Hoje é domingo de Páscoa. Quebra-se o silêncio da Quaresma.

No sábado, à meia-noite, os sinos voltavam-se a repicar. Anunciavam a Ressurreição do Senhor. Nesse dia, a Igreja estava fechada.
A surpresa só podia ser vista no Domingo de manhã. Ao soar do terceiro repique, a Igreja estava nova. Os Santinhos tinham saído dos seus altares e encontravam-se em andores, ricamente enfeitados com belas flores artificiais, brancas, rosas e azuis e todas as cores. Estavam sorridentes, alegres e tinham o ouro que lhes pertencia, no pescoço e nas orelhas. Só a Senhora da Assunção e o Sagrado Coração de Jesus ficavam nos altares engalanados. De resto, estavam a Senhora de Fátima, a Senhora Santa Luzia, o Menino Jesus em pé (porque havia o mais pequenino que só servia para estar deitado) e os outros todos que tinham lugar na Igreja. Porque havia ainda os das ermidas (São Gens, Santo António, Senhora dos Remédios, das Dores e dos Aflitos, Santa Eufémia e Espírito Santo) que não vinham. Ficavam em casa.
Tudo o mais, santo e pessoas, estavam no povo onde era a Festa de Flores, Domingo de Páscoa. Festa de Flores queria dizer também amêndoas, coscorões (ou coscoréis), e o tambor do Ti Casado, a dar a volta ao povo: «Rana, rana, cataplana, quem tem sona vai p’ra cama»!
Assim era em Quadrazais! Que o não seja agora pouco importa, porque continua a ser na nossa saudade.
:: ::
«Carta Dominical», por Jesué Pinharanda Gomes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Fevereiro de 2007 a Setembro de 2018)
:: ::
Leave a Reply