Na Grécia antiga o bravo ateniense Teseu, filho do rei Egeu, desafiou e venceu o Minotauro que habitava nos labirintos do palácio de Minos na ilha de Creta. Na raia sabugalense a capeia arraiana com forcão é uma forma superior de bravura deste território único. Este fim-de-semana as atenções estão viradas para Aldeia do Bispo com um variado e colorido programa que inclui desfiles carnavalescos, encerros, desencerros, capeia e o almoço da Confraria do Bucho Raiano.

Na Grécia antiga, na ilha de Creta reinava um poderoso soberano chamado Minos, que residia num lendário palácio concebido pelo arquitecto Dédalo. No labirinto do palácio habitava o monstro Minotauro com cabeça de touro e corpo de homem, que jamais se saciava de carne humana, labirinto tão intrincado que se alguém nele ousasse entrar jamais dele sairia.
Cada três luas o Minotauro percorria a ilha e devorava os pobres cretenses, semeando o terror, saga a que se pôs termo com o sacrifício de jovens atenienses; um dia, o ateniense Teseu, filho do rei Egeu, num acto arrojado ofereceu-se para combater o monstro e caso o vencesse poria por seu lado, fim ao sacrifício dos atenienses. A pitonisa previu a sua vitória desde que fosse amparado pelo amor. O Rei Egeu, preparou então uma expedição comandada por Teseu, num barco adornado de velas pretas, com o pedido explícito de colocar velas brancas no regresso, caso a expedição tivesse sucesso.
Ariadne, filha do rei Minos amparou Teseu com o seu amor, entregando-lhe um novelo de fio que deveria atar no início do labirinto para poder regressar e uma espada mágica, para combater o Minotauro. Teseu que para os atenienses atingiu em façanhas a nomeada de Hércules, conseguiu vencer o monstro e regressar a casa, mas com a euforia da vitória esqueceu-se de alterar o colorido das velas como havia prometido.
O pai ao avistar ao longe a expedição, com as velas pretas, convencido da morte do filho, deitou-se ao mar onde se afogou. Para testemunhar este fatídico episódio ainda hoje as águas que banham essas ilhas têm o nome de mar Egeu, o berço do mundo grego.
As origens das nossas capeias acordam reminiscências deste mito. Diz-se por aqui, que inicialmente o forcão serviu para os rapazes da raia defenderem a população das investidas dos touros bravos que em liberdade se apascentavam nos campos charros e que invadiam as nossas terras, semeando o pânico. Numa segunda fase, o forcão converteu-se no objecto lúdico e de recreio que hoje conhecemos.
Tenho orgulho no concelho a que pertenço e quando olho à minha volta, mais aumenta esse orgulho e a sensação de que este território é único com pessoas, tradições, lugares, património e uma vontade única de sempre ambicionar por mais bem estar e desenvolvimento, num permanente inconformismo.
Apesar de ter nascido numa aldeia ribeirinha do Rio Côa tal aconteceu do lado leonês, (País llïonés), razão pela qual me sinto profundamente raiano. A raia sabugalense é um estado de espírito e uma forma de estar.
Como bom raiano que me considero gosto de touros, cavalos, capeias e do toureio a pé. Como diz José Tomás, o diestro que mais admiro e aprecio, «Vivir sin torear, no es vivir» e podemos afirmar com segurança: sem capeias a raia sabugalense não seria a raia.
No Domingo Gordo em Aldeia do Bispo, o programa é preenchido na íntegra com touros, na tradicional capeia de Carnaval e correspectivos encerros e desencerros. As capeias quase criam um território dentro do território, tal o frenesim das pessoas da raia pelos touros, forcão, encerros e desencerros. A capeia com forcão é uma forma superior de arte e quando o touro tem bravura, trapio, casta, nobreza, se fixa no engano e não sai solto, nada melhor do que uma valsa de Strauss, uma sinfonia de Beethoven para acompanhar os movimentos estilizados de 30 rapazes que com bravura enfrentam o animal «de poder a poder».
Vem tudo a propósito do Carnaval que se avizinha e que em Ciudad Rodrigo com o impulso do Ayuntamiento local, é uma festa que reveste atractividade nacional, no formato assumido de Carnaval del Toro. No concelho do Sabugal a primazia vai para Aldeia do Bispo, «a Princesa da Raia», que tem um corso carnavalesco já com algum interesse, onde os foliões desinibidamente podem desfilar, acompanhadas de tamborileiros, disfarces e gigantones, numa iniciativa da Junta de Freguesia e associação locais, a que a população adere significativamente.
Porque estamos no Domingo Gordo, dia em que tradicionalmente se comem as iguarias resultantes da matança do porco e uma vez que se avizinha a Quaresma com jejum e abstinência, a Confraria do Bucho Raiano decidiu em boa hora, organizar um almoço em honra deste pitéu no restaurante Xalmas em Aldeia do Bispo. Para participar neste evento é necessária uma inscrição prévia.
Estão assim reunidos todos os condimentos para Aldeia do Bispo ser a capital do Carnaval. A folia é a palavra de ordem.
Eufóricos com toda esta lufa-lufa, andam os dois únicos toureiros profissionais que a raia criou e ainda vivos. Estou naturalmente a referir-me ao Fernando Gregório, picador de touros e ao matador Zé Carlos «Gravatas», ambos naturais de Aldeia do Bispo, duas figuras consagradas do toureio a pé, com traje de luces, que quais D. Quixote e Sancho Pança, têm mais medo dos touros do que quem escreve estas linhas, que nunca teve a coragem de entrar numa arena.
Bons Carnavais!
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«Páginas Interiores», opinião de José Robalo
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