Chegou-me às mãos um desses jornais que são a negação absoluta do que deveria ser a comunicação social, mas segundo consta é o terceiro mais vendido nas bancas diariamente em Portugal. Veja-se a quantidade de leitores que não deve ter!

Trazia na primeira página, em letras garrafais e com fotografia, a notícia do parto de uma senhora pertencente ao beautiful people, parto esse que, segundo a crónica, demorou quatro horas. Sem delongas, e por disciplina de espaço, afirmo que este tipo de comunicação social tem por finalidade lucro e sucesso no mercado, mas não só, talvez a missão principal seja adaptar e integrar os seus leitores no funcionamento da ordem social vigente. O parto da senhora foi um troféu que ela expôs nesta feira de vaidades que é a sociedade de consumo, onde os valores, melhor dizendo, os subvalores que predominam, são o poder, o dinheiro, o êxito, e a fama.
Dirá o leitor(a): isso é liberdade, como liberdade é podermos expressar os nossos pontos de vista.
Neste sistema político liberal, podemos falar, mas todo aquele que pisar o risco, ou seja, sair das marcas do political correctness, controlada e ordenada pelos grupos de pressão que controlam tudo, desde a economia, aos meios de comunicação, e passando pela industria da cultura, é rapidamente posto de parte. E aquele que se queixa porque está mal e insatisfeito, dizem-lhe que não é o sistema o culpado, o culpado é ele próprio, o queixoso, porque afinal vivemos na era dourada da «igualdade de oportunidades».
O Nazismo e o Estalinismo foram flagelos do século XX. Penso que a falta de liberdade, noutros modos, será o maior flagelo do século XXI, porque estamos a assistir ao começo de um neototalitarismo mediático que irá manipular a seu belo prazer, e sem limites, as opiniões públicas.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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