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Página Principal  /  Região Raiana • Sabugal • Soito • Terras entre Côa e Raia  /  Desertificação humana no concelho do Sabugal
15 Fevereiro 2009

Desertificação humana no concelho do Sabugal

Por José Morgado
José Morgado
Região Raiana, Sabugal, Soito, Terras entre Côa e Raia desertificação, josé morgado, terceira idade 2 Comentários

Em 1950 a população do concelho do Sabugal, chegou perto dos 45000 habitantes. Cerca de 20 povoações tinham mais de 1000 habitantes. Com o surto da emigração, gradualmente a população jovem e meia-idade, começou a abandonar as aldeias e mais tarde a ida de famílias inteiras. Segundo o Censo de 2001 o concelho tinha apenas 14000 residentes.

Mapa das freguesias do concelho do Sabugal - capeiaarraiana.pt
Mapa das freguesias do concelho do Sabugal

Contrariamente à opinião de que o Sabugal é o concelho com pior qualidade de vida, acredito plenamente nestes elementos porque são objectivos, os dados fornecidos pelo INE, nomeadamente que:

– Perdeu mais de 7000 residentes em seis anos;
– É uma das regiões mais envelhecidas do país;
– Grande índice de Envelhecimento (perto de 500 idosos/100 jovens);
– Terceiro concelho da Guarda, com menor densidade populacional (16hab/Km2);
– Muito fraco número de nascimentos (3 por 1000 hab);
– Taxa de mortalidade (22 por 1000 hab).

A relação entre a redução da população e o número de óbitos dos mais idosos, não é mais drástica, porque a iniciativa privada, aproveitando as estruturas das Misericórdias e comparticipações da Segurança Social, foi criando Lares para a 3.ª Idade, espalhados por todo o concelho melhorando e de que maneira a qualidade de vida dos residentes.

A ideia de que os mais novos, serão o amparo dos mais velhos não colhe na presente sociedade, por razões que todos conhecemos.

O falecido Dr. Diamantino, Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal, além de grande pedagogo, deixou o Lar Senhora da Graça no Sabugal para aqueles que dele precisam.

Com a devida vénia transcrevo este texto anónimo que encontrei num café-tertúlia da zona da Grande Lisboa:

avô e neto«Tu já foste criança um dia, mas os anos dobraram-se e fizeram de ti um jovem, quase adulto… agora olhas-me com certo desprezo só porque muitos anos se dobraram para mim e hoje sou velho.

Observas as minhas mãos trémulas e esqueces que foram as primeiras a acariciar as tuas, inseguras, na infância. Criticas meus passos lentos e vacilantes e esqueces que foram eles que orientaram os teus primeiros passos. Reclamas quando te peço para leres uma palavra que os meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti inúmeras vezes para aprenderes a falar.»

Dizes que sou um velho desactualizado, mas, confesso que pensei muito pouco em mim, para fazer de ti um homem de bem.

Reclamas da minha saúde debilitada, mas crê, muito trabalho foi preciso para garantir a tua. Ris quando não pronuncio correctamente uma palavra, mas, eu afirmo que me esqueci de mim para que tu pudesses cursar uma Universidade.

Dizes que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos, todavia muitas foram as vezes em que advoguei em teu favor nas situações difíceis em que te envolveste.

Hoje cresceste… és um rapaz robusto e a juventude empolga-te as horas… esqueceste a tua infância, os teus primeiros passos, as primeiras palavras, os primeiros sorrisos, mas, acredita, tudo isso está bem vivo na memoria deste velho cansado. É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta… só notei naquele dia…naquele dia que me chamaste velho pela primeira vez e eu me olhei no espelho.

Lá estava um velho de cabelos brancos, rugas profundas e um certo ar de sabedoria que na imagem de ontem não existia. Por isso te digo que o tempo é implacável e um dia também tu te verás ao espelho e perceberás que a imagem nele reflectida, não é mais a que hoje admiras. Sentirás que no teu peito o coração ainda pulsa ao mesmo compasso. Que o afecto que cultivaste não se desvaneceu, que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos, que as palavras amargas ainda te ferem com a mesma intensidade e apesar dos longos anos suportados, não ficaste frio diante da indiferença dos seres que embalaste na infância. Por isso te aconselho meu filho: não rias nem faças pouco do estado em que estou, eu já fui o que tu és e tu serás o que eu sou.»

:: ::
«Terras entre o Côa e a Raia», opinião de José Morgado

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José Morgado
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Origens: Soito :: :: Crónica: Terras entre Côa e a Raia :: ::

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2 Comments

  1. Avatar Natália Bispo Responder a Natália
    Domingo, 15 Fevereiro, 2009 às 18:02

    Coronel Morgado
    Será que poderei comentar com uma história já muito conhecida, mas que tem um pouco a ver com o seu artigo?
    “Um senhor de idade foi morar com o filho, com a nora e o netinho de quatro anos de idade. As mãos eram trémulas, sua visão embaciada e os seus passos eram vacilantes.
    A família comia reunida à mesa. Mas a visão falhava e as mãos trémulas do avô atrapalhavam na hora de comer.
    O filho e a nora irritavam-se com a sujidade criada por esse facto, por isso decidiram tomar uma providência:
    Decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha.
    Ali, o avô comia sozinho enquanto, o resto da família fazia as refeições à mesa, sem interferências.
    Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida era servida numa tigela de madeira.Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas nos olhos.
    O menino de 4 anos assistia a tudo em silêncio.
    Uma noite,antes de jantar, o pai percebeu que o filho estava no chão, manuseando pedaços de madeira.O pai perguntou delicadamente à criança :”O que estás a fazer?”
    O menino respondeu docemente:
    “Estou a fazer uma tigela para os papás comerem… quando eu crescer.”
    O pequenito sorriu e voltou ao trabalho…”
    Natália Bispo

  2. João Aristides Duarte João Duarte Responder a João
    Domingo, 15 Fevereiro, 2009 às 15:25

    Caro Zé Morgado:

    O que mais me chateia na “modernice” é essa coisa de se desrespeitarem os mais velhos. Acho uma coisa completamente intolerável.
    Os africanos (uns atrasadinhos, como muitos dizem) têm , nesse aspecto, um diferente modo de sentir as coisas. Para eles “o mais velho” é algo que deve ser respeitado e acarinhado, pela sabedoria que encerra.
    Também me senti, deveras, impressionado quando José Saramago disse na cerimónia da entrega do Nobel que o homem mais sábio que conhecia não sabia ler , nem escrever. Era o seu avô. Não sei se alguns “modernos” seriam capazes de dizer isso, mas , para mim, valeram mais estas palavras do Saramago do que muitas das “modernices” que há por aí.
    Ainda hoje, curiosamente, estive a ver no you tube um video da actuação de Pete Seeger (um cantor com 90 anos e um dos pais da música folk norte-americana) ao lado de Bruce Springsteen ,na tomada de posse de Barack Obama. A canção que interpretou era “This Land Is Your Land” (canção velhinha , com mais de 60 anos) e até o Obama cantou. A multidão, constituída por jovens e menos jovens aplaudiu e emocionou-se. Gostei…
    Como todos nós caminhamos para velhos e não para novos, o texto que colocou na sua crónica deveria merecer a atenção de muitos.
    Também o facto de eu ser professor faz com que tenha conhecimento do desrespeito para com os mais velhos que, actualmente, existe na sociedade. O que acho lamentável…

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