Por vezes a natureza escancara as portas e diz-nos que alguma coisa está mal. Soubemos assim que as vacas não comem carne… coisa extraordinária.
Os casos de mortalidade bovina dos últimos dias, em ambiente tão fortemente diminuído em termos de diversidade biológica, como são as pastagens extensivas, não nos levaria à partida a suspeitar de uma queixa no livro de reclamações da mãe natureza.
A Leptospirose é uma doença bacteriana que se transmite por meio aquoso. A chuva dos últimos tempos ajudou a manter viva a bactéria, enquanto as baixas populações de corujas e mochos, principais controladores das populações de ratos, também não ajudaram por via indirecta ao controlo da transmissão da bactéria.
Nalguns países, em culturas agrícolas sensíveis, o controlo de roedores é efectuado com o auxilio de Corujas das Torres, colocadas em ninhos, espalhados em rede. Os resultados obtidos permitem manter sobre controlo, ratos e os ratinhos.
Na verdade as nossas pastagens não são assim tão extensivas, o que me leva a suspeitar do impacto negativo que advém do grande número de caçadores com fraca ou nula consciência ecológica. A imagem dominante associada ao caçador, parece ser a do indivíduo que deambula ansioso por matar, mais do que por saborear a natureza. Talvez isso explique também o estado embrionário e até inexistente de outras culturas de caça, que nalguns países estão organizadas e regulamentadas, como são a falcoaria desportiva e a caça com arco e flecha.
Em França a ASCA-Associação Desportiva de Caça com Arco, festejou o seu 40.º aniversário.
Nós por cá, ainda estamos na fase de entender e aceitar a importância da diversidade biológica. A natureza é tanto mais saudável quanto mais mecanismos biológicos interagirem no seu meio. O mesmo se aplica a cada ser individualmente, quanto maior a sua variedade genética, maior a sua resistência a doenças. Uma última ilustração que em adolescente ouvia na aldeia, e que nos revela como espécie Darwiniana, é a de que «elas preferem os de fora».
O respeito pela natureza deve ser transversal na sociedade, e não apenas limitado a grupos que vivendo sobretudo em meio urbano, não têm grande impacto no mundo rural. As áreas protegidas têm um importante papel de consciencialização, mas ele não pode frutificar sem a participação e envolvimento das populações em projectos de teor ambiental através dos quais se sintam elas próprias valorizadas.
Veja a página da ASCA... [aqui]
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«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura
(Apicultor da Serra da Malcata)
António Emídio
Rejeitar a mãe está na nossa natureza enquanto seres em crescimento, sobretudo quando ela é muito presente.
Talvez esta nossa comunidade tenha ainda muito que crescer para se tornar adulta e olhar para a sua própria mãe com o amor do filho que ela merece.
António Moura:
Senti alegria, e creia-me, até alguma comoção, quando li MÃE NATUREZA.
Por aqui não se usa muito essa maravilhosa expressão.