «Foi só uma letra um pouco ousada», diz ele, agora.
Nada para chatear o Governo. Não consigo compreender isto por parte do Zé Pedro, dos Xutos. Mas li que ele foi almoçar um dia destes com o «Presidente do Conselho» (Sócrates) e isso explicará alguma coisa.
A verdade é que há muitas Câmaras do PS e o mercado musical é pequeno. E toda a gente sabe que quem se mete com o PS… leva. Se as Câmaras do PS soubessem que a canção era contra o Governo, lá perdiam os Xutos uma data de concertos.
Com certeza não foi para isto que os Xutos participaram no disco «Filhos da Madrugada», homenagem a José Afonso, que esse não vinha cá pedir «batatinhas» a ninguém.
Mas, isto está de uma tal maneira que a Exposição sobre Che Guevara, que eu fui visitar aos Foios, é apresentada como uma Exposição não Política. Só podem estar a brincar!!! Apresentar uma Exposição de Che Guevara , como não Política é o mesmo que fazer uma omoleta sem ovos.
Espero bem, que a Exposição sobre Zeca Afonso, a ter lugar, brevemente, no Museu do Sabugal, não seja, também, apresentada como nada tendo a ver com Política, para não ferir certas susceptibilidades. Parece que a palavra Política é proibida em Portugal, 35 anos após o 25 de Abril. E quem tem tudo feito para isso acontecer é esta maioria absoluta do PS. Conheço os Xutos desde os primórdios.
Sempre os considerei um grupo com atitude e contestatário. Como tenho toda a discografia deles (assim como, também, a dos UHF e «tutti quanti») comprei logo o disco, mal ele foi editado (na semana passada).
Ouvi os temas e o «Sem Eira Nem Beira» pareceu-me, claramente, ter um destinatário. Era claríssimo, como água.
Fiquei «parvo», quando ouvi na TSF, na manhã de quarta-feira, o resumo dos jornais. À tarde comprei o «Público» e li uma reportagem sobre a polémica. Fiquei abismado. O Zé Pedro??? Mas este homem não começou com o Punk e os The Clash? Não participou no disco «Filhos da Madrugada»? Para quem conheceu o Zé Pedro, nas suas diversas facetas (não pessoalmente, no meu caso, mas em entrevistas e em cima de um palco), não pode deixar de estranhar o que está a acontecer.
Tomaram os The Clash (o grupo que era uma referência para o Zé Pedro) ter uma canção que fosse adoptada pelos ingleses como contestatária em relação ao Governo. Com certeza que a usariam, sem quaisquer problemas. E ter uma canção assim, como esta, aos 30 anos de carreira, não é para qualquer um. Lamenta-se a falta de verticalidade do Zé Pedro, que sempre apoiou o Bloco de Esquerda.
Está tudo doido, pensei. Depois fui-me apercebendo da polémica e tive conhecimento de uma entrevista do Zé Pedro onde ele defende o Governo e o Sócrates. Até foi almoçar com ele. Bem, eu nem sabia que o primeiro-ministro gostava de música… mas fiquei a saber.
Os Xutos ficaram acagaçados. O aparelho do PS é uma coisa descomunal.
Duas coisas são certas: os Xutos vão vender mais discos (neste aspecto a polémica foi boa para eles) e quer eles queiram, quer não; esta canção vai ser usada muitas vezes contra o Governo.
Agora, o que pode acontecer é que eles nem a toquem ao vivo, para evitar os «ouvidos» dos bufos.
A estreia do disco novo, ao vivo, vai ser na noite de 24 de Abril, no Seixal. Vamos ver qual vai ser a reacção do público se os Xutos cantarem a canção ou se a não cantarem.
Aqui fica a letra e cada um tire as conclusões que quiser:
Sem eira nem beira
Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou-bem
Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar
Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor
Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir
Encontrar
Mais força para lutar…
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar
o povo que acreditou
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar…
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a f…
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão.
Veja o vídeo dos «Xutos & Pontapés»… (Aqui.)
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«Memória, Memórias…», crónica de João Aristides Duarte
Não tenho estado muito atento.
aah ok
Concordo consigo, Mono
É que há muitos por aí que estão sempre a dizer. “Eu não sou político, eu não sou político…” Alguns até só discutem bola, outros só discutem gajas, outros só discutem bois, com medo que lhe digam que estão a discutir política. Isso é que me chateia, numa sociedade livre. Até dá impressão que vivemos numa ditadura.
Ou nunca ouviu isso?
Mas o que é um não político?
Tal coisa pura e simplesmente não existe. De uma forma ou de outra toda a gente é política.
Não explica nada, se calhar, mas prova que os não políticos discutem sempre política.
Era só isto que eu queria dizer.
Ergh, não me parece que explique nada…
Sabe o que lhe digo: faça o quisrer, conteste o que quiser, diga o que quiser.
Acabei de ver na RTP , em directo, uma reportagem dos Foios, da tal Exposição.
Voltaram a falar que não era uma Exposição política.
Disseram que era uma Exposição em que se retratava um Che humanista que, aparentemente, entra em contradição com o Che assassino e político.
