A propósito de cronistas e comentaristas algumas das crónicas inseridas na rubrica «Passeio pelo Côa» de António Emídio, face à natureza dos assuntos de índole política, social e económica que focam, têm tido muitos comentários e provocado acesas polémicas.
Como diz o Paulo Leitão, com o qual eu concordo, o António Emídio «é um pensador livre e escritor de intervenção, que analisa de forma descomprometida, a evolução da sociedade actual». O mesmo já não se pode dizer de alguns comentaristas ou «opinion makers», que pululam pelos blogues, com missões politicas muito determinadas. A título de exemplo, enumero os seguintes artigos, de António Emídio, publicados aqui no Capeia Arraiana: «A tradição» (13 comentários), «A comédia humana» (12), «Os exemplos continuam a ensinar» (11), e «Desemprego e desertificação humana» (28).
Por considerar extenso este meu contributo ao tema versado na última crónica do Emídio, resolvi inclui-lo nesta minha rubrica.
A síntese dos exemplos que vou dar sobre o aproveitamento da passagem pela politica de alguns notáveis da nossa praça, repesquei-os na Imprensa nomeadamente, num artigo de Cândida Santos Silva.
De que se tenha conhecimento, somente quem nunca negou que a politica e as relações que estabeleceu, enquanto politico, ajudavam nos negócios privados, foi Ângelo Correia que disse: «A política, dá uma base de conhecimentos e experiência muito grandes. Que ninguém diga que não beneficiou nada com o facto de ter passado pela politica.» Assim:
– Dias Loureiro – Advogado, Governador Civil, Secretário-geral dum Partido, Ministro, Ministro, Ministro, Escritório de Advogados, Grupo Plêiade (com José Roquette), Plêade (com José Oliveira e Costa), SLN, Grupo BPN e Conselheiro de Estado;
– Jorge Coelho – UDP, PS, Ministro, Secretario-Geral da Carris (com Consiglieri Pedroso), Macau (com Carlos Melancia), Chefe de Gabinete, Mota Engil;
– Pina Moura – Ministro, Iberdrola, Media Capital, Prisa, Iberdrola;
– Armando Vara – Bancário, Secretário de Estado, Ministro-Adjunto, Ministro, F.P. de Segurança, Administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Vice do BCP;
– Fernando Nogueira – Ministro-Adjunto, Ministro, Ministro, Ministro, BCP (França);
– Celeste Cardona – Ministra, Administradora da CGD, BCI Fomento;
– Vítor Constâncio – Secretário-Geral do PS (1986-89), administrador do BPI, administrador da EDP, Governador do Banco de Portugal;
– António Vitorino – Santander;
– Mira Amaral – Ministro, Presidente do IGFSS, Administrador da Cimpor, BPI, Presidente Executivo da CGD e Administrador da Sociedade Portuguesa de Inovação;
– Miguel Beleza – BCP;
– Manuela Ferreira Leite – Ministra, Banco de Portugal e Santander;
– Miguel Cadilhe – Ministro, BCP e BPN;
– Carlos Tavares – CGD e BPSM;
– Bagão Félix – Ministro e BCP;
– Oliveira e Costa – Secretário de Estado e BPN;
– Paulo Teixeira Pinto – Secretário de Estado e BCP;
– Fernando Gomes – Presidente da C. M. Porto, Ministro e GALP.
Termino com um comentário, de Guerra Junqueiro, que ainda hoje se adapta à realidade:
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de miséria, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois já que nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas.»
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«Terras entre o Côa e a Raia», opinião de José Morgado
Deixem-me dizer que anda por aqui alguma confusão…
Primeiro, conhecem algum sabugalense que, por aquilo que disse ou deixou de dizer sobre o Concelho do Sabugal, foi perseguido ou teve problemas com o poder político local? Se sim, digam quem perseguiu e quem foi perseguido, se não, andamos aqui todos numa “caça aos gambuzinos”…
Eu que já fui ameaçado e perseguido politicamente, antes do 25 de Abril pelo regime fascista (estava expulso do Técnico quando se deu o 25 de Abril), e após o 25 de Abril por militantes do Partido Comunista Português (pelo facto de pertencer a uma corrente associativa universitária que no Técnico se opunha à então UEC e por apoiar movimentos político-sindicais que não alinhavam com a teoria oficial gonçalvista, de que são exemplos célebres a manifestação dos operários da Lisnave, a manifestação dos trabalhadores contra o desemprego ou a greve dos passageiros da CP contra o aumento dos preços dos bilhetes, tenho alguma autoridade moral para pedir que não se brinque com coisas sérias.
Quanto aos políticos que vão para a iniciativa privada, tenho uma opinião formada há muito tempo. Se são competentes, nada os impede, nem à empresa que os contrata, de trabalhar após a saída dos cargos políticos que ocuparam. Se são incompetentes, eles depressa são corridos pelos empresários que os contrataram.
