Aldeia Velha – Uma das mais emblemáticas terras do forcão aproveita as festas de São João Baptista, entre 22 e 26 de Agosto, para fechar o calendário das capeias do mês de Agosto. Fomos ao encontro do presidente da Junta de Freguesia, Manuel Rodrigues Gomes, na carismática praça central da aldeia onde encerro e a capeia acontecem ano após ano a 25 de Agosto. Um dos montes das redondezas esconde as ruínas do Sabugal Velho que foi arrasada, segundo conta a lenda, por ali se ter escondido um dos carrascos de D. Inês de Castro.
O presidente da Junta de Freguesia, Manuel Rodrigues Gomes, eleito como independente, inspeccionava o largo central de Aldeia Velha que está a sofrer obras de melhoramentos e requalificação para que tudo esteja mais bonito e arranjado quando chegar o Verão.
«Adquirimos os lameiros e recuperámos o açude», lembra o autarca com satisfação enquanto caminhávamos em direcção à última obra da Junta de Freguesia.
«Aqui funcionava a antiga ordenhadeira. Foi recuperada pela Junta em parceria com a Câmara e agora está pronta a funcionar como um bar-café. Vamos colocá-lo a concurso para ser arrendado e damos prioridade aos da terra», esclareceu o membro da Junta de Freguesia de Aldeia Velha. A conversa era informal e aproveitámos para observar a decisão – Mas se arrendarem o espaço a alguém de fora estão a contribuir para ter mais pessoas na aldeia…
A «casinha» junto à estrada, cheira a nova, está bem localizada, rodeada de lameiros verdejantes e será, decerto, um ponto de encontro privilegiado no próximo mês de Agosto.
Ali perto, encostados ao muro, como que envergonhados estão os velhos forcões de Aldeia Velha. Os momentos de glória destes heróis escoltados por 30 rapazes já lá vão. Agora estão transformados em monumentos de madeira escurecida pelo sol e pela chuva testemunhando a paixão raiana pelas capeias.
No café central estivemos à conversa com uma artesã que aproveitou para esclarecer e deixar alguns lamentos ao presidente da Câmara Municipal do Sabugal, Manuel Rito Alves, que ouviu e aproveitou para esclarecer, sem mais delongas, as dúvidas. Há posturas de proximidade e diálogo com as populações que ajudam a ter uma percepção mais real das dificuldades e dos problemas municipais e permitem desmistificar alguns falsas questões.
Um projecto de 2004 apoiado pela ADES permitiu à freguesia a aquisição de diverso equipamento administrativo tendo a percentagem não subsidiada sido coberta pela Câmara Municipal do Sabugal com uma verba a 100 por cento.
Ao abrigo de acordos entre a Junta e o Município de delegação de competências, transferência de verbas de capital e apoios directos têm sido feitos investimentos e recuperações interessantes em Aldeia Velha. Para quem passa na estrada destaca-se a escola primária bem conservada e com um funcional parque infantil com equipamentos para a pequenada.
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«Aldeia Velha situa-se num extenso e verdejante vale, na margem direita duma ribeira que tem começo na Fonte das Ferrarias, nas faldas duma serra, juntando-se-lhe depois muitos regatos que passam perto do Sabugal Velho. Do meio da povoação domina-se um horizonte limitado. Mas do alto da mesma e de pequena distância do povoado desenrola-se à vista grande extensão de território espanhol, sobressaindo a serra de Xalma, nas faldas da qual estão situadas as povoações espanholas de S. Martinho, Jujas e Valverde», Joaquim Manuel Correia in «Memórias sobre o concelho do Sabugal».
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«O urbanismo medieval do Sabugal Velho é ainda mais nítido na observação por fotografia aérea, nomeadamente do vôo de 1954, onde se observa que as estruturas do povoado se conservam ainda bem conservadas e organizadas segundo um plano ortogonal, distribuindo-se o casario ao longo de uma rua central, para a qual desembocam pequenas e estreitas artérias transversais. Os edifícios do período medieval eram construídos basicamente em xisto, apresentam exclusivamente planta rectangular e definem-se ao longo dos eixos da povoação. Tratam-se de edifícios de habitação e de funções agrícolas e artesanais. Estes edifícios caracterizam-se por não apresentar vestígios da cobertura, baseada apenas em materiais vegetais e perecíveis – colmo ou giestas. Os muros são tortuosos e de aparelho a seco, sem argamassa. Em algumas situações aparentam ter um revestimento interior de barro. Não apresentam quaisquer indícios de pavimento no interior dos edifícios, nem tijoleira, lousas, lajes de granito ou argamassa, mas apenas níveis de terra batida. Foram exumadas algumas lareiras no interior dos espaços que considerámos como habitações e foram identificados edifícios interpretados como celeiros, padaria e uma ferraria, pela presença de uma grande forno de xisto, associado a abundantes vestígios de escória, e a alguns fragmentos de ferraduras dispersas por todo o compartimento», Marcos Daniel Osório da Silva, arqueólogo da Câmara Municipal do Sabugal.
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Sinto Aldeia Velha de forma especial. Foi num já distante 25 de Agosto que o meu saudoso pai me acompanhou pela última vez ao encerro e à capeia arraiana.
jcl
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