Cumprem-se hoje, 3 de Abril, 198 anos sobre a Batalha do Sabugal, onde o exército anglo-luso, directamente comandado por Wellington, infligiu a derradeira e decisiva derrota ao exército francês, dirigido por Massena, pondo termo às invasões do território nacional. Mais uma vez a data passa em claro no Sabugal, onde nenhuma iniciativa assinala a efeméride.
No bicentenário das invasões, o Município de Celorico da Beira iniciou no dia 26 de Março um ciclo de conferências, o primeiro sob o tema «As Invasões Francesas», a par com a inauguração de uma exposição denominada «Celorico no Tempo das Invasões». Já Almeida, que foi pioneira nos actos evocativos, mantém a iniciativa anual de recriar as invasões e em especial o cerco e a tomada da praça-forte.
O Sabugal, que foi palco de uma batalha decisiva, no decurso das invasões, voltou a esquecer a evocação desse facto histórico. E o mais espantoso é que nenhum monumento, ou sequer um simples obelisco, assinala no local do Gravato, hoje em parte submerso pela barragem, a realização dessa importante batalha.
A batalha do Sabugal é referenciada em todos os anais como a que esfrangalhou de vez o exército francês que protagonizou a terceira invasão, impedindo-o de cumprir o plano de Massena de recuar e se reorganizar.
O exército invasor, vindo em retirada, instalou-se no concelho do Sabugal, ocupando grande parte da margem direita do rio Côa, que usou como defesa natural para prevenir alguma investida. Massena procurava assim ganhar tempo para a reorganização das forças, que contavam ser reforçadas com efectivos vindos de Espanha.
As tropas francesas espalharam então o terror pelas aldeias, o que levou a que as pessoas as abandonassem e se refugiassem nos campos. Os franceses queriam reabastecer-se e para isso praticavam todo o género de roubos e confiscos. Muitas pessoas morreram por não colaborarem e houve notícias de violações de mulheres e espancamento de homens que não auxiliavam as tropas invasoras. Nas aldeias organizaram-se rondas e sentinelas, a fim de detectarem a aproximação dos franceses e as pessoas poderem fugir a tempo.
O segundo corpo do exército francês, comandado por Reynier, ocupou a vila do Sabugal e acampou no sítio do Gravato, dois quilómetros a sul da vila, num alto sobranceiro ao rio Côa, na sua margem direita. Wellington decidiu atacar este acampamento, de maneira a forçar a retirada das tropas napoleónicas. Estabeleceu o posto de comando num monte sobranceiro ao castelo do Sabugal, do outro lado do rio, e dali decidiu executar um plano, que consistia em entreter as forças napoleónicas com pequenos ataques ao acampamento do Gravato a partir da margem esquerda do rio, enquanto que o grosso das forças executava uma longa manobra de envolvimento, atravessando o rio já perto de Quadrazais, para dali avançar sobre o corpo do exército francês, apanhando-o pela retaguarda.
Porém o nevoeiro da manhã de 3 de Abril de 1811 comprometeu os planos do comandante inglês, já que a brigada ligeira, que fora incumbida de executar uma primeira investida, atravessou o rio um pouco acima da vila do Sabugal e avançou a coberto da névoa, surpreendendo os franceses que não contavam com a manobra. Quando o nevoeiro se dissipou Wellington viu que a sua pequena força combatia em clara desvantagem porque os franceses haviam-se reorganizado e estavam prestes a rechaçar o ataque. Decidiu então lançar todas as forças de reserva em defesa da sua posição. Após demoradas escaramuças as tropas francesas foram derrotadas, ficando o alto do Gravato e os campos vizinhos juncados de cadáveres, na sua grande maioria de soldados gauleses.
O general Reynier teve de retirar com as forças que lhe restavam, seguindo para Alfaiates, e dali, em marchas forçadas, para Ciudad Rodrigo.
Na batalha do Sabugal, também chamada do Gravato, ambos os lados lutaram determinadamente para vencer, pois sabiam que daqui se poderia resolver a sorte das armas.
Dentro de dois anos serão passados exactamente dois séculos sobre tão importante acção militar da guerra peninsular. Espera-se que as entidades oficiais comecem já a preparar os actos evocativos.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
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