O presidente da Junta dos Foios, até disse que era um Che Guevara à escala regional. Já não percebo nada de nada.
Mas enfim, até acho que compreendo.
Vou transcrever uma parte de um “post” que descobri num blog intitulado “A Educação do Meu Umbigo”.
Talvez isto explique alguma coisa, sei lá.
Jacinto Homem Honesto, um pseudónimo, escreveu isto:
“Nunca serei comunista. Sou diferente dos outros. Numas coisas melhor e noutras pior, mas diferente. E quero poder acreditar em Deus, quando estiver doente ou já for velhinho, mesmo que, por agora, nem vá à missa. E os preguiçosos não devem ter tantos bens como os que se esforçam e trabalham. E a última razão é que não quero distribuir com ninguém a herança do meu tio padre que já tem 90 anos”
Depois termina com esta pérola: “Do BLOCO DE ESQUERDA até nem me importava de ser. Mas é gente que não quer o poder… E eu gostava era de estar no poder pr’acabar com esta pouca vergonha dos corruptos e outros malfeitores que por aí abundam”
O homem também não quer ser do PS, nem do PSD, nem do CDS.
Também diz que não é político, com certeza.
Chama víboras aos do PSD, chama mentirosos e obedientes ao chefe aos do PS, chama chupadores da “teta” aos do CDS, diz que estes só querem desigualdades sociais.
Enfim, este é que é o homem, o não político.
Caro João Duarte,
Num país livre cada um contesta aquilo que acha errado. E uma exposição, para mim, nada tem de errado, pelo que nunca a contestaria. Contesto visões políticas que preconizem executar civis com tiros na testa, isso sim.
Quanto aos humanistas, partilho a sua opinião. Para humanista chegou Rousseau que meteu os cinco filhos num orfanato.
Uma providência cautelar???
Que exagero…
Felizmente estamos em democracia e podemos discordar dessa exposição ou outra qualquer sem precisar de impedi-la.
Assim como também podemos achar o Che um vulgar assassino e meter o Bush, Aznar, Barroso e Blair no mesmo pacote sem entrar em contradição.
Caro Pedro Pedreira:
Desconfio que o senhor é um desses humanistas, que não gosta de tipos que executam inocentes. Porque é que não contestou, então, o senhor a tal Exposição?
Só lhe ficava bem.
Metia uma providência cautelar num tribunal, para proibir a Exposição e teria , certamente, o apoio de muitos não políticos.
Mas, atenção, depois teria que meter outra providência cautelar contra o Bush, o Blair, o Aznar e o Barroso, pelo que fizeram no Iraque, onde contas por alto indicam perto de um milhão de mortos. Sim, UM MILHÃO DE MORTOS, provocados por uma mentira ( as armas de destruição em massa).
É que não poderia contestar a Exposição do Che, sem contestar o resto.
Só assim se poderia dizer que era um verdadeiro humanista.
Porque me parece que os que se dizem humanistas são como os outros, os que não se dizem humanistas.
Che poderia ser englobado numa exposição sobre “Assassinos que se tornaram figuras mediáticas” por exemplo, figurando ao lado de Charles Manson, Himmler e outros assim. Isso nada teria de político, tão só de antropológico.
A contestação poderia ser feita por humanistas que não gostam de tipos que executam civis inocentes com tiros na testa.
Para o Pedro Pereira:
Concordo com o facto de os Xutos não terem um disco de jeito há uns anos. Aliás, o seu último de originais “O Mundo Ao Contrário”, editado em 2004 foi o pior disco de sempre, deles.
Agora, quanto ao Che, discordo de si.
Fascínio pessoal ou sem ser fascínio pessoal, qualquer Exposição do Che tem uma vertente política, quer se queira , quer não.
E não basta dizer que não se quer que tenha, porque essa vertente está lá .
Agora de agendas políticas é que não percebo, porque eu sou do tempo em que nada era motivado por agendas políticas.
E, eu também, não referi que tinha que ser motivada por uma agenda política, só critiquei o facto de se dizer que se consegue fazer uma Exposição do Che, sem ser uma Exposição política. Então é o quê?
Uma Exposição gastronómica?
Sobre o contestar: Não sei, também, quem se atrevia a contestá-la. Afinal, não vivemos num país livre?
Ou, para a contestar, já era uma Exposição política?
Amigo Duarte:
A classe poderosa que foi derrotada em 25 de Abril de 1974, está neste momento a vingar-se, por isso, vivemos numa espécie de Estado Novo. E quem escolheu essa classe para ser o seu instrumento da vingança? José Sócrates e seus apoiantes.
Não escolheu os socialistas nem o Partido Socialista, isso seria impensável, escolheu traidores ideológicos, gente fácil de manejar.
É de facto lamentável essa postura dos Xutos. Mas são uma banda tão acomodada (nota-se pelos discos amorfos há mais de dez anos) que é normal este tipo de atitude cobardola.
Quanto à questão do Che, acho normal. Pelo que li num texto aqui publicado, a exposição é fruto de um fascínio pessoal pela personagem, e não faz parte de uma agenda política. O que admira é que ninguém a tenha contestado…