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Página Principal  /  Carta Dominical • Quadrazais • Riba-Côa • Salamanca  /  As três donzelas de Riba Côa
15 Fevereiro 2009

As três donzelas de Riba Côa

Por Jesué Pinharanda Gomes
Jesué Pinharanda Gomes
Carta Dominical, Quadrazais, Riba-Côa, Salamanca celestina, frei agostinho de Santa Maria, nuno de montemor, rosa da montanha, Senhora da Póvoa 7 Comentários

A edição do romance «Celestina», do etnógrafo Joaquim Manuel Correia, da Ruvina, entrelaçando a vida raiana da nossa região, sugere-nos uma breve meditação sobre o amor e a morte.

Joaquim Manuel Correia - Capeia Arraiana
Joaquim Manuel Correia

Coisas do tempo, criando cenários propícios à ficção romanesca. Temos aí três óbvios exemplos das gestas de coragem e de ousadia entrelaçando com as saudades e as frustrações do amor. Por ordem cronológica: A Rosa da Montanha, o Celestina (se bem que longamente inédito) e o Maria Mim.

Em todos os romances as aventuras guerrilheiras (ao fim e ao cabo, a prática do contrabando era uma espécie de guerrilha…) e a procura da donzela, ao gosto romântico. Em A Rosa da Montanha, duas donzelas, Laura (a Rosa), a Florinda, a quadrazenha, que, ferida e mal ferida de amor, vem a ser a verdadeira heroína do romance; no texto de Joaquim Manuel Correia, Celestina e, no Maria Mim, a própria, morrendo de amor, ou sobre o amor frustrado adormecendo, cansada e destruida, num verde tapete de relva do arraial da Senhora da Póvoa.

Joaquim Manuel Correia aproveitou da sua informação etnográfica para construir um texto muito diferente dos de Carvalho e de Montemor. Com efeito, e conforme escreveu Fernando da Silva Coreia, «o romance é recheado de notas etnográficas e costumes já esquecidos, surpreendendo-se nele conversas, linguagem, cenas familiares e rurais, episódios políticos e religiosos… que o autor colheu com a máxima fidelidade».

Dir-se-ia que Celestina foi um exercício pelo qual o autor ensaiou a transposição da colheita etnográfica para a obra de arte literária, repleta também, não apenas do pitoresco, mas da análise psico-social e da escultura do perfil das nossas gentes.
Celestina

O capítulo 55, único que ainda pudemos ler em texto impresso, resulta num admirável painel da religiosidade popular e do significado de Nossa Senhora da Póvoa para os povos da Raia, por isso também motivo no Maria Mim de Nuno de Montemor. O pitoresco, o colorido dos cortejos de carros de bois engalanados com colchas, transportando mães e filhas para a romaria, a animação profana e religiosa durante o tríduo festivo (Domingo, segunda e terças-feiras de Pentecostes) prende a nossa imaginação e sensibilidade.

A Senhora da Póvoa foi o santuário mariano por excelência da região. O culto terá começado lá por fins do século XVIII, quando dois pastorinhos encontraram, escondida numas silvas, uma imagem de Nossa Senhora que o povo de Vale do Lobo moveu para a igreja onde pouco tempo esteve, pois se deu o fenómeno de a imagem ter voltado para o silvado. Do ponto de vista das «imagens milagrosas» (aparecidas) esta é apenas uma das dezenas com semelhantes histórias já contadas por Frei Agostinho de Santa Maria. Fosse como fosse, logo em 1802 foram erigidos os cruzeiros, assinalando um novo santuário, cuja capela foi construída em 1874. O sítio atraiu os fiéis, mas também os queixosos de doenças do fígado que se sentiam melhores bebendo água da fonte do santuário.

Não sabemos se a imagem antiga ainda se conserva, mas o cancioneiro noticia a existência de duas, a velha e a nova, como se cantava no refrão das Loas poveiras: «Nossa Senhora da Póvoa / Viva a velha / Viva a nova!»

