«Matam o Mestre! Matam o Mestre nos paços da rainha. Acorrei ao Mestre que matam! Acorramos ao Mestre amigos, acorramos ao Mestre, que o matam sem porquê!» É desta forma que Álvaro Pais e os seus aliados, apoiantes de Dom João, o primeiro, percorrem as ruas de Lisboa e conseguem um verdadeiro levantamento popular de apoio ao Mestre de Avis, futuro rei D. João I.

Temos acesso a toda esta informação através da Crónica de El-Rei D. João I de Boa Memória escrita de forma superior por esse génio da literatura que foi Fernão Lopes.
Este cronista deve com justiça ser considerado o primeiro historiador de língua portuguesa, bem como um refinado prosador. No prólogo da sua crónica Fernão Lopes promete descrever os factos a que teve acesso com verdade e probidade, pondo de parte a afeição.
Assim com isenção, ficamos a saber como foi possível com coragem e determinação na crise de 1383-1385, mantermos a nossa independência. A crónica de Fernão Lopes é uma crónica de uma revolução que teve como protagonista e herói o povo. A revolução de 1383-85 foi uma revolução popular.
Vem tudo isto a propósito de um pedido que me foi formulado pelos administradores do blogue para no meu último trabalho, destacar um personagem, um sabugalense, que na minha opinião se tivesse destacado neste ano que está a terminar.
Devo dizer que poderia indicar dezenas de sabugalenses que pela sua actividade, inteligência, dinamismo e criatividade poderiam ser citados neste trabalho, correndo o risco de ser injusto com muitos outros, que ficariam na sombra e no esquecimento.
Como na crónica de Fernão Lopes, os heróis são todos os sabugalenses que aqui vivem e trabalham, que diariamente lutam contra a adversidade de residir no interior abandonado pelo poder central, que em PIDDAC nos dá para o ano de 2009, uns míseros 20.000 euros, ou seja, o investimento do governo central no Sabugal para este ano, é uma esmola!
Porque andam dias iguais perseguindo-se, viver, trabalhar e lutar diariamente no Sabugal, contra este abandono a que estamos votados é deveras um acto de heroicidade.
A todos estes sabugalenses faço uma vénia, tiro o meu chapéu e faço votos de um Bom Ano de 2009.
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>> Para Ler…
«História de uma Revolução, Crónica de El-Rei D. João I de Boa Memória», de Fernão Lopes, edição dos Livros Europa América.
«As aventuras de Oliver Twist», Charles Dickens.
>> Para Ver e Ouvir…
«De Gainsbourg à Gainsbarre», de Serge Gainsbourg, CD 848364-2 da Philips.
«O Concerto de Ano Novo, pela Orquestra Filarmónica de Viena», sendo maestro Daniel Barenboim, em directo de Viena, transmitido pela TVE1, no dia 1 de Janeiro, às 10.15 horas da manhã, hora portuguesa.
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«Páginas Interiores», opinião de José Robalo
Heroismo, mesmo!
deveras uma acto heroico sobreviver neste concelho, analogia prefeita e enrriquecedora.
novo ano novos desafios novos textos, parabens
carlos Jorge
Sem dúvida que os Sabugalenses que têm a coragem de viver e trabalhar no Concelho de Sabugal, mereciam esta distinção!
Como sempre o Drº Robalo não perde tempo nem desgasta energias na recolha de elementos que o levassem por critérios a ir colocando uns de lado e outros à frente.
Mas tem que me desculpar, não concordo em que se culpe só o “Piddac”, já antes de haver “Piddac” as pessoas tiveram a coragem de aqui se fixar!
Então o porquê de não haver uma inter-ajuda entre aqueles que aqui vivem e que tendo uma atitude séria encarassem as dificuldades investindo na colaboração comercial de serviços, de produtos, de divulgação e bem essenciais que o nosso Concelho tem para oferecer!
Alguma vez se fez um estudo sério da riqueza que aqui poderia ficar se houvesse esta preocupação de colaborar uns com os outros?
E não se deve exigir só às empresas esta colaboração, o cidadão comum, também tem responsabilidades. Alguma vez estes foram despertos para isso? Se o dinheiro aqui circular algum ficará para melhorar as condições de vida de quem cá vive!
Há bem pouco tempo saíram as notícias de projectos apoiados com dinheiros comunitários. Da parte dos outros projectos não sei qual a postura, mas da parte dos proprietários do projecto “Casa do Castelo”, houve desde o inicio a preocupação de tudo o que fosse possível ( construção e materiais para a mesma, equipamentos… ) ser comprado e pago no nosso Concelho.
Estarei errada, ou esta maneira de actuar terá ou não alguma influência no desenvolvimento de que tanto se fala?
Se nos lamentamos e se nós próprios também não fizermos algo que segure aqui o dinheiro, então também estamos a errar, como erram aqueles que nos destinam os dinheiros do “Piddac”.
Natália Bispo
Concordo , totalmente, com esta crónica.
Personalidade do Ano: “Todos os sabugalenses que aqui vivem e trabalham”.
Grande escolha. Não podia estar mais de acordo.
Brilhante, o texto e a sua fundamentação.
Obrigado.