Em Cabo Verde, como nos mais lugares da terra, o início da construção de uma casa é sempre um motivo de festa, especialmente quando essa casa foi o sonho de uma vida que se vê tomar forma.
O António Ramos, e a sua família estão radiantes com o começo das obras. Vivem numa casa arrendada, com condignidade, mas ansiavam pelo seu próprio espaço. Depois da aquisição de um terreno, a dois passos da casa onde habitam, e da aprovação do projecto na Câmara Municipal da cidade da Praia, puderam avançar, aplicando as suas economias na construção da casa. Ele é economista e funcionário do Estado Caboverdiano, ela, Helena de seu nome, é nutricionista e têm duas filhas menores.
Em Cabo Verde, tudo é ocasião para uma festa. Foi assim que o feliz António Ramos, o Toi para os amigos, convidou meia dúzia de convivas para com ele compartilharem a alegria e lançarem simbolicamente a primeira pedra. E isto é uma forma de falar, porque pedras já havia muitas bem colocadas nas paredes da obra, que já contém os alicerces e parte dos muros da cave.
Dona Helena resolveu fazer em casa, num tacho enorme, uma grande feijoada crioula. À hora do almoço os amigos, onde me orgulho de estar incluído, chegaram-lhe a casa, onde o anfitrião ofereceu um bom grogue da ilha de São Nicolau, o melhor de Cabo Verde. Depois, entre todos, transportaram-se para o local da obra as panelas, os pratos, os talheres e as bebidas.
Na obra cerca de vinte operários trabalhavam, e abriram alas para que a comitiva de convivas invadisse o pequeno estaleiro, onde se instalou o material, juntando-se todos à roda da grande panela. O casal lá colocou uma pedra sobre a massa, em simbologia do lançamento da obra e, a seguir, veio a comezaina. À vez os convivas foram-se servindo da grande panela de alumínio, de onde fumegava a bela feijoada crioula, confeccionada com feijão pedra, carne de porco (fresca e salgada), batata doce, cenoura, couve e chouriço. A acompanhar um arroz seco confeccionado com ervas aromáticas. Para beber serviu-se vinho alentejano do Redondo.
Logo que os convidados se serviram da saborosíssima feijoada, foi a vez da Helena servir todos os operários, recebendo cada um o seu prato e a respectiva bebida.
No final a festa continuou aos acordes de uma viola e um cavaquinho, cantando-se a morna, que é a canção tradicional caboverdiana. Assim se vive, em alegria, nesse país de gente boa e acolhedora, que é Cabo Verde.
plb
Este post despertou-me o pecado da gula e da inveja!