Estará o Concelho do Sabugal a aproveitar as potencialidades do transporte ferroviário?
Na crónica anterior demonstrei que, apesar de tudo, o concelho do Sabugal não está tão mal servido de ligações ferroviárias como muitas vezes se houve dizer.
A questão que se coloca é assim de nível diferente, isto é, será que os sabugalenses nas suas deslocações de e para Lisboa, Coimbra ou Porto estão dispostos a utilizar o comboio ou preferem o autocarro ou o carro individual?
Por outro lado, estarão facilitadas as ligações da sede do Concelho e das nossas freguesias às estações da Cerdeira e do Barracão, ou pelo contrário tudo está preparado para desincentivar o uso do comboio?
Sou daqueles que pensam que a via ferroviária deveria reganhar o papel que já teve enquanto meio privilegiado de transporte de passageiros e mercadorias – lembro-me bem do alvoroço que era ir com o meu pai à «Central», onde hoje funciona uma Agência Bancária, para receber o «cesto» de verga que a minha bisavó mandava de Casal Mundinho, pelo comboio; ou de quando estudava em Lisboa e vinha de férias ao Sabugal pela Linha da Beira Baixa, numa viagem épica que começava em Santa Apolónia às sete e meia e terminava no Sabugal às quatro da tarde…
A modernização da Linha da Beira Alta já concluída até Vilar Formoso; a conclusão dos trabalhos de modernização da Linha da Beira Baixa desde a Covilhã até à Guarda; a ligação ferroviária da Linha da Beira Baixa, junto ao Barracão à Plataforma Logística na Gata; eis um conjunto de alterações profundas da ferrovia que, quer queiramos quer não, irão ter impactos sobre a vida do Concelho, a que se deve associar a plena utilização das Termas do Cró, servidas directamente pela Estação da Cerdeira.
A importância desses impactos depende claramente da postura que tivermos perante o transporte ferroviário: apostamos ou não na ferrovia.
É que não basta dizer que estamos isolados do mundo, é necessário tirar partido de eixos de ligação ao País e ao Mundo tão importantes como as linhas férreas. Para isso, torna-se necessário:
– Criar boas acessibilidades à Cerdeira e ao Barracão;
– Encontrar as formas de transportar as pessoas para as mesmas;
– Estabelecer parcerias com a CP e transportadores rodoviários (e há-os no Sabugal…) permitindo, por exemplo, abrir um «despacho» de mercadorias no Concelho, ou criando incentivos à utilização do comboio (por exemplo, descontos aos idosos ou aos estudantes do Concelho);
– Desenvolver campanhas de sensibilização ambiental visando a utilização do comboio.
Receio que esta minha crónica apareça um pouco ao arrepio do que é hoje a adoração ao automóvel.
Mas, para quem utiliza como eu o comboio para ir ao Porto, a Coimbra ou a Castelo Branco, ou, mais próximo, para me deslocar de minha casa a Lisboa ou a Vila Franca de Xira, não me restam dúvidas de que pela Cerdeira e pelo Barracão também passa o futuro do Concelho do Sabugal!
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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