«Não posso senão dizer-te que consideres isso que se chama opinião pública como o que verdadeiramente é: lixo». Palavras do escritor Hermann Hesse a um amigo.

Hoje, o que se considera como opinião pública não é mais nem menos que a opinião do poder económico, político e mediático. Os povos nunca estiveram tão condicionados pelos interesses das agências de publicidade, televisão, jornais e revistas. Um exemplo? Portugal, que está a atravessar um dos períodos mais negros da sua história em todos os campos, desde o político, passando pelo social, económico, até ao moral, mesmo assim uma sondagem feita à opinião pública dá a vitória nas próximas eleições ao causador deste descalabro todo, o partido do governo.
O homem já deixou de ter influência no rumo das coisas, e isso aconteceu com a difusão da imprensa, foi substituído pelo grande capital e os meios de comunicação ao serviço desse mesmo capital. Com isto não é de admirar que tenha aparecido o pensamento único, o pensamento vigente no momento histórico em que vivemos.
Há meios de comunicação alternativos e livres onde se pode expressar uma opinião diferente, mas esses não chegam ao grande público nem estão em condições de nos defenderem da técnica de manipulação e desinformação praticadas diariamente pelos mass media.
Notam-se algumas diferenças ideológicas entre alguns sectores da comunicação social, mas no fundo todos apoiam a ideologia dominante, digam-se de esquerda ou de direita. Não nos mostram os verdadeiros problemas do Mundo nem as suas gritantes injustiças.
Estamos a assistir a um neototalitarismo mediático capaz de manipular sem um limite aparente a opinião pública.
Leitor(a) não se deixe manipular, se isso lhe acontecer deixa de ser um cidadão livre.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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Caro António Nabais: Lembra-te do poema de António Gedeão onde estava esse verso magnífico (que o meu professor de Língua Portuguesa no Liceu da Guarda , em 1976, obrigou os alunos a colocar na primeira folha do caderno, e hoje penso que muito bem): “O SONHO COMANDA A VIDA!!!”
Porque , quando o homem deixa de sonhar algo vai mal…
E continua… Não páres: Ser radical é ir à raiz do problema. Grande elogio…
Caro António
Tenho lido, e muitas vezes comentado as tuas crónicas, mas considero que a partir de hoje tal deixa de ser possível.
Há pessoas que, pelo seu fanatismo ou radicalismo, pretendem transformar as suas vontades e (pré)conceitos na verdade.
Não era esta a ideia que tinha de ti, mas hoje começo a pensar que estava errado.
A tua postura no mundo hoje reduz-se a atacar indiscriminadamente tudo e todos desde que não ataquem este Governo: os jornalistas, os economistas, os cidadãos em geral, tudo o que não considere este Governo o Diabo, são “diabinhos” à sua volta, e, portanto, gente má.
Posicionando-me como independente próximo do Partido Socialista, não aceito que me metas no saco dos capitalistas, imperialistas, fascistas e outros que tais…
No teu entender, este é o pior governo de sempre, mas, sê um pouco humilde e aceita que outros, com a mesma convicção, pensem diferente de ti.
A vida não é a preto e branco, não se divide entre o bem (sempre bem) e o mal (eternamente mal)…
A riqueza da democracia foi claramente definida por uma intervenção de arte pública do saudoso SAM, representada por uma cadeira de vários metros de altura com o assento inclinado, chamada “cadeira do poder”, porque era impossível permanecer sentado nela sem escorregar e cair.
Antes do Sócrates já lá estiveram dezenas de outros; após o Sócrates lá estarão outros. E o País não era um mar de rosas antes deste nem passará ao céu quando este se for embora.
Culpar os outros de uma responsabiliadde que é de todos pode afagar o nosso ego, mas não resolve os problemas de Portugal…
Continuaremos a ser amigos por certo, tu falando de moinhos de vento, eu falando dos problemas do Concelho, mas, prometo-te que este é o meu último comentário às tuas crónicas. Para bem da nossa amizade, para bem do Sabugal para o qual, não tenho dúvidas, os dois pretendemops o melhor…
Um abraço
Ramiro
Não há dúvida nenhuma que para se saber uma notícia , hoje, o melhor é consultar fontes na internet, nem que sejam várias fontes que possam ser contraditórias. Os mass media (sobretudo as TV’s) são manipulados e só publicam o que lhes convém…
Caro António Emídio
Permite-me que acrescente a minha visão da «coisa Opinião Pública».
Penso que se pode dizer que a credibilidade de um jornalista passa pela forma como ele se impõe perante o leitor com o que escreve, com a coerência do seu rigor, na forma como vê os acontecimentos sociais, como, no fundo, vai dando fragmentos, leituras sobre a realidade e vai permitindo que as pessoas (opinião pública) acompanhem essa mesma realidade pelo seu olhar, assumindo corajosamente a subjectividade.
Não devemos esquecer que o trabalho do verdadeiro jornalista consiste (devia consistir) em levantar o véu às coisas, investigar, ler enfadonhos documentos que ninguém tem sequer paciência para folhear, sentir contradições, pressentir falta de seriedade e de carácter, perceber fracas (ou falsas) competências pessoais e profissionais, descobrir os escondidos e revelá-los ao seu público, enfim, à Opinião Pública.
O jornalista sabe que o seus leitores esperam que lhes dê respostas, nunca perguntas. Há muitos anos atrás ouvi um «monstro» do jornalismo português, o Senhor Alfredo Farinha, questionar na Redacção um artigo escrito por um dos estagiários que o escutava: «Ó rapazinho achas que as pessoas vão comprar jornais para ler perguntas? Os nossos leitores estão à espera que lhes dês a resposta não a pergunta. É para isso que pagam o jornal. Querem saber a nossa opinião para depois a assumirem nas conversas de café. Querem saber se consideramos que o árbitro roubou o seu clube.»
Mas… por vezes a técnica informativa que influencia a Opinião Pública resulta do duplo compromisso que o jornalista tem enquanto intermediário entre o acontecimento e a sociedade e, infelizmente, por outro lado, dos interesses comerciais da empresa que lhe paga o ordenado.
A verdade é um conceito intangível muito embora a meia-verdade de que fala António Aleixo no seu poema «é mais perigosa que a mentira completa».
O rigor ético da notícia deve ser uma fuga à mentira mas isso não significa que seja efectivamente um ponto de chegada à verdade. Por vezes a verdade é camuflada pelas «fontes» por endividado e conveniente silêncio corporativo.
Pelo pesado som do silêncio…
E chegamos, assim, à credibilidade das «fontes» que daria pano para mangas.
Termino com um pensamento desse grande jornalista e escritor colombiano Gabriel García Márquez: «Captar a realidade é muitíssimo mais complicado do que inventá-la.»
Aquele abraço raiano,
José Carlos Lages