Contava-me uma amiga entre risos, que como opositora a um qualquer concurso num município do distrito da Guarda e num teste de resposta múltipla, uma das perguntas pretendia avaliar os conhecimentos dos candidatos, sobre o ponto mais ocidental da Europa. Como nenhuma das respostas alternativas continha a resposta certa, esta minha amiga acrescentou a ilha das Flores. Teve conhecimento que mais tarde a prova foi anulada.

Dentro da mesma linha desastrada e analfabeta, uma ministra deste governo quando questionada sobre uma decisão desfavorável dum tribunal do arquipélago na apreciação de uma providência cautelar, desfavorável às pretensões do seu ministério, afirmava que a decisão não era relevante, porquanto as leis nos Açores nada tinham a ver com as de Portugal.
São estes episódios burlescos e disparatados que também me acodem ao espírito neste paraíso – a ilha das Flores – onde nos sinais informativos, somos alertados para o facto de nos encontramos no concelho mais ocidental da Europa, o concelho de Lajes das Flores e mais à frente com orgulho informam-nos que estamos na freguesia mais ocidental da Europa a freguesia da Fajã Grande, onde do mar podemos apreciar o espectáculo da natureza, com quedas de água nomeadamente o Poço do Bacalhau.
A ilha das Flores é um paraíso natural, que satisfaz os desejos dos amantes da pesca desportiva tal a variedade e quantidade de espécies nestes mares; o amigo Meireles proprietário do restaurante «O Pescador» em Ponta Delgada na ilha das Flores é o cicerone numa pescaria ao cherne e goraz, espécies que por aqui se tornam abundantes.
Um banho em alto mar não oferece qualquer perigo apesar dos tubarões, uma vez que a sua dieta é toda ela à base de peixe que é abundante por estas paragens.
O dia completa-se com um cherne frito à moda das Flores, lapas com molho Afonso e cavacos acompanhados por um branco do Pico que na ocasião foi um Frei Gigante.Apanhar um cherne num cenário que tem como pano de fundo a ilha do Corvo aumenta a nossa curiosidade de conhecer esta comunidade com cerca de 400 habitantes; uma ilha com uma estrada que dá acesso à cratera do Caldeirão e do local mais elevado contemplar o horizonte, ficamos com a sensação de estarmos mesmo no fim do mundo, se é que este existe. Acode-me então ao espírito o personagem criado por mestre Gil Vicente, o frade ambicioso que desejava ser bispo, nem que fosse das Berlengas. E que dizer do Sancho Pança, que se submeteu a todas as provações para servir um cavaleiro andante louco de nome D. Quixote, fiado na promessa de que poderia vir a ser governador de uma ilha.
Voltando ao mestre Gil Vicente – como me diverti a ler os seus autos e farsas… – não se lembra o caro e amigo leitor do desabafo da avisada Inês Pereira quando afirmava: «Mais quero asno que me leve do que cavalo que me derrube.»
Na política continuamos apegados a este mote e assim não haverá maneira da coisa descolar.
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>> Para Ler
«O velho e o mar», de Ernest Hemingway.
>> Para Ouvir
«The essential», de Leonard Cohen.
«Por este rio acima», de Fausto.
>> Para Ouvir e Dançar
«Calafão de São Miguel», clique para ouvir… (Aqui.)
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«Páginas Interiores», opinião de José Robalo
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