A história é por demais conhecida. A leitura das novelas de cavalaria fizeram com que D. Quixote perdesse o siso e é vê-lo armar-se cavaleiro e a correr mundo, com o cavalo Rocinante e um aio fiel Sancho Pança com o Ruço, dispostos a combater todo o tipo de desagravos.

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«Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco e galgo corredor (…)»
Miguel de Cervantes, D. Quixote de La Mancha
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De cabeça perdida luta contra inimigos putativos, os moinhos de vento, que toma por gigantes, apesar das recomendações do pobre Sancho Pança, que atónito assiste à loucura do seu amo. Alucinante…
Conhecedor desta loucura do cavaleiro andante, Sancho Pança não desarma perante a promessa de vir a ser governador de uma ilha.
Sancho, um pobre homem avisado, mas um pouco néscio, sempre vai desconfiando da sua competência para vir a ser governador de uma ilha, ele um pobre e boçal pegureiro. Obnubilado pela volúpia do poder, não desiste de ser companheiro da estultícia do seu amo, porquanto confia nas capacidades da sua Sancha que ficou em casa a tratar dos filhos e dos porcos. As suas limitações serão sempre supridas pelos préstimos da sua Sancha e este pensamento reconforta-o.
Como refere o próprio Cervantes, lançando mão do dito popular, «pelo dedo se conhece o gigante» esta ambição desmedida do ser humano, torna-o escravo da sua loucura: o importante é ter poder, distribuir mordomias e ser venerado.
Pelas mesmas razões, o frade ambicioso e prevaricador do auto de Gil Vicente, ambicionava a ser bispo, nem que fosse da Berlenga.
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>> Para Ler…
«D. Quixote de la Mancha», de Cervantes.
>> Para Ouvir…
«Jack Dejohnette, New Directions, in Europe», ECM.
«The history of Art Blakey, and the Jazz Messengers», quiça os dois melhores bateristas de jazz de sempre.
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«Páginas Interiores», opinião de José Robalo
“Esta ambição desmedida” leva algumas pessoas a não desarmar “perante a promessa de vir a ser governador” e pelo caminho não têm qualquer problema em atropelar todos os obstáculos. Deixa de haver amizade e consideração sendo gradualmente substituidas pela inveja e pela indiferença. D. Sancho era iludido pelo seu Cavaleiro Andante, e os “Sanchos” actuais? Qual será a sua ilusão!?