Em Cabo Verde, todas as ocasiões são boas para uma festa. E a alegria aqui nasce de improviso e é deveras contagiante. Haja encontro de amigos e venha à mão uma viola, que logo se arma uma sessão de música e de canto em que todos imediatamente se envolvem.
Deambulando pela cidade aos finais de tarde, os acordes das violas chegam de todo o lado, sobretudo dos bares e cafés, onde se encontram grupos de amigos que querem beber e conviver. É impressionante como, numa roda de gente, a viola passa de mão em mão e todos lhe sabem dedilhar as cordas com a devida mestria, dali retirando as mais diversas melodias, que o grupo canta em afinado coro. Houvesse também à mão meia dúzia de instrumentos, que todos seriam tocados com a devida harmonia.
Este povo feliz tem na amizade e no convívio a melhor forma de estar e de viver.
Acompanhei há dias precisamente um grupo destes convivas dos finais de tarde, que se arregimentaram no bar do Aldino, um natural da ilha do Fogo que se estabeleceu na ilha de Santiago, na Cidade da Praia. Para além de bar o espaço serve ainda de comércio, onde tem à venda os mais variados géneros: material informático, calçado, rádios, pilhas, cordas para viola, telemóveis, azeite, champô, detergentes e muitas mais mercadorias.
Ao fim de semana a sua mulher gosta de brindar os clientes que a li consomem grogue, cerveja ou vinho, com um petisco, que pode ser mão de vaca com grão, feijoada crioula, cachupa, sopa de peixe ou até uma canja.
Assistia pois em deleite a uma imparável sessão de mornas e coladeiras, onde duas violas, um cavaquinho, um tambor e até umas maracas marcavam o ritmo. As músicas e as canções em crioulo genuíno sucediam-se em catadupa, não faltando magníficas interpretações de Cesária Évora e Ildo Lobo, os maiores expoentes da morna cabo-verdiana. A dado passo, encantado que estava, nem me apercebi do adiantado da hora, pois a noite já se havia abatido. Por entre as guitarradas, que não havia maneira de se interromperem, distribuíram-se pratos e colheres e desmedidas travessas trouxeram também admiráveis iguarias. Duas taças enormes estavam juncadas de belas postas de garoupa, cozidas numa calda com cebola, cenoura e ervas aromáticas. Ao lado, numa outra travessa estavam vistosos legumes cozidos, incluindo-se cenoura, abóbora, batata doce e banana verde. A acompanhar, o aqui imprescindível frasco de malaguetas, cujo molho alaranjado poria ardor nos pratos dos mais atrevidos.
Cada conviva deitou à vez para o seu prato a suculenta iguaria, que se comeu com muito gosto. Dizem, chamar-se caldo de peixe e também houve quem informasse que, numa outra variante de confecção, os dois pratos vêm juntos, pois podem ser confeccionados na mesma panela, assim se formando o caldo rico de peixe, com que ali fomos brindados.
Após o maravilhoso jantar, degustado, como o maior dos primores, as guitarras voltaram a soar e a animada sessão de mornas e coladeiras prolongou-se pela noite dentro.
plb
Cabo Verde a gastronomia e cultura são uma paixão.
De fazer água na boca…
convidativo.