O que não aceito é que os cidadãos portugueses que aceitem um cargo político passem a ser os “leprosos do século XXI”.
Ramiro Matos
José Carlos Lages:
Eu não falo só em tempo de eleições, eu falo sempre.
O que pode o Sabugal fazer por mim? Neste momento só conheço duas pessoas cujo comportamento se adapta a esta frase, mas acredito que haja muitas mais.
Pertinente ?” Prefiro morrer de pé do que viver de joelhos”. Da parte de homens e mulheres honestos e tolerantes isso é mais que pertinente, mas de ambiciosos, corruptos, intolerantes e oportunistas é o que se espera, a perseguição política, esta não é feita por polícias politicos nem tribunais era impossivel nos tempos que correm, é feita muito subtilmente… Já algum dia foi ameaçado politicamente?
Em Vez do Junqueiro, não ficaria melhor o Zeca?
è que «eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada…»
Abraço
ui…
Não conhecia essa do Guerra Junqueiro 🙂
Maravilha!!!
Aplica-se como uma luva feita por medida ao Sabugal.
O medo institucionalizado de contestar, opinar, ou simplesmente falar existe de facto no Sabugal.
E os que como eu disseram um dia “O que posso eu fazer pelo Sabugal” E FAZEM! são distratados, desconsiderados, boicotados, apenas porque ao fazer bem ao Sabugal estão a pôr em evidencia o facto de, haver quem tenha a obrigação e dever de fazer e não o faz.
Sou desses que fazem e que não tem medo de morrer de pé, mas que nunca se curvarão perante os destruidores da MINHA TERRA sejam eles quem forem.
Caríssimos
José Morgado, António Emídio e João Duarte
Em ano de eleições muito se pode falar sobre a verticalidade dos homens e dos Homens.
Em ano de eleições muito se pode falar sobre pagamentos de favores devidos e a dever.
Em ano de eleições muito se pode falar sobre carácter e personalidade de quem a tem e de quem muita lhe falta.
Em ano de eleições muito se pode falar sobre razões que a razão desconhece.
Meus amigos. Só há dois tipos de raianos. Aqueles que perguntam «O que posso eu fazer pelo Sabugal» e aqueles que perguntam «O que pode o Sabugal fazer por mim». Atrevo-me a dizer que fazemos parte da imensa minoria com «interesses económico-financeiros» na primeira questão.
A terminar destaco a pertinência da frase de António Emidio: «Prefiro morrer de pé do que viver de joelhos.»
Aquele abraço raiano para os três e até lá.
José Carlos Lages
Pelo menos o Ângelo Correia (conhecido como o Ministro da “Insurreição dos Pregos”, num episódio que se passou na estrada Sabugal/Guarda) teve a hombridade de reconhecer isso.
Embora eu esteja muito longe dele, politicamente, reconheço-lhe esse valor, que , para mim, é fundamental.
Tem mais valor, para mim o Ângelo Correia, do que qualquer um dos referidos no artigo do Zé Morgado.
Mas, também convém referir, a talhe de foice, que todos os nomes aqui apresentados fazem parte do Bloco Central, com excepção de Celeste Cardona e Bagão Félix (mas ambos foram , também, ministros, recentemente).
O que mais me chateia é que são sempre os do Bloco Central (ou “Centrão”) os referidos, toda a gente sabe disso e continuam a ser eles( ou outros do mesmo Bloco) os eleitos. Ninguém muda. Porque será que alguns se queixam tanto? Não têm, afinal, o que queriam?
José Morgado:
Não suporto aqueles que fazem um uso bastardo do poder, e são muitos infelizmente. Como também não suporto a mesquinhez de muitos, e se lhes chamo mesquinhos é porque têm chorudos ordenados e grandes prebendas à custa do povo que os elegeu, mas mesmo sabendo isso, tratam esse povo muito mal, traem-no. Há honrosas excepções felizmente.
Da meneira como escrevo, os leitores já viram que eu não me estou a pôr em bicos de pés para entrar numa qualquer lista partidária. Já fiz política, mas foi em tempos idos( em lugares de terceiro ou quarto plano) foi no tempo em que a ética ainda não estava separada de todo da política e da economia. Presentemente ela já de lá desapareceu. A razão principal pela qual a classe política é tão mal vista é essa, o desaparecimento da ética, que deu lugar à ambição, elevou a corrupção a lobby, e qualquer ignorante tem lugar em qualquer lado.
Amigo José Morgado, deixe-me tratá-lo assim, eu um dia vou pagar pelas verdades que digo, a vingança é um prato que se serve frio… Não tenho medo, se o tivesse já tinha deixado de escrever o que escrevo, e tinha começado a bajular uns e outros, não me estou a vitimizar, sei o que digo, mas orientam-me estas palavras de CHE: ” Prefiro morrer de pé do que viver de joelhos”. Adeus e bem haja.