E com isto chegamos ao ponto em que seria lógico começar, indagando quem é a Celestina, que dá o nome ao romance de fundamentação histórica e geograficamente bem definida. No contexto dos episódios da última guerrilha carlo-miguelista, Celestina é uma bonita e educada jovem, filha oculta de um padre que, todavia, revelou a sua existência ao seu bispo. Celestina apaixonou-se por Benito, um carlista castelhano, que vivia oculto na região do Sabugal, e que os acidentes da vida não lhe consentiram dar a felicidade a Celestina, que veio a casar com outro, Alfredo chamado, que felicidade lhe não deu.

No epílogo, Celestina e o marido têm ocasião de assistir a uma tourada, em Salamanca. Figura principal do cartaz era Benito, famoso toureiro. Foi este colhido, sem que Celestina o reconhecesse, mas o romancista conta que a última palavra pronunciada pelo toureiro, já no hospital, onde morreu, foi o seu nome: Celestina.

De novo as três infelizes donzelas de Riba Côa: Florinda, prometida a Tomás, mas que se apaixonou pelo estudante Eugénio, que amou sem ser amada, conforme ao entrecho de A Rosa da Montanha; Maria Mim, prometida ao Lareia e que deveio doente de paixão pelo alferes Marinho, que de todo a não merecia; e, agora, Celestina, doente de amor por Benito, e alfim casada com outro, e desfeita em lágrimas face à morte do amado intangido.

O enquadramento histórico sustém a credibilidade dos factos e a verosimilhança das ficções, sempre úteis à arte do romance. Por saber fica se o retrato que idealizou da menina Celestina e que ilustra a capa da edição, corresponde apenas à imaginação do escritor. Pouco importa, todavia, para o caso.

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«Carta Dominical», por Jesué Pinharanda Gomes

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Jesué Pinharanda Gomes
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7 Comments

  1. Avatar Famiguel Responder a Famiguel
    Quarta-feira, 2 Setembro, 2009 às 21:40

    Dos tres romances, apenas reconheço o Maria Mim. Onde posso obter A Rosa da Montanha e O Celestina ? Agradeço a v/ajuda.

    • Avatar Natália Bispo Responder a Natália
      Quinta-feira, 3 Setembro, 2009 às 11:12

      Famiguel
      Tenho todo o prazer em ajudá-lo.
      A Casa do Castelo tem disponível para entrega “A Rosa da Montanha” e “O Celestina”, entre outros títulos de autores da nossa zona.
      No caso de não lhe ser possível visitar-nos poderão ser enviados por correio.

      Atenciosamente
      Natália Bispo

      contactos:
      email: nat.bispo.monumenta@gmail.com
      telf.: 271754169

  2. Avatar joao valente Responder a joao
    Segunda-feira, 16 Fevereiro, 2009 às 13:39

    Pedindo desculpa por “meter a colherada”, mas o mestre Pinharanda me corrigirá se estou enganado:

    Li nãosei onde, que a Celestina foi inspirada na Rosa da Montanha, que por sua vez fora inspirada numa senhora da familia de Joaquim Correia, em casa de quem o autor ficou hospedado quando estudou na Guarda.

    Não sei se estarei a fazer confusão…

  3. Avatar joao valente Responder a joao
    Segunda-feira, 16 Fevereiro, 2009 às 12:04

    O mais conhecido Maria Mim. Concordo que hoje até o sol raiou. Há que tempos não aparecia!

  4. José Morgado Zé Morgado Responder a Zé
    Segunda-feira, 16 Fevereiro, 2009 às 0:52

    Mestre Pinharanda Gomes
    Fico contente e agradecido por voltares ao convivio dos colaboradores e visitantes do Capeia ARRAIANA, com as tuas dominicais.
    Já tinha saudades das tuas memórias sobre tanto e tanta coisa que guardas e abnegadamente divulgas aos presentes e vindouros. que de qualquer modo se sentem ligados ao Rbacõa.
    Espero-te no Sabugal a ti e á Srª Dª Judite para mais um são convivio com a nossa gente, no dia do Domingo gordo.
    Saudações Arraianas
    Zé Morgado

  5. Avatar josé manuel Responder a josé
    Domingo, 15 Fevereiro, 2009 às 23:58

    Será o Maria Mim…

  6. Avatar Ars Responder a Ars
    Domingo, 15 Fevereiro, 2009 às 20:03

    Hoje até o Sol brilhou.
    Os domingos voltaram a ser domingos, no Capeia Arraiana.
    Celestina será, talvez, o romance mais representativo da Região.

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