• O Primeiro…
  • A Cidade e as Terras
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Acontecimento Ano
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro…
  • A Cidade e as Terras
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Acontecimento Ano
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  Páginas Interiores • Ruvina  /  Os sinos da minha aldeia têm um toque único
29 Março 2008

Os sinos da minha aldeia têm um toque único

Por José Robalo
Páginas Interiores, Ruvina josé robalo 6 Comentários

Como alguns mortais, sou natural de uma aldeia humilde, muito bonita, mas pequena, situada entre a Guarda e Ciudad Rodrigo e carregada de espiritualidade. Tenho nos ouvidos o cantar dos pássaros e o toque único das Trindades e das Ave Marias dos sinos do Colégio da minha aldeia.

Igreja Matriz da Ruvina - Censos 1758 - Foto: Capeia Arraiana
Igreja Matriz da Ruvina

:: :: :: :: ::

«Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira… e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas poucas coisas que os meus olhos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde a infância no mundo mais elemental. Dessa infância trouxe também o desprezo pelo luxo, que nas suas múltiplas formas é sempre uma degradação…»
Eugénio de Andrade

:: :: :: :: ::

Na Ruvina tomei consciência do mais importante da vida tendo aprendido a gostar das pessoas e a valorizá-las pelo que são. Quando falo da Ruvina as emoções assaltam-me e embarga-se-me a voz. O meu pensamento treme, quando falo da minha aldeia.

A nossa essência na vida revela-se naquilo que somos e nesse particular sinto orgulho do que sou, por ser donde sou e por ter uns pais trabalhadores e que padeceram muitas privações, para me darem condições de vida, que eles não tiveram.

Sei que há muita gente que lamenta o facto de não ter nascido num pequeno lugar, para poder sentir-se acompanhado e ter referências. Sempre que posso regresso ao meu tugúrio, retempero forças e visito os locais da minha infância, os odores da minha memória tais como as madalenas de Proust, no seu romance: «Em busca do tempo perdido.»
Até o poeta Fernando Pessoa afirmava que a sua aldeia era o Largo de São Carlos.

Foi na Ruvina que me cortaram o cordão umbilical, porque na altura não havia maternidades e tudo ficava longe. Foi aqui que aprendi a rir, a chorar, andar, a falar, a ler e a escrever.

Enquanto criança não conheci telefone ou electricidade e como aquecimento tive sempre boas lareiras. Na Ruvina, a luz eléctrica foi inaugurada, deveria ter sete anos. Considero-me um bafejado da sorte uma vez que com os meus amigos de infância, aprendi valores de solidariedade, justiça e respeito. Todos tínhamos apelidos e lembro-me que me zangava quando me chamavam espanhol em referência ao meu passado recente na vizinha Castilla y Leon.

Aos mais velhos antes do nome púnhamos um «Ti». Ao prior da freguesia, a cada momento que com ele nos cruzávamos, pedíamos a bênção. Tenho nos ouvidos o cantar dos pássaros e o toque único dos sinos da minha aldeia, as Trindades e as Ave Marias do sino do colégio. As minhas vizinhas foram sempre as santas desse colégio.

Acredito como Rilke, que a nossa pátria é a nossa infância. A minha infância é a minha aldeia. A Ruvina sempre foi e será para mim uma lição de vida e por isso, sempre que posso retorno às origens. Em pensamento nunca a abandono e a ela regresso diariamente. A sua ausência é uma coisa que trago sempre comigo…

:: :: :: :: ::

>> Para Ler…
«As Mãos e os Frutos», de Eugénio de Andrade, obra poética, Editora Limiar.

>> Para Ouvir…
«Supplique pour être enterre à la plage de Sete», de Georges Brassens, Philips Phonogram.

«You must believe in spring», de Bill Evans, Warner Bros. Masters

>> Para Visitar…
No domingo, «Festa da Senhora das Preces», na Ruvina, no Cabeço da Atalaya. A paisagem envolvente é de cortar a respiração.

:: ::
«Páginas Interiores», opinião de José Robalo

Partilhar:

  • WhatsApp
  • Tweet
  • Email
  • Print
José Robalo

Origens: Ruvina :: :: Rubrica: Páginas Interiores :: ::

 Artigo Anterior Já apitou o comboio da Festa do Basquetebol
Artigo Seguinte   Um poema de Fernando Pinto Ribeiro

Artigos relacionados

  • Francisco António Robalo – agradecimento

    Sexta-feira, 6 Julho, 2012
  • Burocracia ministerial nega apoios à agricultura

    Sábado, 17 Janeiro, 2009
  • Viver no Sabugal é um acto heróico

    Domingo, 28 Dezembro, 2008

6 Comments

  1. pmarques Responder
    Segunda-feira, 7 Abril, 2008 às 17:25

    É bem verdade que somos da infância como de um país … Gostei muito de ler este artigo no qual me revejo. Dilata-me a alma a viagem ao mundo da infância e da terra dos meus avós ( Monteiros-Gagos ) na Guarda. Sempre que posso também regresso a esse mundo pese embora já não tenha os meus avós comigo, fisicamente, sinto-os presentes nos lugares e nas coisas.

  2. Dina Serra Responder
    Segunda-feira, 7 Abril, 2008 às 17:01

    De cortar a respiração é este artigo que me faz lembrar a minha infância em Barca d’ Alva, terra que me viu nascer.

  3. Afonso Nunes Responder
    Terça-feira, 1 Abril, 2008 às 12:23

    Foi com um enorme prazer que li estas linhas, pensando que fossem da minha autoria, mas parece que não, pois não naci na Ruvina, nem me chamo Robalo, mas se o autor tivesse nascido na Lageosa e se tivesse o nome de Afonso, certamente teria feito menção às capeias, mas no resto teria escrito sensivelmente a mesma coisa.
    Obrigado pelo que escreveu, e sobretudo pela maneira como o soube fazer.
    Nunes Afonso
    Lageosa da Raia

  4. josé manuel de aguiar Responder
    Segunda-feira, 31 Março, 2008 às 20:36

    Quando o autor se escreve o resultado é necessariamente melhor.
    Fidedigno, universal.
    Também gostei muito.

  5. Luís Ferreira Responder
    Sábado, 29 Março, 2008 às 23:16

    Gostei do post, pois a mim também me faz lembrar as saudades da minha aldeia quando estava em Castelo Branco e também muitos anos em Lisboa, nada melhor do que a nossa terra e as nossas gentes, apesar de ter nascido em Cascais, valorizo mais a qualidade de vida rural.

  6. josnumar Responder
    Sábado, 29 Março, 2008 às 15:49

    Apreciei este post e ao lê-lo regressei mentalmente à aldeia que me viu nascer. Desde os 11 anos que resido no Grande Porto, mas muitas vezes dou comigo a ouvir os sinos da igreja, os pássaros a chilrrear e adoro quando vou a pé até às “cavadas” e me debruço para beber a fresca e cristalina água que tanto os meus avós e pais gabaram sempre que lá iam tratar da vinha, do olival, das colmeias e das figueiras…ai os figos!!!

Leave a Reply to Afonso Nunes Cancel reply

Social Media

  • Conectar-se no Facebook
  • Conectar-se no Twitter

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2022. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
 

Loading Comments...