Para os romanos os olhos verdes da deusa Minerva eram símbolo da inteligência. «Por beber muito azeite», diziam. No lagar mecânico da Bendada «apenas se utilizam azeitonas inteiras, sãs e maduras» respeitando técnicas dos nossos avós. O azeite e a folha da oliveira estão presentes, desde sempre, na história da Humanidade. Falta cumprir-se a história nas terras quentes do Sabugal…
Minerva era a deusa romana da inteligência e da sabedoria e presidia à actividade intelectual, sendo que na mitologia grega, tinha como correspondente a deusa Atenas, que como é sabido na guerra de Tróia protegeu os aqueus Ulisses e Aquiles e era «a deusa dos olhos garços».
Atenas nunca perdoou a Páris irmão de Heitor, o facto de este lhe ter negado o prémio de beleza. Os deuses eram como se vê muito vingativos. A planta preferida de Atenas era a oliveira. Por seu lado, os olhos da deusa Minerva, símbolo da inteligência, eram verdes, dizia-se por beber muito azeite. Consta-se que o leito onde o divino Ulisses reconciliava o seu sono, era feito do tronco de uma oliveira; na Bíblia o azeite é citado mais de duzentas vezes, quer no uso litúrgico, quer medicinal. No Alcorão é explícita a ligação entre a luz do azeite e a luz que irradia de Alá.
Após o dilúvio Noé soltou uma pomba, que regressou à Arca, trazendo no bico uma folha verde de oliveira, sinal divino de que as águas tinham baixado, o que comprova à saciedade a importância desta planta no mundo ocidental.
Ainda hoje o ramo da oliveira nas nossas terras serve para nos proteger das trovoadas, depois de devidamente benzido no Domingo de Ramos.
Esta é ainda uma crença muito arreigada no espírito das nossas gentes.
As novas tendências da cozinha e que fazem moda, conquistando Nova Iorque e Tóquio assentam no azeite como um produto de excelência. Os países mediterrânicos conseguiram impor-se aos nossos amigos americanos que soçobraram com os óleos de girassol, pelas consequências perniciosas para a nossa saúde.
A oliveira é uma planta que se adapta muito bem à parte sul do concelho do Sabugal, aquela a que designo por terra quente e que compreende o território e termos das freguesias de Santo Estêvão, Moita, Casteleiro, Sortelha e Bendada. Estas freguesias que por si ocupam um vasto território produzem um azeite de eleição, utilizando essencialmente três variedades de azeitona a saber: galega, cordovil e carrasquenha.
Na Bendada laboram na actualidade três lagares de azeite, absorvendo matéria-prima das aldeias limítrofes, algumas delas já pertencentes aos concelhos de Penamacor, Belmonte e Fundão
A época normal de laboração de um lagar compreende os meses de Novembro, Dezembro e Janeiro. Para a produção de um azeite de qualidade, torna-se necessário bom clima, solo e uma boa adaptação da planta às condições do terroir, sendo que a azeitona deve ser de qualidade e entrar no lagar em boas condições fitossanitárias. A este propósito refere-nos António Januário Vicente, que «é cada vez mais comum a produção de azeite biológico, uma vez que os olivicultores têm cada vez mais consciência da importância da não utilização de pesticidas».
Proprietário de um lagar mecânico na Bendada, António Januário Vicente acrescentou: «O nosso lagar utiliza as técnicas dos nossos avós, com total respeito pela qualidade e estado sanitário da azeitona. Aqui apenas se utilizam azeitonas inteiras, sãs e maduras, sujeitas a processos mecânicos, respeitando integralmente o produto que entra no lagar.»
O azeite é por si um produto de qualidade aos olhos do consumidor tendo estas terras condições para o produzir em qualidade e quantidade, rentabilizando esta actividade, profissionalizando-a. Os olivicultores têm que se organizar, com certificação do produto e garantias de escoamento, o que aparentemente não se nos afigura difícil.
Na Bendada e na sequência do nosso último artigo, fomos ainda encontrar o Presidente de Junta, Adérito Alves Pinto, que a propósito da produção do azeite nos refere «seria muito importante que alguma entidade nos ajudasse a relançar esta actividade económica, fulcral para o pequeno produtor.»
Finalmente, quando o questionámos acerca das principais necessidades da sua freguesia, foi peremptório: «O projecto do parque de lazer já deveria estar no terreno, com um polidesportivo e pavilhão multiusos.» Por outro lado, o autarca não compreende «o atraso na implementação da secção de Bombeiros, uma vez que a aposta também é na protecção do meio ambiente e da Natureza. Não posso aceitar tanta desculpa e tanta inércia».
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«Páginas Interiores», opinião de José Robalo
Dr. Robalo:
Parabéns pelo mérito, a erudução e a garra com que defende e honra a raia -“ARRAIANA” – sabugalense.
Obrigado por existir! O colega é um digno representante do espírito arraiano e um ilustre causídico.
Sempre agradecido, pelo precioso tempo que despende autruisticamente em prol na Região ARRAIANA, à qual nunca deixa de emprestar a sua inteligência e erudição.
Bem Haja!
PS:
espero encontrá-lo na festa do BUCHO ARRAIANO, dia 3 de Fevereiro em Aldeia do Bispo.